A gravidade do cenário na Unicamp
Quinta-feira, 26 de Setembro de 2019
Correio Popular
O Conselho Universitário (Consu) da Unicamp aprovou na última terça-feira, 24, a convocação da comunidade acadêmica para uma assembleia extraordinária, a ser realizada no dia 15 de outubro, no Ciclo Básico do campus de Campinas. A razão da assembleia é trazer a público uma série de ações do governo central que se caracterizam em bloqueios de verbas de pesquisa e de bolsas de estudo, que a universidade julga imprescindíveis para sua autonomia e seu bom funcionamento. Desde o início do ano, as agências federais de fomento e apoio à pós-graduação vinham sofrendo cortes significativos em recursos pontuais, e que em muito comprometem o trabalho de pesquisa de cientistas da Unicamp e o futuro acadêmico de milhares de universitários que dependem de bolsas de estudo.
O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, declarou recentemente (Correio Popular, 5/7/2019) que os cortes programados pelo governo Bolsonaro podem gerar sérias conseqüências e apontam para um projeto sistemático de desmonte do Ensino Superior público, da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) já contabilizou neste ano um déficit de R$ 330 milhões e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) declarou também déficit de R$ 800 milhões, situação agravada pela ausência de recursos à Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) que serviriam para honrar compromissos firmados.
É a primeira convocação de uma assembleia extraordinária na Unicamp desde sua fundação, em 1966, portanto passados 53 anos, o que dá a dimensão exata da extrema gravidade dos riscos futuros que se vislumbra para a vida acadêmica e foi decidida após a criação de um grupo de trabalho para discussão de medidas emer-genciais de apoio aos pós-graduandos atingidos pelas medidas de contingenciamento.
Enquanto a universidade busca internamente paliativos para vários dos problemas provocados pela nova realidade, a extensão dos debates para fora dos muros da instituição se torna saudável e necessária, o que se deve esperar com as reverberações da assembleia. A Unicamp é considerada uma das melhores universidades da América Latina e um orgulho para os cidadãos campineiros. Não seria natural nem compreensível se a sociedade como um todo ficasse alheia a essa empreitada e deixasse de comprar essa briga como se fosse sua.