O Conselho Universitário (Consu) da Unicamp, órgão máximo de deliberação da universidade, aprovou em 24 de setembro a convocação da comunidade acadêmica para uma assembleia universitária extraordinária a ser realizada no dia 15 de outubro, das 12 às 14 horas, no Ciclo Básico do campus de Campinas. O objetivo é votar uma moção e conscientizar a sociedade contra a série de ataques sofridos pelas universidades e institutos de pesquisa, caracterizados principalmente pelos cortes de bolsas e ameaças à autonomia universitária.
É a primeira vez em 53 anos de história que a Unicamp convoca uma assembleia universitária extraordinária. A última vez que a comunidade promoveu um ato dessas proporções foi em 1981, para protestar contra a intervenção do governador Paulo Maluf no campus, ainda durante o regime militar. A tentativa do governo estadual de intervir na administração da universidade gerou uma onda de protestos que culminou com um grande encontro no Ciclo Básico. Pressionados, os interventores acabaram renunciando aos cargos.
“Dessa vez a ideia é mostrar a força e a união de toda a comunidade acadêmica em torno de uma causa comum”, disse o reitor Marcelo Knobel. “Precisamos reunir todas as entidades representativas da universidade para nos posicionarmos contra os ataques que estamos sofrendo e chamar a sociedade em defesa da ciência, da educação e da autonomia universitária no país”, completou.
Desde o primeiro semestre, as principais agências federais de fomento e apoio à pós-graduação sofreram drástica redução nos recursos destinados ao financiamento de bolsas e demais auxílios à pesquisa, essenciais para milhares de estudantes brasileiros e para a sustentabilidade do sistema nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) registrou este ano um déficit de R$ 330 milhões, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de R$ 800 milhões, e a Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) está paralisada pela falta de recursos necessários para honrar compromissos assumidos.
Atualmente, CNPq e Capes aportam cerca de R$ 12 milhões mensais para financiamento de bolsas a 5 mil estudantes de pós-graduação na Unicamp. “No curto prazo, o eventual corte desses recursos trará prejuízos incalculáveis para estudantes e, no médio prazo, para o país como um todo”, pondera o reitor. “Nenhum país em crise financeira corta recursos em educação e ciência, ao contrário, são essas áreas que permitem a recuperação e o desenvolvimento econômico”.
A proposta de promover uma assembleia universitária extraordinária começou a tomar corpo na reitoria a partir de uma iniciativa dos estudantes de graduação e pós-graduação, por meio de diversos centros acadêmicos, Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da Associação de Pós-Graduação (APG), que em agosto protocolaram um documento pedindo a realização de uma assembleia extraordinária para discutir os ataques sofridos pelas universidades.
Após a aprovação da assembleia pelo Consu, a reitoria formou um grupo de trabalho com representantes da comunidade universitária para organizar o ato. O texto da moção a ser apresentada durante a assembleia também será elaborado a partir da colaboração dos participantes do GT. A convocação de assembleia universitária extraordinária está prevista no artigo 163 do estatuto da Unicamp.