Com a edição de 2019, o Festival Estudantil do Instituto de Artes (FEIA) completa 20 anos de existência. O resgate histórico, além de uma programação mais inclusiva e diversa, marca o vigésimo FEIA, denominado FEIAvinte. Oficinas, espetáculos de dança, teatro e música seguem ocorrendo até domingo (13), não só na Unicamp, mas também em praças públicas e pontos culturais de Campinas, fomentando o acesso à arte para além do espaço universitário.
“Nós temos entendido a necessidade de expandir cada vez mais, a universidade é um espaço de conhecimento, então isso prevê a diversidade. E, para ter uma maior diversidade, a gente precisa dialogar com a comunidade não acadêmica também”, afirma Júlia Vilar, uma das organizadoras do evento e estudante do curso de Artes Cênicas.
Por isso, ela explica que há um movimento “de fora para dentro e de dentro para fora” na programação. Artistas acadêmicos apresentam suas produções fora do espaço universitário e produções de artistas não-acadêmicos acontecem na Unicamp, democratizado o acesso à arte, circulando e cruzando os saberes.
Inclusão e diversidade
Para Júlia, ao longo das duas décadas de festival, novas demandas foram surgindo. Isso fez com que o FEIA tivesse, nesse ano, exposições e perfomances mais inclusivas. Recurso de audiodescrição, tradução simultânea em libras e exposições táteis foram disponibilizados em parte da programação. A curadoria também buscou abarcar temáticas que dialogam com reivindicações históricas da sociedade, consolidando uma programação alinhada a reflexões políticas e a diversos vieses de pautas identitárias.
O aluno de Ciências Sociais da Unicamp, Bruno Rodrigues da Silva, participou de uma das oficinas do FEIA e afirma que a experiência foi importante por ter lidado com processos de cura relacionados à sobrevivência de corpos racializados e não-cisgêneros. “Arte é isso, precisa estar voltada para a população, essa troca que existe é muito legal e o FEIA é uma grande oportunidade”, afirma.
Resgate
A organização do FEIA é integralmente realizada por estudantes e acontece de forma rotativa. Neste ano, encabeçam a edição cerca de 50 pessoas, de todos os cursos do IA, sob a coordenação geral de Carolina Gasquez, aluna do curso de Dança. Carolina salienta que a vigésima edição do FEIA tem como propósito ser uma espécie de retomada. Apesar do festival ter acontecido de forma ininterrupta em todos os vinte anos, explica a coordenadora, o contexto recente de desinvestimento na educação e os questionamentos quanto ao papel da arte são fatores externos que vinham desmobilizando os discentes. “Nos últimos dois anos rolou uma baixa muito grande e nesse ano a gente resolveu fazer um marco de começar de novo”, comenta, ressaltando que o FEIAvinte tem a missão de reavivar o potencial da arte, enaltecendo-a como um “instrumento de mudança social e de engajamento”.
Para dar mais força e também retomar a memória histórica do Festival, foram trazidos para a programação ex-alunos que haviam participado de outras edições do FEIA. Um desses ex-estudantes é Felipe Macedo, que hoje compõe o Duo Mangabeira junto a Stephen Bolis. Felipe compôs a organização da edição de 2014 do FEIA e ressalta que o evento é uma grande oportunidade no âmbito da formação, oportunizando aos alunos o aprendizado prático em produção cultural. Além disso, ele observa que é um momento de mostrar à sociedade as produções de alto nível artístico que são realizadas em uma instituição pública de ensino. “O FEIA é fundamental para a gente trazer aos olhos a população a importância da instituição pública como mediadora de tudo isso”, afirma.
A primeira edição
Nos anos 2000, acontecia a primeira edição do FEIA, também em outubro. AnaCris Medina, que fez parte da criação do evento, conta como surgiu a iniciativa. “A ideia inicial do festival era criar um evento de troca do Instituto de Artes, do público geral da universidade e da cidade de Campinas. Todos os cursos tinham uma produção de trabalhos grande, que acabava sendo compartilhada prioritariamente dentro do IA e para os próprios colegas de curso”.
Ela rememora que a criação de um festival partiu do Centro Acadêmico do IA (CAIA) com três preocupações centrais: impulsionar a interdisciplinaridade, chamar a população em geral para dentro do campus e propiciar espaços de formação para os estudantes. “Com isso em mente, criamos uma programação com apresentações de todas as áreas, exposições, oficinas, palestras. Havia uma estrutura mínima oferecida pelo CAIA e fomos atrás de apoios e patrocínios para viabilizar pagamentos de cachês, transporte, alimentação, locação de materiais, material de divulgação”.
A criação do festival único, unindo iniciativas isoladas, é lembrada como um dos grandes êxitos do FEIA para Ana Caldas Lewinsohn, também estudante na época. Ana apresentou-se durante o primeiro festival e comemora o fato do FEIA ter se consolidado como um evento plural, mesmo em um contexto de ataques a produções artísticas e de cerceamento a órgãos de fomento cultural. “Quando mais se tenta censurar as artes, quanto mais tentam inviabilizar as artes com cortes de verbas, ou enviesar as produções, isso mais nos fortalece do que nos aniquila, faz a gente ficar mais forte e lutar com ainda mais veemência pela nossa existência e por nossa importância no contexto social, no contexto humano”, analisa.