Mais de 8 mil pessoas, entre estudantes, professores e funcionários, além de representantes de entidades da educação, ciência e tecnologia brasileira, estiveram reunidos na tarde desta terça-feira (15) na assembleia universitária extraordinária da Unicamp. A estimativa é da equipe de segurança do campus. O ato histórico foi realizado no Ciclo Básico 1 do campus e contou com pronunciamentos e manifestações em apoio às universidades públicas e contra os ataques que a educação vem sofrendo no país, performances artísticas e aprovação de uma moção que será divulgada à sociedade brasileira.
Antes do início dos trabalhos, o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, deixou claro que o objetivo da assembleia não foi o de fazer ataques a partidos ou esferas governamentais específicas, mas sim reiterar a importância das universidades públicas e alertar para os riscos dos ataques e cortes orçamentários recentes. "Somos uma universidade estadual, então não há cortes do governo do Estado, os repasses estão corretos. Mas certamente nós dependemos muito das bolsas da CAPES, que é do Ministério da Educação, do CNPq, que é do Ministério de Ciência e Tecnologia, e esses cortes anunciados nas bolsas impactam e muito as pesquisas dos nossos estudantes, pesquisas realizadas aqui na Unicamp e em todo o país", explicou o reitor à imprensa no local.
A manifestação do reitor foi repetida durante seu pronunciamento na abertura da assembleia. Marcelo Knobel afirmou que os países desenvolvidos do mundo dispõem de boas universidades e que a pesquisa e o ensino realizado nelas é apoiado e financiado pelo Estado. Ele também ressaltou que as universidades são espaços de diversidade, onde grandes questões do mundo são discutidas e que, por isso, ameaças a elas não podem ser toleradas. "É inaceitável que as universidades públicas brasileiras sejam vítimas de pressões de qualquer sorte, financeiras, sociais ou ideológicas, que as impeçam de desempenhar suas atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma livre e autônoma. A sociedade brasileira precisa ser alertada para o perigo que tais ataques representam para o futuro do país", defendeu Knobel.
A primeira parte da assembleia seguiu com pronunciamentos de representantes dos estudantes da graduação, pós-graduação, funcionários e docentes da universidade. Nas falas, a defesa de que todas as entidades estejam unidas e superem suas diferenças na defesa da universidade; o orgulho de ser e de formar professores, ressaltando a contribuição da Unicamp também para a educação básica e parabenizando a todos pelo dia dos professores; o apoio às demais universidades estaduais de São Paulo, que desempenham um importante papel na produção intelectual do país e o reforço da ideia de que a defesa da autonomia universitária é também uma defesa da democracia.
Representante dos professores eméritos da universidade, Carlos Vogt lembrou a experiência vivida na última assembleia universitária ocorrida na Unicamp, em 1981. Na ocasião, a comunidade resistiu contra as tentativas de intervenção realizadas pelo governo estadual da época. Ele lembrou que o prédio do Ciclo Básico foi pensado como uma ágora da universidade, comparando o local aos espaços das antigas cidades gregas onde se discutiam as questões sociais, objetivo que se concretiza com eventos como a assembleia. "Esse é um momento em que temos de estar unidos, juntos, é um momento em que as diferenças, a diversidade, as manifestações de objetivos próprios estão orientadas, do ponto de vista da nossa ação, para um objetivo comum, que é resistir a eles, dizer não a eles, colocar a universidade na situação em que ela sempre esteve, de exercício da inteligência, do exercício acadêmico, da produção intelectual, da produção de interesse social, de luta e de bastião fundamental da democracia", reforçou Carlos Vogt.
Durante a assembleia, houve espaço também para a valorização da diversidade na Unicamp. Além da manifestação de grupos e movimentos estudantis da universidade que representam as causas negra, indígena e feminista, a Diretoria Executiva de Direitos Humano (DEDH) apresentou uma performance artística. Ao som de tambores e de mãos unidas, eles cantaram "ninguém solta a mão de ninguém", frase que vem sendo utilizada por movimentos sociais em protestos a favor dos direitos humanos.
A leitura e votação da moção em defesa da ciência, educação e autonomia universitária foi o ponto alto da assembleia. O texto foi escrito em conjunto com as associações representativas dos diversos grupos da Unicamp e lido pela aluna do curso de Midialogia, Bárbara Daniel. A moção foi aprovada sob aplausos e manifestações de apoio e será divulgado como posicionamento oficial da universidade. Clique aqui para ler o texto na íntegra.
No segundo momento, houve o pronunciamento de entidades externas convidadas: União Estadual de Estudantes de São Paulo (UEE), União Nacional do Estudantes (UNE), Prefeitura de Campinas, Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Todos ressaltaram a importância de ações como a da Unicamp serem seguidas por outras universidades. O presidente da SBPC, Ildeu Moreira, lembrou ainda a recente mobilização das entidades contra as propostas de fusão da CAPES e do CNPq e de transferência FNDCT para o Ministério da Economia e do FINEP para o BNDES.
Ao final na assembleia, alunos, professores e funcionários tiveram acesso ao microfone por meio de sorteio. Eles também defenderam a importância da universidade para a solução de grandes questões sociais, como a preservação da Amazônia, e fizeram a defesa de outros espaços da Unicamp, como os colégios técnicos COTUCA e COTIL.
Para Marcelo Knobel, o ato cumpriu seu objetivo em envolver diferentes membros da comunidade universitária e expor a necessidade de se defender a educação, a ciência e a tecnologia. "Acredito que o movimento de hoje pode começar movimentos em outras universidades, em outros locais, alertar a sociedade. Aqui nós estamos com o objetivo cumprido, toda a comunidade unida em torno de um objetivo comum", celebrou o reitor.
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