O corte de orçamento para a educação pública, com sucateamento de órgãos vitais ao desenvolvimento da ciência brasileira, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), são motivos pelos quais a comunidade acadêmica da Unicamp tem lutado, em especial no dia de hoje, data da primeira assembleia universitária desde a tentativa de intervenção do governo Paulo Maluf, na década de 1980.
Segmentos estudantis e de trabalhadores da Universidade reforçaram também a luta pela manutenção da autonomia universitária, já atacada em nível federal através do projeto “Future-se” e através da intervenção na consulta democrática para as reitorias e em xeque em São Paulo por intermédio da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das universidades paulistas. Diversas vozes da comunidade universitária, diante desse contexto, protestam pela manutenção dos pilares básicos da educação pública.
“O governo vem cortando recursos e nós enxergamos isso como um corte à nossa voz dentro da sociedade. Se você corta a voz da universidade, você tem uma sociedade muito mais amordaçada e sem um pensamento livre. Nós travamos essa luta contra os cortes do governo porque entendemos que temos um papel fundamental dentro da sociedade”, pontua a diretora do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU) Gabriela Diniz. Para Gabriela, que é funcionária da área da saúde no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), é fundamental a participação de todos para que a universidade se mantenha com recursos para cumprir o seu papel na sociedade, de formação acadêmica e social.
O presidente da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp), Wagner Romão, ressalta que os ataques à educação são generalizados e destaca o papel da comunidade da Unicamp na resistência. “É um contexto de muitos ataques, não só à universidade pública, mas à educação e à ciência de maneira geral. A Unicamp, como universidade protagonista na produção de ciência, na pós-graduação e na educação de qualidade pública gratuita e socialmente referenciada, tem um papel muito importante”, afirma. Wagner, docente do Departamento de Ciência Política, também pontua que é preciso manter atenção aos possíveis ataques à autonomia, que podem ser consolidados no relatório final da CPI das universidades paulistas. Para ele, a autonomia, prevista constitucionalmente, é “o grande elemento que tornou possível a USP, a Unesp e a Unicamp serem universidades de ponta como são hoje” e precisa ser defendida.
Os segmentos estudantis, dos quais surgiu a proposta de uma assembleia, reforçam a necessidade de avançar na luta. “Queremos mandar uma mensagem, tanto para o governo estadual como federal, de que a gente está discutindo, a gente está produzindo conhecimento e queremos mostrar o que está sendo produzido na Unicamp”, diz Matheus Albino, membro da Associação de Pós-Graduandos (APG) da Unicamp. Para ele, é preciso responder a uma campanha de constrangimento às universidades, que vem sendo realizada tanto em nível estadual quanto federal.
Patricia Kawaguchi, também representante da APG, destaca o contexto de mobilização entre os estudantes da pós. “A pós-graduação está muito mobilizada porque os ataques, especificamente, estão sendo muito fortes, com as ameaças de corte de bolsas, a fusão do CNPQ com a Capes, o corte de investimentos”, explica.
No contexto da graduação, os membros do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Unicamp, Aline Schmidt e Lucas Marques, ressaltam a importância da unidade da comunidade na assembleia e afirmam que ela é um momento histórico. “Bolsonaro e Dória vêm numa acelerada de destruição das universidades estaduais e das federais, trazendo um desmonte claro dos polos de resistência ao projeto autoritário de um governo anti-liberdade, anti-razão e anticiência”, pontua Aline, ressaltando também que a destruição das universidades traz como consequência a perda de soberania nacional, já que as universidades públicas são as principais responsáveis pela produção científica e acadêmica no país.
Os estudantes também reforçam a preocupação com a manutenção e o avanço das condições de permanência estudantil na Universidade, como a ampliação da moradia estudantil, e se colocam contrários à cobrança de cursos na Unicamp. “A cobrança na pós-graduação lato sensu, por exemplo, ameaça o pilar da gratuidade. Se a gente não preza por defender alguns elementos que são muito essenciais, as coisas se perdem de vista”, diz Lucas.
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