A China já é o maior parceiro comercial do Brasil e as possibilidades de acordos e investimentos só irão aumentar nos próximos anos. Para aproveitar as oportunidades que estão por vir será preciso aprofundar o entendimento sobre a complexa estrutura da economia chinesa. “É uma estrutura muito diferente da que estamos acostumados em operações com a Europa ou Estados Unidos”, explica o professor Celio Hiratuka, do Grupo de Estudos Brasil-China, sediado na Unicamp.
O grupo promoveu uma série de discussões nesse sentido, no 2º Encontro da Rede Brasileira de Pesquisas da China e no 3º Seminário Pesquisar a China Contemporânea, eventos simultâneos realizados entre 16 e 18 de outubro no auditório do Instituto de Economia (IE), da Unicamp.
“Quando uma empresa chinesa investe ou negocia com o Brasil nunca está desconectada de uma estratégia mais geral do Governo e não apenas do central, mas também dos governos estaduais e das províncias. Existe uma articulação público/privado que é muito diferente. O principal aspecto do seminário é este. Para aproveitar as oportunidades e mitigar riscos você precisa conhecer muito bem a experiência chinesa”, detalha Hiratuka.
Segundo o professor, as áreas mais promissoras para cooperação e investimentos são Ciência e Tecnologia e infraestrutura. “Todos no Brasil usam celulares, por exemplo. Em geral não são marcas chinesas. O que nem todos sabem é que grande parte da infraestrutura da rede para a operação da tecnologia, como estações rádio base e antenas que transmitem o sinal, já são de empresas chinesas que estão na briga pela liderança para instalação de infraestrutura 5G”.
Outra possibilidade de investimento é a de infraestrutura em transporte. O docente observa que o Brasil tem um grande déficit em relação a muitos países e que a China se destaca, tendo construído, em pouquíssimo tempo, a maior rede de trens rápidos do mundo e redes invejáveis de metrô e transporte urbano. “Existem bancos de financiamento público dispostos a fazer investimentos no exterior, se houver uma articulação bem feita da parte do Brasil”, complementa.
A Rede Brasileira de Pesquisas da China foi formada em 2018 com o desafio de procurar entender a ascensão chinesa e seus impactos na economia global. O seminário foi uma iniciativa dos alunos pesquisadores do tema. Mariana Barbieri, doutoranda em Ambiente e Sociedade na Unicamp, destaca o aumento de interessados no tema. “Na primeira edição do seminário tivemos 15 participantes. Hoje são mais de 25 instituições do Brasil representadas”. Ela afirma ainda que vários temas foram debatidos, inclusive as humanidades. “O Brasil precisa entender como China está se inserindo nas relações mundiais nas diversas áreas do conhecimento”.