Da derrubada de árvores, da poda de plantas e de outras situações em que caules são descartados, a artista Leani Inês Ruschel recolhe os elementos que são a base de sua arte. O resultado dessa ressignificação de materiais da natureza deu origem à exposição “Troncos, raízes e cipós: uma narrativa da floresta”, instalada até o dia 31 de outubro na Sala de Apoio do Auditório da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp.
São mais de 20 obras, cuja matéria-prima é utilizada para suscitar um olhar tanto sobre os processos de modificação próprios da natureza, sob a ação de insetos, como aqueles causados pelo homem, sob a ação de incêndios, por exemplo. “Cada uma tem o seu significado e cada olhar vê sob a sua ótica alguma coisa. Isso é fascinante”, observa Leani.
Os materiais são coletados em beiras de estrada, nas ruas e em locais inusitados, como na churrasqueira de amigos, de onde Leani diz que salvou um pedaço de madeira, já chamuscada, de virar cinza. “O churrasco leva muita coisa boa”, brinca. Da fazenda de conhecidos, ela também já retirou troncos sobreviventes de queimadas. “Geralmente colocam fogo para ajudar na limpeza do terreno para plantar, mas às vezes é um fogo muito prejudicial e pega tudo que está pela frente”, explica.
Educação e arte
A artista conta que sempre buscou unir a educação à arte no seu trabalho como professora, que incluiu a alfabetização de adultos, em zonas periféricas de Campinas e em penitenciárias. Há cerca de 20 anos, ao conhecer o trabalho do artista polonês Frans Krajcberg, veio uma das inspirações para realizar arte com a natureza.
“Quando me aposentei, conheci algumas coisas do Krajberg, que é fascinante, principalmente porque tem uma relação com a natureza, com a destruição e com tudo que está acontecendo agora. Ele foi um grande ativista dessa questão, além da irmã Dorothy, Chico Mendes e tantos que diariamente estão sendo massacrados”, afirma Leani, que fez mestrado na Unicamp e hoje segue frequentando o campus através do programa UniversIDADE.
Dessa forma, ao mesmo tempo que deseja que suas obras sejam admiradas pela beleza, ela aponta que se sente satisfeita quando provocam uma reflexão. "Se fosse só pelo belo, não faria. A minha vida sempre foi trabalhar por uma sociedade mais justa, por educação de qualidade para todos. A gente está vivendo muita coisa muito ruim atualmente. O belo é interessante, é bom que as pessoas admirem, mas tem depoimentos de pessoas que dizem ‘depois que eu vi a sua exposição eu nunca mais olhei a natureza do mesmo jeito'. Chegar a isso é maravilhoso".