O coletivo de bordadeiras formado nas oficinas de Vânia Furlan no Programa UniversIDADE tem duas obras expostas na II Bienal Internacional de Arte Naif, que aconteceu no Museu Municipal da cidade de Socorro, na primeira quinzena do mês. Selecionados entre trabalhos de artistas brasileiros consagrados e expoentes internacionais, os painéis “Bordar projetos e reciclar conceitos: eu bordo, tu bordas, nos somos alegres” e “Travesseirinho dos bons sonhos: o sonho que eu quero bordar e realizar” ganharam lugar de destaque, como as duas únicas obras coletivas da edição. A BiNaif é uma iniciativa do Instituto Totem Cultural e do Projeto Coração, comandados pelas artistas Marinilda Boulay e Rosângela Politano.
Nesta edição, a BiNaif teve mais de 200 obras entre pinturas, esculturas, xilogravuras e bordados. “Temos uma grande diversidade de obras de artistas de todo país, que dão um Panorama da arte Naif no Brasil de hoje. Além disso, a BiNaif traz artistas europeus, africanos e de outros países da América Latina”, contou Marinilda Boulay.
De acordo com a organizadora, as obras foram selecionadas pelo comitê artístico da Bienal, formado, nesta edição, por Antônio Naves, Romildo Santana e Valdeck de Garanhuns. “É nesse contexto que os painéis coletivos do Programa UniversIDADE foram escolhidos”, ressaltou.
Rosangela Politano destacou a importância da BiNaif para a consolidação do movimento de Arte Naif no Brail. “Até 2012, a Bienal produzida pelo Sesc era o único espaço que tínhamos como artista naif. Começou então, aqui na cidade de Socorro, um movimento muito importante em torno da Arte Naif, com o Projeto Coração. Foram exposições, mostra e oficinas, onde conseguimos valorizar muitos artistas”, relatou. Para ela, mostra é um retrato deste fortalecimento. “Essa segunda edição da Bienal chega num momento muito importante da estética Naif. Os artistas brasileiros se movimentaram, se uniram, se fortaleceram. Traçamos o nosso futuro”, apontou.
Coletivo de Bordadeiras do Programa UniversIDADE no Museu de Socorro
Como parte da programação artística da BiNaif, as bordadeiras da Unicamp estiveram na terça-feira, dia 8 de outubro, no Museu de Socorro, promovendo a oficina “Bordando Flores e Colhendo Afetos”. Além das curadoras da Bienal, o evento contou com a presença da rainha da Congada, Vânia Cardoso, e de diversas bordadeiras da cidade.
“Eu jamais imaginei que pudesse participar de uma exposição internacional. Jamais. Vânia nos inscreveu e fomos selecionadas. É muito orgulho muita satisfação”, afirmou Pel, uma das bordadeiras do grupo.
O primeiro painel foi composto por lâminas trabalhadas individualmente sob a temática do que a Unicamp representava para cada bordadeira. Com trajetórias diversas na Universidade, que se estendem muitas vezes da graduação à aposentadoria, ou além, continuada pelos filhos, os bordados formam um mosaico com as diversas faces da instituição. “Era a forma demonstrar a nossa gratidão pelo Programa. A Universidade nos acolhe, nos abraça. Através do bordado, procuramos expressar esse abraço”, relatou Vânia.
O outro painel trouxe lâminas e travesseirinhos, onde as bordadeiras expressaram seus sonhos, reflexões e sua luta para realizá-los. “Nossos mais fundos desejos colocamos no nosso travesseiro. Mas não adianta apenas sonhar. Temos que arregaçar as mangas e ir à luta, batalhar pelos nossos sonhos”, explicou Vânia.
Arte do Bordado Livre
Através do bordado livre, Vânia exercita em suas oficinas não apenas pontos, mas a reflexão e a troca entre as bordadeiras. “Na verdade, a aula da Vânia é uma vivência. A gente conversa muito. Ela nos inspira. Colocamos as coisas para fora e elas saem através dos pontos estampados nas lâminas de bordado”, contou Célia Caliento Barone, funcionária aposentada da Unicamp.
Para Vânia, bordar é em si um exercício de reflexão. “O exercício do bordar é muito significativo. Nele, você tem que transpassar o tecido para fazer o ponto, ir lá atrás e trazer de volta. Mesmo que o ponto seja superficial, ele precisa de um ponto que o prenda no tecido. Para mim, esse movimento é simbólico. É um exercício que nos possibilita rever alguns conceitos e movimentos nessa vida”, explica Vânia.
Outra presença fundamental no grupo é a de Roberto Furlan, marido de Vânia. “Dizemos que ele é o nosso marido'’, brincam as bordadeiras. JR Furlan também é funcionário aposentado da Unicamp. Ele não apenas ajuda na logística e infraestrutura das oficinas, como entrou de cabeça no bordado. “Desde 2014, acompanho minha esposa, nas atividades de bordados, para fazer os registros fotográficos. Fui vivenciando o desenvolvimento das alunas nos pontos e pegando gosto pelo bordado livre. Incentivado por ela, me permiti sair da condição de observador para a debordador”, contou. Para coroar a experiência, JR Furlan também foi selecionado para a II BiNaif, com seu boradado Girassol Mutante, e teve seu trabalho exposto ao lado dos painéis do UniversIDADE.
O Programa UniversIDADE, criado em 2015, tem como público alvo a comunidade interna e externa da Unicamp nos estágios pré-aposentadoria, aposentadoria e pós-aposentadoria. Por meio do oferecimento de atividades interdisciplinares que contemplam a prevenção, estimulação e capacitação do desenvolvimento físico e emocional, o programa visa a longevidade e a qualidade de vida.
Homenagens e destaques da II BiNaif
A BiNaif este ano homenageou os artistas Tânia de Maia Pedrosa e Henry Vitor, cujas obras puderam ser apreciadas no Museu e em algumas outras “vitrines” pela cidade. Outro destaque desta edição é a Literatura de Cordel, que ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2018, pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para prestar homenagem especial a esse gênero literário, a BiNaif trouxe xilogravuras de J. Borges (PE), Sebastião Valente (SP) e Regina Drozina (PR), além das obras Marinilda Boulay e Rosângela Politano, especialmente criadas para mostra. Entre os artistas internacionais, destacouse Assane Gning, de Dakar, no Senegal, que passou um ano em uma residência artística na cidade.