Foi lançado na última sexta-feira (25), no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), o primeiro curta-metragem de animação do projeto Animafísica. Com nove minutos de duração e uma trilha sonora contagiante, "Quarks e Léptons" traduz de forma simples e divertida uma questão fundamental para a compreensão do mundo: "do que são feitas as coisas?" O lançamento contou com a presença dos estudantes, pesquisadores e profissionais envolvidos na produção do filme, além do diretor do IFGW, Pasqual José Pagliuso, e do diretor científico da Fapesp e professor do Instituto de Física, Carlos Henrique de Brito Cruz.
A animação conta a história de Mari, uma adolescente esperta e descolada que deseja ir ao show de sua banda de rock favorita, a Raio Cósmico. Mas para conseguir que seu pai compre os ingressos, ela precisa descobrir o que existe dentro de um baú. A partir desse desafio, Mari e o público aprendem lições importantes sobre as partículas elementares que foram todas as coisas, os quarks e os léptons. Ao longo do vídeo, links para outros vídeos e materiais complementam os conteúdos exibidos no curta. No total, 11 vídeos apresentados pelos alunos do curso de Física do IFGW e membros do projeto Animafísica explicam como o conhecimento da Física de Partículas evoluiu, quais são essas partículas, para que serve um acelerador, entre outras curiosidades.
A produção de "Quarks e Léptons" faz parte das ações previstas pelo Projeto Temático da Fapesp "Desafios para o Século XXI em Física e Astrofísica de Neutrinos", que tem a coordenação de Marcelo Guzzo, roteiro e direção de Maurício Squarisi, do Núcleo de Cinema de Animação de Campinas.
Missão de atualizar o ensino de Física
A meta principal do projeto temático "Desafios para o Século XXI em Física e Astrofísica de Neutrinos" é tornar a ciência mais acessível a públicos diversos, principalmente alunos dos ensinos fundamental e médio. Durante o lançamento, Carlos Henrique Brito Cruz avaliou que seria importante que outros projetos tivessem o mesmo resultado obtido pelo Animafísica.
"Muitas organizações no Brasil se dedicam a fazer comunicação (científica), mas eu tenho a impressão que esse esforço será mais bem sucedido se ele for mais capilarizado, exatamente como o Marcelo (Guzzo) está fazendo aqui. A Fapesp tem cerca de 400 projetos temáticos funcionando. Se cada um tivesse uma iniciativa dessas, nós teríamos 400 resultados como esse no Estado de São Paulo. O problema é que não têm, a maioria fica apenas na ciência, que é ótima. Mas esquece que estamos em uma hora em que a gente precisa contar um pouco sobre os resultados", comentou Brito Cruz, que classifica a animação como uma iniciativa exemplar.
Porém, a contribuição do projeto não se restringe à divulgação científica. De acordo com Marcelo Guzzo, os vídeos do Animafísica também podem servir de apoio a alunos e professores da educação básica para atualizar o ensino de Física. Ele explica que o currículo atual das escolas prevê o ensino de um modelo atômico formulado no início do século XX, já superado por conteúdos mais atuais. "Hoje a gente tem a Base Nacional Curricular Comum, que é muito recente, e é um currículo comum a todas as escolas do Brasil e é o mínimo que você tem que lecionar. Essa base prevê que você faça um aperfeiçoamento do modelo atômico. Esse vídeo então se enquadra dentro dessa necessidade atual das escolas desse aperfeiçoamento, dessa modernização", esclarece Marcelo.
Após o lançamento de "Quarks e Léptons", a ideia é que outros dois curtas de animação sejam produzidos pela equipe. Um deles sobre a Física de Neutrinos, tema de especialidade do grupo de pesquisa do qual Marcelo faz parte, e outro sobre Raios Cósmicos. Esse tema tem uma relação especial com a própria história do IFGW: um de seus fundadores, o físico César Lattes, dedicava seus estudos aos Raios Cósmicos. Hoje, o Instituto conta um um departamento dedicado às pesquisas nessa área.
Diretor do IFGW, Pasqual José Pagliuso, acredita ser fundamental que os pesquisadores da unidade se preocupem não apenas com a qualidade de suas pesquisas, mas também com a divulgação delas à sociedade. "É um momento extremamente importante, em que a universidade tem que fazer divulgação científica cada vez mais, tem que aproximar a nossa linguagem da linguagem do cidadão comum, isso em todas as áreas da ciência. Então eu fico orgulhoso de ver o IFGW, mais uma vez, tomando a liderança nessa iniciativa com um projeto dessa magnitude", comenta Pasqual.
Ciência, artes e curiosidade
Com 45 anos de experiência na produção de filmes de animação, esta foi a primeira vez que Maurício Squarisi trabalhou em um projeto voltado para a divulgação científica de conceitos da Física. Ele conta que o convite para participar do projeto surgiu depois que Marcelo Guzzo conheceu os trabalhos já realizados por Squarisi na área de História, mas que tornar unir Física e animação foi um desafio.
Maurício explica que precisou assistir a algumas aulas de Marcelo e contou com a orientação científica constante da equipe, para que todos os conceitos fossem trabalhados com a precisão exigida pela ciência. "Eu descobri que o cientista é tão criativo quanto o artista, a matéria prima do cientista é a mesma do artista, que é a curiosidade. Eles estão o tempo todo curiosos, então essa troca foi muito legal. E eu também cresci muito na minha forma de trabalhar", comemora Maurício.