Plataforma de Biodiversidade apresenta diagnóstico e um sumário para os políticos

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Maíra Padgurschi apresenta o Diagnóstico Brasileiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos
Maíra Padgurschi apresenta o Diagnóstico Brasileiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos

A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) apresentou pela primeira vez seu diagnóstico para esta área e um conjunto de relatórios temáticos como polinização, água, reflorestamento e contribuição dos povos indígenas e comunidades locais tradicionais, durante o evento “Biodiversidade não é problema, é solução!”, realizado nesta segunda-feira, no Centro de Convenções. A iniciativa reunindo seis palestrantes que estão entre os mais ativos e experientes pesquisadores em biodiversidade é do Programa Biota/Fapesp, da BPBES e da Diretoria Executiva dos Direitos Humanos da Unicamp.

“Além do diagnóstico sobre o status atual no Brasil, estamos trazendo, em linguagem de fácil acesso ao público não acadêmico, um ‘Sumário para tomadores de decisão’, com os principais pontos e as opções de governança para evitar que continuemos nesse processo de destruição da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas. O sumário é direcionado sobretudo aos políticos e mostra diferentes cenários dependendo das decisões que forem tomadas hoje”, explica Carlos Alfredo Joly, professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e coordenador da BPBES.

Sobre a expectativa de que os relatórios ajudem no enfrentamento do espírito negacionista que predomina no governo federal, Carlos Joly observa que a utilização destas ferramentas independe de quem está tomando as decisões nos diferentes ministérios. “Dentro dos ministérios há um corpo técnico altamente qualificado, de funcionários de carreira, que certamente saberão fazer bom uso deles. Existe também uma grande pressão internacional. Viajo no sábado para uma reunião da IPBES, a Plataforma Intergovernamental, e já sinto cobranças de colegas para preparar uma apresentação sobre a situação na Amazônia e do derramamento de óleo, dois desastres quase sucessivos que tivemos no Brasil.”

Quanto ao derramamento de óleo que atingiu tragicamente o litoral do Nordeste, o professor da Unicamp considera que a demora de providências por parte do governo federal mostrou seu total despreparo para um acidente de tais proporções. “O governo foi muito lento e muito incompetente na sua resposta. A situação só não foi pior porque tivemos um conjunto de órgãos estaduais e de voluntários que começaram imediatamente a tomar as providências, independente da ausência de comando por parte do governo federal – quando veio uma resposta à crise, ela já estava no auge, restando apenas medidas de mitigação como de remover o óleo, mas nenhuma de proteção, que tentasse evitar que o óleo chegasse à foz de rios ou áreas importantes como Abrolhos. Ficamos acéfalos.”

Para Joly, o prejuízo ao bioma foi enorme e vai ser sentido por muitos anos, até que os sistemas se recuperem. “O óleo que chegar às praias, o que é o mais visível dos problemas, pode ser retirado e em algum tempo elas estarão aptas para o turismo. Mas temos a deposição nos costões, nos corais e uma parte química do óleo que se dissolveu, sem sabermos os impactos ao longo da cadeia alimentícia. Por exemplo, se teremos um problema de contaminação de peixes que se alimentaram de pequenos crustáceos em contato com o óleo, se vai haver acúmulo de produtos tóxicos. Ainda não temos informações suficientes para saber o que vai acontecer.

Em relação às queimadas, o coordenador do BPBES lamenta os dois acontecimentos muito sérios ocorridos no último final de semana. “Primeiro, a morte de Paulinho Guajajara, que era uma liderança incontestável do movimento de proteção da floresta montado pelos próprios indígenas, uma vez que o governo federal não tem dado o apoio necessário para a fiscalização dessas áreas. Ele foi ameaçado, sabia-se que estava ameaçado e não se tomou nenhuma providência para protegê-lo, o que acabou custando a vida dele.”

O outro acontecimento apontado por Carlos Joly é a sequência de incêndios no Pantanal, que em sua opinião lembra o “Dia do Fogo” na Amazônia. “É uma coisa planejada e disparada com o intuito de provocar um grande impacto. “Acho que no caso das queimadas o governo desprezou a informação científica, foi muito tardio na sua resposta e, quando deu essa resposta, foi para inglês ver: colocou as tropas em operação, mas elas não foram até os focos de incêndio acusados pelo Deter [satélite]. O número de queimadas diminuiu, mas por duas razões: porque a presença física das tropas tem de fato um poder inibitório; e porque já começou o período de chuvas.”

 

Marcelo Knobel, na mesa de abertura: hora de a academia pôr a mão na massa
Marcelo Knobel, na mesa de abertura: hora de a academia pôr a mão na massa

 

Mãos na massa
O reitor Marcelo Knobel, na abertura de “Biodiversidade não é problema, é solução!”, observou que na mesa havia apenas um biólogo, Carlos Joly, ao lado dele, que é físico, e dos historiadores Néri Barros de Almeida e Luiz Marques. “Estamos todos pensando nessa pauta importante para nossa própria sobrevivência. É um assunto interdisciplinar, que eu até evito, por me deixar absolutamente deprimido. As pessoas não se dão conta da emergência de se buscar soluções para essas questões e uma grande parte delas nega essas questões, sendo que infelizmente estão no poder em muitos países, incluso o nosso. Precisamos pôr a mão na massa de fato. Apoiar a causa, assinar uma petição na internet, é fácil. Ativista de verdade vai atuar e é isso que estamos buscando cada vez mais. Estamos cansados de só discutir, vamos à luta.”

Luiz Marques, mentor do evento desta segunda-feira, se diz feliz por poder ouvir especialistas brasileiros que realizaram o diagnóstico sobre biodiversidade no Brasil, já que através do noticiário ou de leituras específicas na literatura especializada já sabemos de um processo de degradação que está em aceleração. “Vivemos uma situação extremamente séria e é preciso aproveitar esse espaço na universidade, que é o lugar vocacional para analisar e trabalhar para fazermos o que é possível para desacelerar, sustar e talvez reverter esse processo – sinto que algo está em curso e este pode ser o primeiro passo.”

Néri de Barros, por sua vez, afirma que embora seja evidente para muitas pessoas, não é evidente para outras a relação entre direitos humanos e biodiversidade e mudanças climáticas. “Sou historiadora e consigo compreender um pouco a emergência de outras pautas, mas não vejo nada mais vital que esta, na medida em que as condições de manutenção da vida estão sob ameaça. Biodiversidade é um conceito poderoso: se compreendêssemos um pouco melhor, coletivamente, o que significa biodiversidade e o tamanho da intradependência  entre todas as formas de vida, talvez estivéssemos avançando um pouco mais em relação à proteção ambiental.”

Palestras
Carlos Joly, que é também membro titular da Academia Brasileira de Ciências e do Scientific Advisory Committee (SAC) do Inter-American Institute for Global Change Research (IAI), concedeu a palestra de abertura, com uma apresentação preliminar sobre a importância do tema no atual cenário. Na sequência, Maíra Padgurschi, membro da rede Ecosystem Services Partnership e da Young Ecosystem Services Specialists e secretária executiva da BPBES, apresentou o Diagnóstico Brasileiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Ainda pela manhã, Cristiana Seixas, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp, falou sobre as “Contribuições da natureza para a qualidade de vida”.

No período da tarde, Kayna Agostini, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), fez um balanço da crescente crise de polinização na agricultura brasileira. Renato Crouzeilles, do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), mostrou dados sobre o reflorestamento no Brasil; e Vinícius Farjalla (UFRJ) incluiu uma variável fundamental no panorama da biodiversidade brasileira: a questão da água. O Sumário para Tomadores de Decisão de todos os diagnósticos apresentados durante o encontro estão disponíveis para download na página da BPBES.

 

Carlos Joly: sumário mostra diferentes cenários, dependendo das decisões que forem tomadas hoje
Carlos Joly: sumário mostra diferentes cenários, dependendo das decisões que forem tomadas hoje

 

Imagem de capa
Audiodescrição: no palco de um auditório, imagem em perfil e em plano médio, homem em pé à esquerda na imagem e com olhar voltado para a direita, fala em microfone sem fio segurando-o com a mão direita, enquanto que com o braço esquerdo aponta para uma ampla tela de data show que exibe o título BPBES Relatórios Temáticos e, abaixo, cinco capas de livros compostas por fotos e com títulos como clima, polinização, água e indígenas. O homem usa óculos e veste blazer preto. Imagem 1 de 1.

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004