Seguem até o dia oito de novembro as apresentações da 9ª Mostra Aluno-Artista da Unicamp. Ao longo da semana, o público universitário pode conferir o resultado dos projetos contemplados pelo edital 2019 do programa que fomenta a cultura na Unicamp e incentiva a organização dos estudantes para a elaboração dos projetos, desde a concepção das propostas até a montagem dos espetáculos.
Neste ano, foram desenvolvidos 15 projetos culturais dentro de linguagens artísticas como música, dança, teatro, artes visuais, cinema, performances e poesia. As exposições e espetáculos podem ser conferidos nos Restaurantes Universitários do campus (RU e RS), Casa do Lago, Biblioteca Central "Cesar Lattes", Auditório do Instituto de Artes (IA), Auditório da Adunicamp, Museu Exploratório de Ciências e no Ciclo Básico 2. Todas as atrações são de graça e a programação completa pode ser conferida na página da Mostra.
Incentivo às artes e preparação profissional
O Programa Aluno-Artista existe desde 2010 na Unicamp e tem o objetivo de difundir as artes e a cultura na universidade por meio do incentivo ao desenvolvimento de projetos culturais. Alunos de graduação de todos os cursos podem se inscrever nos editais, lançados no 1º semestre. São disponibilizadas 40 bolsas com duração de seis meses aos estudantes. Ao longo desse período, eles desenvolvem os projetos e aprofundam o estudo e o trabalho com as diferentes linguagens artísticas.
Além de fomentar as artes entre os alunos, o programa também cumpre uma função importante ao possibilitar que eles tenham a experiência de cumprir com todas as exigências de um edital, estimulando a organização e o compromisso. "Contribui muito porque é uma experiência até pré-profissional. Neste ano tivemos a experiência dos projetos do ano passado se apresentarem no Sesc de Campinas, quase todos os projetos estiveram dentro de uma programação do Sesc, puderam concluir a produção e ver como isso acontece. Então acho que o projeto traz essa maturidade, porque o aluno tem que se planejar, tem que pensar nas ações que ele vai desenvolver, prazos que precisam ser cumpridos", analisa Maria Claudia Alves Guimarães, assessora cultural do Serviço de Apoio ao Estudante, órgão da universidade responsável pelo programa. Ela comenta que, além das atrações na mostra, os estudantes também vão apresentar seus projetos em outras oportunidades, entre elas a Calourada 2020 da Unicamp.
Essa é uma vantagem vista por Gabriel Pestana, aluno do 4º ano de Artes Cênicas do IA. Ele participa do programa juntamente com os membros do Coletivo Teatro do Barro. Ele conta que o grupo aproveitou a oportunidade oferecida pelo Aluno-Artista para aprofundar os estudos no uso de bonecos no teatro. Para isso, trabalharam na montagem da peça "O Sonho", texto do sueco August Strindberg, que foi apresentada na tarde da terça-feira (5) no auditório do IA. O estudante também avalia que montar o espetáculo serviu como um teste do que podem aprimorar para o futuro. "O público da Unicamp é o que estamos mais acostumados, então apresentar aqui é um grande estudo, é uma grande pesquisa de palco para saber o que funciona, o que não funciona, o que chega e o que não chega no público", afirma Gabriel.
Pensamento na inclusão
A Mostra Aluno-Artista também abriu espaço para discussões sobre a inclusão de pessoas surdas na universidade e como as linguagens artísticas podem contribuir para isso. É o objetivo do projeto "Mão Dupla", desenvolvido pelas alunas Isabelle Santos da Silva e Giovanna Poletto, do 5º ano de Artes Visuais. Elas criaram um mural na fachada do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) com a palavra "língua" escrita em datilologia, que é o alfabeto manual utilizado pelas pessoas que se comunicam em Libras, a Língua Brasileira de Sinais. A ideia foi chamar a atenção para a luta das pessoas surdas de terem sua língua reconhecida e valorizada e também para o baixo número de alunos surdos inseridos na universidade.
"Trazendo a Libras para dentro das expressões (artísticas), a gente faria com que as pessoas pensassem sobre o acesso à língua, que é uma língua que está na lei, ela é oficial, mas as pessoas não a respeitam dessa maneira. E dentro do espaço universitário a gente pensa que não existem alunos surdos na graduação da Unicamp, então pensamos como poderíamos fazer as pessoas pensarem sobre essa ausência", conta Isabelle. Ela explica que, além de criarem o muram no IEL, o projeto também instalou um painel na Bibloteca Central com a temática, além de promoverem uma série de atividades de conscientização: uma roda de conversa, uma oficina cultural no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (CEPRE) da Unicamp e um Slam Bilíngue.
Para a estudante, o apoio dado pelo programa foi fundamental para que a discussão proposta chegasse a mais pessoas. "Nos eventos que fizemos, sempre tentamos trazer pessoas surdas como convidadas e sem o apoio do programa Aluno artista a gente não conseguira trazer um convidado de São Paulo, que foi o Fábio de Sá, que é um poeta bem famoso na comunidade surda. Ele veio se apresentar em um slam de poesia que a gente organizou, junto com outro projeto, o Slam Empodera. É um projeto que faz slams, mas nenhum voltado para pessoas surdas. Então pensamos em fazer a união desses dois projetos e promover um slam bilíngue. Então todas as poesias apresentadas em português ou em libras tinham tradução para outra língua", esclarece.