O Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp, vinculado ao Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade, celebrou na quinta-feira (21) as duas décadas de instalação de seu curso de especialização em jornalismo científico e da revista digital ComCiência. Profissionais fundamentais nesta trajetória receberam homenagens especiais, com destaque para Vera Toledo, coordenadora da especialização entre 1999 e 2017. A pesquisadora se aposenta no final deste ano. Carlos Vogt, coordenador do Labjor, e Alessandra Carnauskas, secretária acadêmica, também receberam homenagens por sua atuação na concepção, consolidação e funcionamento cotidiano do curso.
Um dos painéis do simpósio reuniu ex-estudantes da EJC, como Sarah Azoubel, cofundadora do podcast 37 Graus, e Eduardo Carvalho Neto, editor artístico no Museu do Amanhã (RJ). Os egressos contaram suas experiências profissionais e avaliaram em que medida a formação obtida na Unicamp colaborou para avanços em sua trajetória de trabalho.
Monica Macedo-Rouet, professora associada da Universidade Paris 8 e uma das idealizadoras da revista ComCiência, e Yurij Castelfranchi, ex-aluno e pesquisador do Labjor e criador do curso de especialização em divulgação científica da UFMG, também participaram – remotamente – comentando tanto o imenso desafio atual das campanhas orquestradas de desinformação quanto o pioneirismo do Labjor em incluir na formação do jornalista científico questões de gênero e raça e o papel da arte, por exemplo. “O curso que estamos iniciando na UFMG é um dos filhotes do Labjor”, disse Castelfranchi.
Também participou do evento Mariluce Moura, idealizadora e ex-editora da revista Pesquisa Fapesp e idealizadora do projeto Ciência na Rua, que apontou a urgência do desafio de contribuir para uma história da cência que não seja só de homens brancos, mas inclusiva. “O fato de a elite brasileira não abarcar negros e mulheres guarda uma relação com a falta de popularização da ciência, e isto é um ponto de partida que não pode ser ignorado pela divulgação científica”, afirmou.
Ricardo Muniz, coeditor da revista ComCiência, comentou a importância de experiências como a concebida por Marina Gomes, sua colega na edição da revista, de parceria com o Jornal da Unicamp, à época chefiado pelo jornalista Álvaro Kassab, que deixou a Unicamp em meados deste ano. “Estudantes da especialização escreveram reportagens de fôlego para o jornal, sob a atenciosa e paciente edição do veterano Kassab”, comentou. O jornalista também lembrou que a reformulação completa do site da revista foi iniciativa de dois alunos da especialização, Tiago Alcântara e Ton Torres, em 2016. “Projetos assim reforçam um princípio fundamental: jornalismo é trabalho coletivo”, disse.
Diversos outros tópicos foram debatidos em três diferentes painéis, entre os quais a importância do cultivo de fontes confiáveis, as dificuldades de aproximação com cientistas brasileiros (uma quase-aversão que estaria diminuindo aos poucos) e o combate aberto à ciência e ao jornalismo empreendida pelo governo brasileiro.
“Assim como a mera defesa da Constituição hoje já é revolucionária, revisitar o básico do jornalismo é avançado, porque quando um exército está em retirada, um metro de terreno recuperado é um avanço. É preciso estudar e praticar pauta, apuração, checagem, contraditório, texto bem escrito, edição que nem mata conteúdo por ser desleixada nem vende gato por lebre por ser sensacionalista”, afirmou Muniz, da ComCiência. “A missão do Labjor para os próximos 20 anos é, portanto, mais do que nunca, formar jornalistas qualificados a formular ressalvas e contextualizações na amplíssima área da ciência. Não é formar escribas de declarações, não é formar marqueteiros, não é formar secretários de ata de eventos acadêmicos. O jornalismo real, indispensável hoje, está ficando raro. Esse jornalismo não pode ser improvisado. Esse jornalismo é a missão do Labjor”, completou.