A colombiana Ana María Zetty Arenas foi a primeira mulher a conquistar o título de doutora pela colaboração entre a Unicamp, por meio do Programa Integrado de Pós-Graduação em Bioenergia, e a Universidade Técnica de Delft (TU Delft), nos Países Baixos. A parceria prevê que os doutores formados recebam dois diplomas, um brasileiro e outro holandês. Ana Maria estudou novas formas de produção do n-butanol de segunda geração, um tipo de álcool que pode ser obtido a partir de resíduos da cana-de-açúcar.
Formada em Engenharia Agroindustrial pela Universidade Nacional da Colômbia, a pesquisadora cursou o mestrado em Engenharia Química pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Depois de concluir o mestrado, ela retornou ao país natal para trabalhar como assistente de pesquisa na produção de bioetanol a partir da mandioca no Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) na cidade de Cali. Foi essa experiência que despertou em Ana María o interesse por se aprodunfar no estudo de biocombustíveis.
"Depois de ter trabalhado com biocombustíveis, tanto na Universidade Nacional da Colômbia quanto no CIAT, fiquei apaixonada pelas energias renováveis vendo os biocombustíveis a partir de biomassa como sendo muito promissores e mais sustentáveis. Foi assim, que decidi que era o momento de iniciar o doutorado em 2014 e retornar ao meu amado Brasil, minha segunda casa, por ser um dos líderes mundiais nesse campo. Para isso, pesquisei muito sobre as universidades que lideravam as pesquisas e encontrei a Unicamp como sendo a líder", conta a colombiana.
A pesquisa contou com a orientação de Rubens Maciel Filho, professor da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), e também com a colaboração de Sindelia Freitas Azzoni, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o que permitiu a Ana Maria realizar boa parte dos experimentos Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) do CNPEM. Em 2017, Ana María partiu para Delft, nos Países Baixos, onde pode realizar parte dos experimentos na TU Delft, uma das mais importantes do país. Lá, ela teve a supervisão de Mark van Loosdrecht e de Walter van Gulik.
Com o título "Towards enhanced second-generation n-butanol production from sugarcane", a pesquisa de Ana María analisou novas formas, economicamente viáveis, de se produzir o n-butanol de segunda geração. O composto é um tipo de álcool muito utilizado nas indústrias farmacêuticas, de tintas, solventes e cosméticos. O aspecto de ser de segunda geração significa que ele é produzido a partir dos resíduos da cana-de-açúcar, como o bagaço, após ela ter sido utilizada para a produção de etanol. Ao longo dos experimentos para produção do n-butanol, a pesquisadora também identificou que uma das bactérias empregadas na fermentação - a Clostridium saccharoperbutilacetonicum - formava biofilmes, que podem ser aproveitado como um subproduto do processo de produção do biocombustível desenvolvido por Ana María.
Ela comenta que a descoberta abre caminhos para várias outras pesquisas na área. "Por ter uma abordagem multidisciplinar, minha tese pode ser uma ótima ferramenta para as mais diversas pesquisas, incluindo até o tratamento de águas residuárias. A ideia é continuar sim com a pesquisa para a produção de butanol e etanol usando biofilmes e diferentes micro-organismos", analisa Ana María.
Duplo diploma e experiências para a vida
O programa de duplo diploma de doutorado entre a Unicamp e a TU Delft teve início em 2013. Ele prevê que os pesquisadores possam desenvolver pesquisas nas áreas de biocombustíveis e bioquímicos nas duas universidades. Ao longo do curso, os doutorandos contam com orientações nos dois países e desenvolvem os estudos fora por, no mínimo, um ano. Ao final do programa, ele deve apresentar a tese em Inglês e recebe dois diplomas distintos.
Ana María comenta que, além de aproveitar a estrutura de laboratórios da TU Delft, a universidade conta com uma grade curricular ampla e disciplinas que agregam no crescimento pessoal do pesquisador, como habilidades de pesquisa científica, ética, comunicação interpessoal, didática e desenvolvimento de carreira. Ela também destaca que a experiência de defender a tese na instituição holandesa estimula a reflexão sobre os fundamentos da ciência e seu papel como pesquisadora. "A cerimonia de defesa realmente é linda e especial. São sete membros na banca: o reitor, o bedel, e dois paraninfos, amigos próximos que servem de padrinhos. Além disso, aqui na TU Delft, nós devemos defender não apenas a tese, como também as nossas 'Propositions', que são declarações filosóficas sobre a vida e a ciência que devem ser também refutáveis", explica a nova doutora.
Você pode conferir e baixar a tese de Ana María por meio deste link.