Um acervo histórico sobre memoráveis eventos que marcaram a trajetória da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está disponível no site do Instituto de Estudos Avançados (IdEA). Reunindo fotos, vídeos e textos, o conjunto reúne material produzido pela Secretaria Executiva de Comunicação (SEC) da Unicamp com foco, inicialmente, na década de 1980.
Entre os eventos cobertos estão o projeto “Aquarelas do Brasil”, realizado entre 1986 e 1987, “Brasil Século XXI”, entre 1988 e 1989, e “Brasil: Memória Política”, de 1987. Organizado pela equipe de comunicação do IdEA, o acervo deve ser ampliado com mais material ao longo de 2020, incluindo as participações dos artistas residentes desde 1984, quando foi criado o Programa do Artista Residente. O acervo foi originalmente catalogado e preservado pelo Arquivo da Rádio e Televisão Unicamp e pelo Arquivo Central do Sistema de Arquivos (Siarq) da Unicamp.
O projeto de extensão “Aquarelas do Brasil” teve como objetivo organizar eventos musicais de larga expressão na Unicamp, com nomes representativos da música popular brasileira. Sob a direção artística do produtor musical Fernando Faro, a iniciativa foi idealizada pelo então coordenador geral da Unicamp, Carlos Vogt, que foi reitor entre 1990 e 1994 e atualmente é presidente do Conselho Científico e Cultural do IdEA. O projeto realizado pelo Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri) se propôs a retratar o Brasil por meio da MPB e abrir os espaços da universidade para mais atividades à comunidade.
Apresentados mensalmente no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp, os eventos envolveram várias formas de manifestação artística. Simultaneamente aos espetáculos musicais havia exposições sobre os artistas, sua época e discografia. A programação contou com apresentações de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Toquinho, Martinho da Vila, Baden Powell, César Camargo Mariano, Marlene, Jamelão, Orquestra Tabajara e Dominguinhos, entre outros.
A série de seminários “Brasil Século XXI” teve o propósito de revalorizar o debate prospectivo de ampla visão histórica, com ênfase na reflexão e na discussão das tendências da realidade brasileira, assim como dos rumos e das alternativas para além da virada do século. Idealizado pelo então reitor Paulo Renato Souza (gestão 1986-1990), o evento pretendia avaliar as perspectivas nas áreas da economia, política, tecnologia e ciência, sociedade e cultura, e também apontar possíveis saídas para o final do milênio.
O ciclo de seminários conquistou o prêmio de melhor evento do ano de 1988, conferido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Participaram dos seminários nomes como Alain Touraine, Alexander Zinoviev, Adam Przeworski, Barbara Stallings, Alessandro Pizzorno, Edgar Morin, Perry Anderson e Philippe Schmitter. Também estiveram presentes brasileiros como Luciano Martins, José Goldemberg, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maria da Conceição Tavares, Marilena Chauí, Gabriel Cohn, Hélio Jaguaribe, Celso Furtado, Francisco Weffort, Henrique Rattner, Fernando Henrique Cardoso, Dorothea Werneck, Plínio de Arruda Sampaio, Luciano Coutinho, João Manuel Cardoso de Mello e Adroaldo Moura, entre outros.
“São, de fato, eventos que, embora distintos, pelos objetivos, propósitos, forma, conteúdo, e até mesmo público, tinham em comum o desejo de manter a universidade aberta e de aproximá-la, de um modo espontâneo, da sociedade”, explica o poeta e linguista Carlos Vogt. “Daí a importância de tornar este material acessível às novas gerações, não só como um registro histórico de época, mas também como metáfora das imbricações necessárias da instituição e da sociedade com a qual ela convive, para a qual ela vive e à qual ela deve sua própria razão de ser.”
“Brasil: Memória Política”, coordenado pelo jornalista Paulo Markun, nasceu de uma conversa com Vogt, sob a perspectiva de uma Assembleia Nacional Constituinte e das primeiras eleições diretas da Nova República. Muitos dos conferencistas haviam voltado ao espaço político depois da anistia e outros ocupavam novos lugares naquele país em ebulição. “Vivemos um momento muito diferente, mas é igualmente importante entender quanto custou a retomada da democracia, com seus problemas e limitações. Creio que a releitura daqueles depoimentos pode ajudar um pouco nesse sentido. O passado não ensina, nem evita que a sociedade repita erros. Mas é sempre importante saber e lembrar o que se passou”, destaca Markun.
Um dos conteúdos mais acessados da página da TV Unicamp no YouTube é a palestra do crítico literário Antonio Candido (1918-2017) sobre o tema “Cultura, produção e representação simbólica da sociedade”, proferida dentro do ciclo “Brasil Século XXI”. Em cerca de dois anos disponível na plataforma, o vídeo tem quase 20 mil visualizações. Outro registro muito procurado é o show do cantor e compositor Chico Buarque, com nove mil visualizações, realizado em 1987, no Ginásio da Unicamp, dentro da programação de “Aquarelas do Brasil”.