O rendimento dos alunos da Unicamp que ingressaram na Graduação por meio das políticas de inclusão foi similar ao desempenho de outros alunos da Universidade. Esta é a conclusão de um estudo desenvolvido pela coordenadoria de pesquisa da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest). Os dados foram apresentados no evento World Access to Higher Education Day, no final de novembro, e servem para a avaliação de medidas iniciadas em 2005, com o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS), seguido pelo Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) em 2011.
A análise descritiva dos dados numa série de 10 anos (até 2015) mostra que o Coeficiente de Rendimento (CR) padronizado dos alunos, ou seja, o desempenho dos estudantes de acordo com a média da turma, é muito semelhante nas áreas de exatas e tecnológicas, engenharias, artes, biológicas e saúde, e humanas. Estudantes que receberam bonificação PAAIS estão, geralmente, acima da linha zero do CR padronizado, o que significa desempenho similar ou melhor que os demais.
Uma outra parte do estudo analisou os alunos que cursaram as disciplinas Cálculo I ou Geometria Analítica para os que ingressaram entre 2009 e 2017. O responsável pelo estudo, professor Rafael Maia, explica que são disciplinas comuns a todos os estudantes dos cursos de exatas e que costumam ter uma taxa de reprovação mais elevada. “Nesse caso, o objetivo foi entender o que poderia estar associado com a chance de ser aprovado nessas disciplinas de primeiro ano”, ressaltou.
Os gráficos apresentados mostraram que a nota do aluno nas provas de matemática no vestibular é decisiva para a aprovação nas disciplinas, seja o estudante oriundo de políticas de inclusão ou não. Outras variáveis inseridas apontam, por exemplo, que alunos que ingressaram a partir da sexta chamada do vestibular, ou filhos de pais com menor grau de instrução, têm mais dificuldade de aprovação nas mesmas matérias.
O desempenho nessas disciplinas está sendo analisado num estudo mais aprofundado, desenvolvido por Rafael em conjunto com a professora Hildete Pinheiro, também do Departamento de Estatística do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp, além do professor Eufrásio de Lima-Neto, da Universidade Federal da Paraíba. O estudo deverá ser publicado como artigo científico.
“Mas nesse novo estudo, além de olharmos descritivamente para esses dados, apresentamos uma modelagem estatística para analisar as chances dos estudantes serem aprovados nas disciplinas em algum momento. Mostramos que quando se inserem outras variáveis, além do desempenho no vestibular e as questões socioeconômicas, os alunos PAAIS não têm menores chances de serem aprovados”, observa.
Para Rafael, a modelagem é reveladora de que as políticas de inclusão não são determinantes do desempenho dos alunos nos cursos de Graduação na Unicamp. “No modelo, se comparamos dois indivíduos com perfil semelhante de notas no vestibular e questões socioeconômicas, o PAAIS não determina se o desempenho do aluno será pior ou melhor”.
A vantagem da modelagem é, segundo Rafael, conseguir levar em conta todas as variáveis evitando generalizações. “Consigo avaliar se o que tem mais peso é a renda ou o grau de instrução familiar. Se é o desempenho do aluno em matemática ou o fato dele ter vindo de uma escola pública ou particular. ”
Resultados preliminares já apontam que os alunos que receberam bonificação PAAIS vão melhor que outros estudantes com mesmo perfil socioeconômico e desempenho em matemática no vestibular. “Isso nos leva a crer que uma atenção especial tem que ser dada ao aluno, não porque ele veio da inclusão, mas porque ele tem um baixo desempenho em matemática”, reflete o professor.
Dados sobre as políticas mais recentes, como a de cotas étnico-raciais, ainda estão sendo analisados. “Nossas políticas têm sofrido modificações que alteraram o perfil dos ingressantes nos últimos anos. Precisamos ainda olhar para esses dados”, pontua Rafael.
A pró-reitora de Graduação, Eliana Amaral, afirma que o estudo está confirmando a tese de que a Unicamp oferece uma estrutura de formação sólida que favorece o desenvolvimento acadêmico. “Alunos com certas características ou dificuldades iniciais encontram um ambiente acolhedor que dilui barreiras. A Unicamp é sabidamente uma universidade inclusiva, e que busca estimular o avanço, a criatividade”, disse.
Eliana também ressalta que as ofertas no currículo formal ou ‘informal’ (extracurricular) são muitas e favorecem a interação entre os estudantes, com diferentes áreas de conhecimento e o desenvolvimento de outras competências, como o empreendedorismo social por exemplo.
No âmbito da pró-reitoria, com apoio de seus órgãos Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)² e Gupo Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE), os currículos e as estratégias educacionais têm recebido muita atenção, bem como a formação docente, dentro da proposta de revisão dos cursos de Graduação em 2020, no projeto RenovaGrad. “Estratégias educacionais adotadas, que incluam o trabalho de grupo, colaborativo, com aplicação dos conhecimentos a problemas reais, sabidamente favorecem a inclusão e os melhores resultados acadêmicos”, afirma.