Pelo nono ano consecutivo, o Instituto de Computação da Unicamp recebe e organiza a Escola de Verão da Maratona de Programação, que tem como objetivo treinar e preparar estudantes para a International Collegiate Programming Contest (ICPC), competição mundial da área de programação. A edição de 2020 da Escola, cujas atividades iniciaram no dia 20 de janeiro e seguem até o dia 2 de fevereiro, traz como novidade o estímulo à participação feminina nas competições.
O incentivo ocorreu através convites enviados especialmente para 16 jovens mulheres que haviam participado de alguma etapa das competições. Para as convidadas, todos os custos da estadia em Campinas, da alimentação e do deslocamento foi subsidiado. “O nosso objetivo é que essas meninas se transformem em exemplos para outras”, afirma a docente do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, Sandra Avila, que integra a equipe de organização da Escola de Verão. “Eu sei por experiência própria da importância de ter mulheres que sejam referências em nossas vidas. A força do exemplo é muito forte. Se você não vê uma mulher fazendo aquilo, você não se sente capaz”, compartilha a professora, que em diversos momentos da trajetória acadêmica não encontrou outras mulheres nos mesmos espaços de formação.
Participam das atividades da Escola, neste ano, 25 mulheres em um universo de 160 estudantes. Já no ano passado, houve a inscrição de oito mulheres, entre os 171 participantes. Apesar do número ainda baixo, a tendência é que gradualmente ocorra uma ampliação, já que as experiências dessas jovens serão compartilhadas com outras estudantes e, assim, pode haver um efeito multiplicador, segundo aponta Sandra.
Dispostas a driblar o preconceito
Luana Belisário e Débora da Silva são duas das estudantes que receberam os convites e decidiram participar da Escola de Verão. Elas são colegas no Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, e integram o Grupo de Estudos para a Maratona (GEMA). Ambas participaram da etapa regional da competição pela primeira vez em 2019 e vêem os incentivos à participação feminina na área como essenciais. Da mesma forma que a professora Sandra, acreditam na força do exemplo.
“Mesmo sabendo que é uma área mais dominada por homens, a gente ajuda a dar o exemplo para outras meninas que queiram participar. É importante não desistir e não se intimidar”, afirma Débora. A estudante diz estar muito contente em estudar na Escola de Verão, já que encara os treinamentos como um complemento à graduação e como uma ajuda a abrir portas na vida profissional.
A cobertura dos custos, compartilha Luana, foi fundamental para que pudesse vir à Unicamp. “Essas iniciativas são importantes, o incentivo é muito bom para podermos vir”. O treinamento, para ela, tem sido relevante para instigar o raciocínio, aprender algoritmos e otimizar códigos. Assim como Débora, Luana faz parte de uma turma de graduação em que apenas 15% são mulheres, mas diz estar disposta a enfrentar qualquer preconceito. “Infelizmente são poucas meninas na área, mas estamos dispostas a seguir em frente e driblar isso”, afirma.
Outra forma que as estudantes apontam como significativa para o fortalecimento das mulheres na área são as competições voltadas ao público feminino. “Ajuda a gente a se integrar, a conhecer as meninas, porque às vezes é difícil só ver homens”, observa Débora.
A Escola
As duas primeiras edições da Escola de Verão da Maratona de Programação ocorreram na USP, nos anos 2010 e 2011. Desde 2012, a Unicamp sedia o evento. O professor do IC Rafael Schouery, membro do comitê de organização, explica que os dez dias de atividades preparam os estudantes para as competições e auxiliam no desenvolvimento de habilidades valorizadas no campo profissional. “Essa ideia de treiná-los, de fundamentar bem eles em algoritmos é importante tanto para a academia quanto para o mercado de trabalho. Nós temos sempre patrocinadores que estão querendo contratá-los porque eles sabem que é um aluno que vai saber resolver problemas muito complicados”, pontua.
Dentre as atividades da Escola, são realizadas simulações dos problemas que os estudantes podem encontrar nas maratonas de programação. Eles têm, da mesma forma que nas competições, cinco horas para resolver as questões. Os problemas são resolvidos em trios e utilizando apenas um computador, o que incentiva o trabalho em equipe. Os treinamentos acontecem diariamente e ao total são dez, totalizando 50 horas de dedicação. Também são ministradas aulas teóricas por especialistas no assunto, brasileiros e estrangeiros, e realizadas palestras de patrocinadores, que neste ano são Google, Microsoft, VTex, WildLife e Inloco.
Segundo o professor Rafael, as equipes brasileiras já ganharam prêmios de melhor time da América Latina, mas ainda não houve ganhadores de medalhas nas finais mundiais. “Isso é uma vontade que se tem e a Escola serve para isso. Nesse ano temos times muito bons”. Consagraram-se medalhistas de ouro, na etapa brasileira da maratona, as equipes “Times com T”, da USP; "Campinas Grande", da Unicamp e "Amigos do Beto", da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A etapa mundial, da qual participaram também os medalhistas de prata, ocorre em Moscou, na Rússia, em junho de 2020.
Outro prognóstico positivo, para o docente, se dá devido à modalidade de ingresso das Vagas Olímpicas, estreada em 2019 na Unicamp. “Em geral, os ingressantes medalhistas da Olimpíada Brasileira de Informática são muito bons, têm conhecimentos avançados. Acredito que vamos começar a ter times muito fortes”, analisa.