A opção de fazer compras on-line facilita e muito a vida na correria do dia a dia. Mas só até surgir a primeira dúvida. "Tem o meu número? Quando o produto chega? Posso parcelar no boleto?" Com a ideia de facilitar a vida de quem gerencia um e-commerce e oferecer ao cliente uma experiência próxima a das lojas físicas, ex-alunos da Unicamp criaram a GoBots, startup que desenvolve robôs de inteligência artificial e os implementa em lojas virtuais. O sistema se encarrega de atender os consumidores de forma rápida e eficiente, reduzindo as tarefas dos administradores dos sites.
Os robôs funcionam respondendo a questões e dúvidas dos clientes, nos espaços de chat dos sites. Para atender os clientes com agilidade e precisão, eles se utilizam de um banco de informações gerais pré-programadas pela GoBots e, com base nas informações trocadas nos diálogos com os clientes, aprendem novas respostas e consegue responder ainda mais rápido.
Outro diferencial é que cada loja ou site tem seu próprio robô, com informações específicas acessadas apenas pela loja, como dados do estoque e histórico de compras dos clientes, o que garante a privacidade. Porém, se for necessário, informações gerais podem ser trocadas entre robôs diferentes, o que também ajuda no aperfeiçoamento dos sistemas.
Criada em 2017, a tecnologia da GoBots estreou no mercado já com uma prova de fogo, no site de uma grande rede de livrarias em plena Black Friday. Na época, tudo deu certo. Hoje os robôs da empresa atendem mais de 130 lojas e sites de e-commerce. Agora em 2020, a GoBots se prepara para duas inovações: ampliar sua atuação para outros países da América Latina e aliar seu desenvolvimento às pesquisas realizadas pela universidade.
"O risco era não empreender"
A iniciativa partiu de Victor Hochgreb e Samuel Birocchi. Formados em Engenharia de Computação pela Unicamp, eles tiveram a ideia de criar algum tipo de solução para o mercado que envolvesse a inteligência artificial. Juntamente com Daniel Buglia, formado em administração pela Universidade Metodista de São Paulo e amigo de Victor desde os tempos de colégio, pensaram como eles poderiam aplicar o recurso em coisas mais simples do cotidiano. "A gente não tinha uma ideia muito clara de que íamos acabar trabalhando com lojas on-line, mas a gente apostava muito na inteligência artificial como uma forma de conseguir acessar milhões de pessoas. Cada vez mais as pessoas têm celular, o acesso à internet está crescendo no mundo, e a gente pensou: 'imagina se houvesse um robozinho que conseguisse falar com milhões de pessoas, qual impacto a gente conseguiria gerar?", explica Victor.
Até então, sistemas de inteligência artificial eram mais complexos de serem implementados nas empresas, além de resolverem problemas muito específicos. Samuel conta que foi graças à participação deles em um programa de aceleração que foi possível ampliar essa perspectiva e tornar o uso de robôs mais próximo das tarefas comuns do comércio. "Nós fazíamos projetos personalizados, softwares personalizados. Aí começamos a pensar em um produto que a gente pudesse vender em escala. Analisamos o design thinking dos sites e identificamos esse nicho, essa dor do lojista, que tem muitos pedidos, muita gente para atender, e não consegue. Por usar a inteligência artificial, a gente consegue ter a mente do robô e usá-la para vários clientes", comenta o jovem empresário.
Para dar início à empresa, eles fizeram uma opção corajosa. Os três trabalhavam em grandes empresas, consolidadas no mercado, mas pensaram que poderiam fazer muito mais a diferença se tivessem a liberdade de por em prática o que acreditam como mais promissor. "Existe o risco de você não empreender. Acho que entrar em uma empresa tradicional e fazer carreira nela também é ficar um pouco preso a ela ao longo dos anos. Eu tinha acabado de me formar, não tenho filhos, acho que é um momento muito bom que eu poderia me arriscar. Em outras situações poderia não ser possível", explica Victor.
Outro fator que motivou os rapazes foi a consciência de que, depois de receberem uma formação sólida na universidade pública, era a hora de retribuir o investimento feito pela sociedade. "A Unicamp é uma universidade pública, o povo investiu na gente, então temos a responsabilidade de devolver isso. Acho que a gente pode devolver isso desenvolvendo tecnologias novas, causando impacto", avalia Samuel.
Parceria em pesquisas e malas prontas para o Chile
Recentemente, a GoBots teve aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) um Projeto de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). Com ele, a startup vai abrir as portas para que alunos de graduação e pós-graduação realizem pesquisas que envolvam inteligência artificial e o desenvolvimento de novas tecnologias.
"É um projeto que vamos começar em março, com recursos da Fapesp. Com o grupo de pesquisa, vamos melhorar ainda mais a inteligência artificial. Temos um professor responsável do Instituto de Computação, o Júlio César dos Reis, ele é nosso parceiro. Esses projetos aprovados pela Fapesp recebem verba para bolsistas e compra de materiais, então vamos ter bolsas de estudo para quem quiser pesquisar inteligência artificial aqui na GoBots, sempre com um viés científico, mas para o PIPE é necessário ter uma aplicação de mercado. No nosso caso encaixou muito bem", explica Victor.
Eles também começam o ano de malas prontas rumo a Santiago, no Chile. A empresa foi selecionada para participar do programa de aceleração Startup Chile. Daniel é quem vai representá-los no país durante nove meses. Lá, eles vão receber consultorias e apoio no processo de expansão da GoBots junto a empresas chilenas e, segundo as expectativas dos jovens empreendedores, em toda a América Latina. "É um programa de aceleração global, o objetivo deles é fomentar o negócio local. Eles trazem essas empresas com alto potencial de crescimento, fazem um aporte financeiro nessas empresas para que elas montem uma operação por lá, aluguem espaço, abram conta, contratem funcionários. Nossa expectativa é de abrir um braço comercial da GoBots no Chile, começar a prospectar clientes locais e, para o futuro, a gente imagina trazer clientes de outros países por meio dessa unidade", conta Daniel.