A arguição e a entrega do texto costumam ser os principais elementos da conclusão de um mestrado ou doutorado. Mas, se para grande parte das áreas do conhecimento esse formato constitui a centralidade da defesa, para os alunos de Artes Visuais a produção artística é tão importante quanto o discurso textual. Dessa forma, na Unicamp, as conclusões dos mestrandos e doutorandos da linha de Poéticas Visuais e Processos de Criação ocorrem junto a uma exposição conjunta, que está na Galeria do Instituto de Artes (GAIA) até o dia 12 de fevereiro.
A coordenadora da GAIA e professora do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais, Luise Weiss, salienta que esse formato é adotado já há bastante tempo na Unicamp e em outras instituições de ensino. O modelo das defesas junto à exposição, explica, é importante para possibilitar à banca de avaliação uma melhor visão das obras, com iluminação e disposição adequadas, trazendo a conexão do trabalho textual com a prática. “É um espaço de conversa, de reflexão, não é só o trabalho artístico numa vernissage. É para poder olhar os trabalhos, fazer perguntas, trazer reflexões”, pontua.
Além disso, a própria curadoria e a maneira como o aluno dispõe suas obras possibilita uma experiência mais próxima à realidade do artista. Para Ana Paula Rodrigues de Melo, que defendeu a dissertação “Entre Imagens: Diálogos híbridos” na terça-feira (28), montar a exposição também traz um amadurecimento sobre o sua própria produção artística. “É preciso fazer uma seleção do trabalho, então neste momento já se vai amadurecendo o olhar para aquilo que está mais relevante. Na hora que você vai fazer a seleção é preciso ter critérios, e aí você também vai pensando melhor em como está caminhando a produção. É difícil, mas muito enriquecedor”.
A avaliação é compartilhada por seu colega André Berger, cujo trabalho de mestrado “Esta é a noite: ponta seca e maneira negra” foi defendido na quarta-feira (29). Para ele, a exposição como parte da defesa possibilita apresentar o trabalho de maneira muito mais condizente com o que o artista faz. “Dá chance de mostrar o trabalho como ele está, sem ser numa sala de aula com ele colocado de qualquer forma numa mesa. Dá pra fazer uma curadoria, uma montagem interessante em que você pode exibir da forma que acha mais correta, numa sequência melhor”, avalia. Conforme André, dividir o espaço com os colegas com quem trabalhou no período da pós também é um ponto interessante.
Reflexão teórica e prática alinhadas
A produção artística e o domínio da temática e da reflexão crítica sobre as técnicas e métodos utilizados nas obras são fundamentais na linha de Poéticas Visuais do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais. Portanto, é necessário alinhar a criatividade e a sensibilidade dos trabalhos artísticos ao conhecimento sobre o objeto, que deve ser expresso no texto.
“É uma produção acadêmica em que há uma reflexão teórica, de afinidades eletivas tanto teóricas quanto artísticas”, explica a professora Ivanir Cozeniosque Silva, que orientou o trabalho de Ana Paula. Na produção textual, há um processo mais intimista. Já a exposição, avalia a docente, é do público. Unir ambos os elementos e poder apresentá-los à banca de avaliação possibilita, assim, um diálogo entre o que foi pensado em texto e as imagens trazidas.
O professor Sérgio Niculitcheff, que orientou André Berger, observa de forma semelhante. “O trabalho artístico da linha de poéticas não é só a parte textual, envolve a parte prática. Por isso é feita a exposição e a banca é neste formato: para que se possa ver o resultado da produção in loco mesmo. Essa dinâmica é essencial. Precisa olhar a obra para analisar o trabalho textual”.
A satisfação de ver as defesas e a exposição dos alunos na GAIA, garantem os professores, é grande. Como observa Ivanir, o aluno vai criando um percurso próprio, que é impossível para o docente imaginar quando começa a orientá-los. “O percurso é completamente livre. Ele vai criando uma complexidade, uma densidade e vai acontecendo. É só o caminhar que vai determinando e a relação, a confiança. É altamente gratificante esse momento”, assinala a professora.
Trabalhos em exposição
Cinco alunos - dois de doutorado e três de mestrado - defendem suas dissertações e teses até a sexta-feira (31). A visitação, na GAIA, ocorre das 9h às 17h, de segunda a sexta, exceto feriados. A entrada é livre. Confira os trabalhos que estão exibidos:
ENTRE| IMAGENS: Diálogos Híbridos
Exposição da artista Ana Paula Rodrigues de Melo
Orientadora: Profª. Drª. Ivanir Cozeniosque Silva
Esta é a noite: ponta seca e maneira negra
Exposição do artista André Berger
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Niculitcheff.
Desenhos para brincar
Exposição do artista Hélio Lima
Orientadora: Profª Drª Luise Weiss.
Série Artificial de Palavras
Exposição da artista Yuly Marty
Orientadora: Profª Drª Lúcia Eustachio Fonseca Ribeiro.
Ruína e repouso: Pintura, douração e oxidação
Exposição do artista Weslei Lopes Sanches
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Niculitcheff.