Entre os dias 27 e 29 de janeiro, a Secretaria de Vivência nos Campi (SVC) da Unicamp ofereceu aos vigilantes e profissionais de portaria da universidade, servidores e terceirizados, um curso de capacitação e vivência. O objetivo foi de discutir conceitos como os de vigilância universitária, diversidade e saúde mental, além de revisar com os supervisores de segurança os manuais de conduta e procedimentos que devem ser tomados no atendimento a ocorrências. As atividades foram realizadas na Escola de Educação Corporativa da Unicamp (Educorp) e concedeu certificados de conclusão aos participantes.
A programação contou com apresentações e conversas com professores e profissionais de diversas áreas da Unicamp parceiras da SVC, como o Centro de Saúde da Comunidade (CECOM), o Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante (SAPPE) e o recém-criado Serviço de Atenção à Violência Sexual (SAVS). Entre os temas discutidos, estavam o papel dos vigilantes na valorização da diversidade étnica e de gênero na universidade, o combate ao racismo, discriminação de gênero e assédio sexual, a garantia do bem-estar emocional dos estudantes e ações para promover a convivência nos diferente espaços da universidade.
Susana Durão, coordenadora da SVC, explica que os temas vão ao encontro da principal reflexão trabalhada com os profissionais, que é o de repensar o papel da vigilância dentro da Universidade, que é diferente do trabalho realizado e da postura empenhada em outros espaços. "Um vigilante universitário não é apenas um vigilante patrimonial. Ele tem, pelo menos, três aspectos fundamentais a proteger: pessoas, que são o nosso maior patrimônio, tem o patrimônio físico e o ambiental. O vigilante tem que estar atento a essas três dimensões do seu trabalho, sem desmerecer nenhuma delas. Por outro lado, deve ser cada vez mais trabalhado que ele precisa ser um profissional simpático, gentil, com cortesia, que sabe lidar com pessoas, e não em um sentido mais militarista, mais reativo", comenta Susana.
"Nós temos que estar na linha de frente"
A SVC conta hoje com cerca de 480 profissionais, de vigilância e portaria, responsáveis por garantir o bem estar dos mais de 37 mil alunos de graduação e pós-graduação da universidade, além de aproximadamente 17 mil servidores, entre docentes e funcionários técnico-administrativos (dados do Anuário Estatístico 2019). Mais do que atender a demandas que surgem da comunidade universitária, a ideia é que os profissionais tornem-se agentes promotores de uma universidade pacífica e integrada. "Por um lado, nós temos que fazer a vigilância do câmpus, mas também tempos que fazer projetos de vivência. A vivência tem que ser um norte para a nossa vida no campus. E para isso a vigilância faz parte. Criar um ambiente agradável, uma cultura de paz, com a sensação de segurança, é um objetivo principal", explica a coordenadora.
Susana também alerta para a necessidade de os profissionais terem a consciência de que trabalham com um público jovem, contestador, consciente de seus direitos e que se caracteriza pelo desejo de experimentar coisas novas. Além disso, as mudanças ocorridas na sociedade nos últimos anos e as políticas de inclusão adotadas tornaram a Unicamp mais diversa. "Nós temos que estar na linha de frente, os vigilantes são os primeiros a quem muitas vezes chega um problema. Nós lidamos com todos os problemas da Unicamp, mas ao mesmo tempo precisamos sensibilizar essas pessoas, que muitas vezes têm uma tendência mais reativa, da ordem, a lidar com pessoas que estão em formação, com jovens que são desafiadores por natureza. Eles também precisam ter mais tolerância para dialogar, para mediar conflitos", ressalta.
"A gente não pode parar no tempo"
Para quem está há quase vinte anos na universidade, tudo mudou. José Antonio da Silva e Adair Fernandes trabalham na SVC recebendo as demandas das diferentes unidades e distribuindo aos serviços competentes. Eles avaliam que oportunidades como essa, de refletir sobre o trabalho realizado, são necessárias e positivas. José Antonio comenta que hoje eles devem conhecer as demandas de diferentes causas e movimentos incluídos na universidade, como os grupos negros e indígenas, feministas e LGBT.
"Quando a gente entrou (na Unicamp) até tinha, mas hoje é muito mais. O público também mudou, tem mais esclarecimento, mais reivindicações, os alunos têm mais coisas a reivindicar, e a gente está sempre acompanhando. E a capacitação vai para esse lado, para acompanhar a evolução deles. A gente não pode parar no tempo. Quando nós entramos há 17 anos era um público, ideias diferentes, pessoas diferentes. Mas, cada vez mais, as pessoas estão evoluindo, sabendo mais seus direitos e, consequentemente, reivindicando mais esses direitos", relata José Antonio.
Adair observa a grande responsabilidade dos vigilantes em atender casos de alunos que enfrentam dificuldades de ordem psicológica. Para ela, é a principal demanda para a qual eles precisam se manter atentos e atualizados. "É o que mais mudou de lá para cá, antes a gente nem ouvia falar disso. Hoje a maior parte das ocorrências são de pessoas que precisam de auxílio nessa área. É extremamente importante que a gente esteja atualizado", afirma Adair.