Como equilibrar a urbanização à natureza? Para o professor do Politécnico de Milão Fabiano Lemes de Oliveira, uma via possível é o urbanismo de cunhas verdes, um modelo que propõe a penetração linear da natureza nas cidades. Fabiano, que é arquiteto e urbanista com experiência na área de planejamento ambiental, ministrou uma aula pública na segunda-feira (2) para explicar como as cunhas verdes podem ser aplicadas ao urbanismo, tornando as cidades mais resilientes e sustentáveis. O evento fez parte do workshop “Nature-based solutions and green urbanism”, que segue até o dia 9 de março e servirá também para auxiliar nas diretrizes de elaboração do masterplan do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável de Campinas (HIDS).
A aula do professor, realizada na Faculdade de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo (FEC), foi embasada no livro de sua autoria, o Green Wedge Urbanism (Cunhas Verdes no Urbanismo). O modelo das cunhas, difundido ainda na primeira metade do século XX, é pesquisado por Fabiano por sua capacidade de atuar na resolução do paradoxo entre o crescimento da população e a diminuição das mudanças climáticas. “Quanto mais urbanização nós temos, maior é o impacto sobre o planeta e menor a presença de áreas verdes. Como equacionar? Isso é o que precisamos resolver”, afirmou.
Diferente do modelo de cinturões verdes, que concentram as áreas preservadas geralmente longe do alcance da população, o modelo das cunhas verdes baseia-se em uma distribuição mais dinâmica, de forma que a sociedade também seja chamada a interagir com estes espaços. “Re-naturalização” e “integração sistêmica” são palavras-chave neste processo. Como diretrizes pensadas através dos estudos de caso sobre as cunhas verdes, Fabiano cita a continuidade dos corredores ecológicos, auxiliando na riqueza da fauna e flora; áreas de acesso público e integração dos serviços ecossistêmicos, como aqueles voltados ao lazer e à prática de esportes.
O arquiteto e urbanista também indica que a efetividade das ações na diminuição dos impactos ambientais e sobre as mudanças climáticas só será alcançada se houver uma combinação de ações em diversos âmbitos. “Todos os casos de sucesso de transformação das áreas verdes das cidades são baseados em pensamento sistêmico. Não é um pensamento só das áreas verdes, não é só do transporte. Esses processos precisam estar cada vez mais integrados”.
O desenvolvimento do HIDS, para Fabiano, será uma importante experiência, já que se trata de um espaço em que todo esse conhecimento poderá ser aplicado. “Aqui na Unicamp vocês têm uma posição muito privilegiada de fazer algo com o HIDS que seja um exemplo para o mundo. Temos uma série de projetos de soluções baseadas na natureza e há poucas referências de países do Brasil ou de outros países do sul global”, pontou.
O HIDS
O HIDS prevê a ocupação de uma área de 11 milhões de m² contígua ao terreno da Unicamp, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e é fruto de uma parceria entre estas instituições, junto à Prefeitura de Campinas e ao Governo do Estado de São Paulo. Na Unicamp, ele é encabeçado pela Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (Depi).
Pensado como um espaço inovador e de uso misto, contemplando moradias, empresas e serviços, o HIDS deverá alinhar-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é um dos financiadores do HIDS, com o investimento de U$ 1 milhão no projeto.
Uma equipe de arquitetos da PUC, da Prefeitura de Campinas e da Unicamp, coordenados pela professora da FEC Gabriela Celani, guia o plano, que será executado pela Korea Research Institute for Human Settlement (KRIS). Gabriela, responsável pelo contato com a empresa, conta que a atividade com o professor Fabiano faz parte de uma série de atividades que visa criar oportunidades de envolver a sociedade sobre as expectativas em relação ao HIDS. E, além disso, busca envolver os pesquisadores com acúmulo técnico e científico para dar embasamento e diretrizes ao masterplan.
“Nós estamos fazendo essas ações com pessoas que têm conhecimento e estudos na área de planejamento, urbanismo e biologia e que podem contribuir com o seu conhecimento. A ideia é utilizar tudo para fazer a comunicação com a empresa”, pontua. Outra ação que já ocorreu nesse sentido foi o fórum sobre o HIDS, modelos de hubs e de sustentabilidade.