A aplicação da matemática para resolver questões ligadas aos cânceres foi o objetivo de um curso de verão realizado pelo Instituto de Matemática e Estatística e Computação Científica da Unicamp (IMECC), em cooperação com o Centro Infantil Boldrini. As aulas aconteceram entre janeiro e fevereiro e resultaram em estudos sobre temas relacionados à ocorrência de câncer.
A disciplina, com o nome "Tópicos de modelagem matemática para problemas relacionados ao câncer infantil", foi ministrada pelo professor João Frederico Meyer, conhecido como Joni. O docente conta que os alunos foram até o Centro Infantil Boldrini, referência na oncologia e hematologia pediátrica, com o objetivo de conhecer os problemas mais recorrentes na área de pesquisa. Após, as questões foram levadas às aulas, resultando em hipóteses e na formulação de modelos matemáticos com o objetivo de dar andamento aos estudos.
Divididos em grupos, os estudantes desenvolveram pesquisas em torno de temas como a relação entre a venda de agrotóxicos e a ocorrência de câncer nos estados; o cloro e clorofórmio no organismo humano e como podem representar um produto cancerígeno; a presença de glifosato afetando o crescimento de embriões de peixe zebra (espécie amplamente utilizada na pesquisa biomédica por sua semelhança com a genética humana); a relação entre câncer diagnosticado e números de mamógrafos disponíveis nos estados brasileiros e o câncer de rim e o comportamento dos quatro tipo de células do órgão, investigando, por exemplo, as possibilidade de crescimento do tumor no tecido.
A ideia de ofertar o curso de verão foi do professor Ricardo Belotti, a partir de uma palestra realizada pela professora da Faculdade de Ciências Médicas e presidente do Centro Boldrini, Silvia Regina Brandalise. Na ocasião, foi abordada a exposição humana a produtos cancerígenos. "Ela mostrou para a gente como estamos cercados de produtos que causam câncer e da vinda dela nasceram alguns projetos de cooperação", afirma o professor Joni.
A matemática empregada na área da saúde é vista pelo docente como uma ferramenta valiosa. “A matemática tem sido capaz de olhar para um problema globalmente. Ela não olha para a doença agindo só para a pessoa, mas também agindo na sociedade. Olha o contágio, se está crescendo, se está parando de crescer, se a doença vai ficar endêmica. Às vezes esse olhar nos leva à compreensão de um fenômeno”, afirma.
A transdisciplinariedade, para ele, enriquece a abordagem dos problemas. "Ninguém consegue estudar um problema com todas as suas variáveis, o problema é como escolher as variáveis mais importantes para tirar conclusões, então a modelagem matemática tem sido muito usada".
Dois trabalhos já foram submetidos ao Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional, que ocorre em setembro, e outros estão em processo de finalização. Após, o professor conta que será realizado um relatório para o Centro Infantil Boldrini, com o objetivo de manter a interlocução.
“O apoio do Centro Boldrini foi espetacular. Agora estou esperando todos os trabalhos serem submetidos para fazer um relatório para eles. A cooperação foi excelente e o entusiasmo dos alunos contagiante”, pontua.