Durante o mês de março, a Biblioteca Octávio Ianni do IFCH da Unicamp apresenta a exposição Costura de tempos: Os elos silentes da biblioteca de Etienne Samain. O evento celebra a doação da biblioteca pessoal do professor Etienne à Biblioteca. A mostra pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9 às 22h30.
Leia abaixo texto produzido pela curadora da exposição, Fabiana Bruno*.
"Esta exposição é feita de livros, de imagens, de pontos de interrogação. Uma orquestração discreta de sentidos e conhecimentos. Costura de tempos: Os elos silentes da Biblioteca de Etienne Samain têm como ponto de partida um ato de doação. Em 2019, a Biblioteca Octávio Ianni – IFCH Unicamp recebeu 2.400 volumes, em caráter de doação feita pelo Prof. Dr. Etienne Samain, antropólogo, teólogo e professor titular aposentado do Programa de Pós-Graduação em Multimeios-IA-Unicamp).
Nascido na Bélgica, doutor em exegese bíblica pela Universidade Católica de Lovaina, chegou no Brasil, em 1973, como professor de exegese neo-testamentária, na PUC-RJ. Sacerdote desde 1962, deixou o ministério eclesiástico em 1974 e, em 1976, ingressou no Museu Nacional do Rio de Janeiro, para cursar o mestrado em Antropologia Social. Dois anos mais tarde, coordenou o novo Programa de Antropologia Social da UFRN e, em 1984, foi convidado pela UNICAMP para implantar, ao lado de outros colegas, o Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes.
Mais que uma coleção de livros, esta exposição desvenda a paixão de um pesquisador dedicado a romper fronteiras e conectar campos do saber: a fala, a escrita, as imagens, a memória, a antropologia e as artes. Uma paixão que Etienne Samain revela numa longa anamnese que escreveu para esta exposição e que encontra-se disponibilizada para leitura dos visitantes por meio de um código de resposta rápida (QR Code), que pode ser escaneado em um dos painéis.
O conjunto de nove vitrines formam nesta exposição uma grande “mesa de trabalho e montagem” revelando as afinidades intelectuais de Etienne Samain. A grande mesa é abraçada por painéis que mostram a produção fotográfica de Etienne Samain junto a duas comunidades indígenas de língua tupi, os Kamayurá do Alto Xingu-MT e os Ka´apor das cabeceiras do Rio Gurupy-Ma, quando, nos anos 1977 a 1981, dedicava-se ao estudo das narrativas míticas. O restauro e a seleção dessas fotografias foram realizados, sob a supervisão de Etienne, por Françoise Biernaux, sua companheira, que, participa diretamente da expografia e produziu dois vídeos para essa mostra.
Com esse conjunto de obras, esta curadoria procura ressaltar os repertórios silenciosos e ao mesmo tempo musicais que orquestraram relações entre os livros da Biblioteca de Etienne Samain e sua produção científica. Um legado que deixa transparecer sua aposta em um conhecimento sistêmico e transdisciplinar, onde os livros são reservatórios vivos de pensamentos humanos.
Foi, aliás, com a alusão “minha biblioteca viajou” que Etienne Samain se referiu ao seu gesto de doação, na tarde de verão de 2019. Desde então, seus livros inauguraram na Biblioteca Octávio Ianni uma catalogação dedicada à Antropologia Visual e à Antropologia das Imagens. Que a viagem das ideias por meio dos livros reverbere entre as futuras gerações, merecedoras de uma sociedade em que as ciências humanas sejam chaves para abertura de horizontes e quebras de paradigmas em direção a outros possíveis mundos."
*Fabiana Bruno (curadora e pesquisadora do La'Grima (Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem e do Departamento de Antropologia - IFCH)
Leia matéria sobre a doação do acervo realizada por Etienne Samain.