Unicamp se reorganiza para enfrentar o coronavírus

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No dia 10 de março, o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, se reuniu com representantes de diversos setores da comunidade universitária para definir um plano institucional de enfrentamento à pandemia de coronavírus. O objetivo era determinar uma resposta efetiva a essa nova realidade, com recomendações e orientações à comunidade interna, alinhadas à Organização Mundial da Saúde e ao Ministério da Saúde. Naquele momento, o Brasil registrava 34 casos confirmados de coronavírus e nenhuma morte. Em apenas dez dias, porém, esse número subiria rapidamente, chegando a 621 casos confirmados, com sete mortes, segundo balanço do Ministério da Saúde.

Reitor Marcelo Knobel
Reitor Marcelo Knobel

“Nosso maior desafio é manter um sistema tão complexo em funcionamento sem expor seus integrantes a riscos desnecessários”, pondera o reitor Marcelo Knobel. “Nesse sentido, iniciamos uma campanha de conscientização sobre procedimentos que ajudam a conter o avanço da doença e tomamos medidas para evitar aglomerações no campus, estimulando o trabalho remoto”, pontua. “Cada pessoa é fundamental nesse processo, e são momentos como este, de gravidade nunca vista na história da Unicamp, que fazem a sociedade valorizar e compreender a nossa existência”.

Desde a primeira reunião, no dia 10 de março, diversas medidas foram tomadas para reorganizar as atividades nos campi de Campinas, Limeira e Piracicaba. A primeira delas foi a constituição de um comitê de crise, que passou a reunir-se diariamente para acompanhar a evolução do cenário na Unicamp, no Brasil e no mundo. Com base nesse acompanhamento, e fundamentado em dados científicos sobre a evolução da pandemia, no dia 12 de março o reitor anunciou a suspensão de todas as atividades presenciais nos três campi da Universidade. Inicialmente, a interrupção foi estabelecida de 13 a 29 de março, mas já no dia 16 esse período foi ampliado para até 12 de abril.

atualização: De acordo com a Resolução GR 34/2020, de 22 de março, foi prorrogada a ampliação do período de suspensão de atividades presenciais na Unicamp até o dia 30 de abril. 

Em entrevista coletiva concedida no dia 13 de março, Knobel explicou que o objetivo era estimular o isolamento social como forma de reduzir a velocidade da disseminação do vírus para evitar uma sobrecarga repentina em todo o sistema de saúde. Além disso, segundo ele, a suspensão das atividades se justificava devido a fatores próprios da instituição, que poderiam agravar a proliferação do coronavírus, tais como a movimentação intensa de pessoas pelo campus, o grande fluxo de estudantes e professores vindos do exterior e a realização de eventos que favoreciam aglomerações, um dos principais meios de transmissão.

"Grande parte das pessoas que vêm para os hospitais da Unicamp usam os mesmos ônibus, o mesmo transporte, e as pessoas que trabalham ou vão para o hospital compartilham os mesmos refeitórios”, ponderou. “É uma situação bastante diferenciada, que envolve uma ampla faixa de usuários, de todas as idades”, explicou.  "Sabemos que é uma decisão drástica, mas baseamos nossa opção em indicadores científicos e preferimos pecar pelo excesso de zelo do que pela omissão", pontuou.

A princípio, a decisão foi criticada por setores do governo e do próprio meio acadêmico, que consideraram a medida exagerada e precipitada. No dia seguinte, porém, um comunicado do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), anunciava que a Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) seguiriam a Unicamp e suspenderiam as atividades presenciais a partir de 17 de março. Enquanto isso, no dia 15, o governo estadual anunciava o fechamento de museus, bibliotecas e centros culturais, além de determinar que todos os funcionários públicos com mais de 60 anos passassem a trabalhar a partir de casa, com exceção dos setores de segurança pública e de saúde.

O plano de ação definido pela Unicamp deu ênfase à comunicação, com a criação de um hot site que abriga notícias, medidas institucionais, orientações e uma seção de perguntas e respostas sobre coronavírus. A área de saúde disponibilizou um email (coronavirus@unicamp.br) e um número telefônico (19-35217400) para esclarecer dúvidas e prestar orientações. A mesmo tempo, passou a ser divulgado um boletim diário com dados sobre casos suspeitos e confirmados de pacientes atendimentos no Hospital de Clínicas e Centro de Saúde da Comunidade (Cecom).

Todo esse conteúdo migrou para as redes sociais da Universidade, potencializando a divulgação de informações de interesse público. Em bate-papo realizado no dia 16 de março, por exemplo, com transmissão ao vivo pelo Facebook, Knobel e o assessor da Diretoria Executiva da Área da Saúde (Deas), Maurício Etchebehere, detalharam as regras para o funcionamento da universidade durante a pandemia de coronavírus.

Com a suspensão das aulas presenciais, a Unicamp buscou manter as atividades acadêmicas por meio de tecnologias digitais de ensino, possibilitando aos docentes a realização de atividades remotas. A medida foi determinada por meio da Resolução GR 25/2020.  Segundo a pró-reitora de Graduação, Eliana Amaral, os docentes contam com apoio do Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem - (EA)² e do Grupo Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE) da Unicamp. Os dois órgãos atuam na busca por soluções para o desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional dos professores da universidade e no desenvolvimento de novas metodologias que possam explorar as potencialidades das ferramentas digitais.

"Temos uma grande variedade de professores, desde os que são mais leigos no uso de tecnologias até os mais experientes, que participam das atividades da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), então a página é simples e direta", destaca Marco Antonio de Carvalho, coordenador do GGTE. Ele explica que as plataformas digitais disponíveis, principalmente os sistemas Moodle e Google Classroom, permitem que os docentes criem ambientes virtuais de interação com os alunos, por meio de canais de áudio e vídeo, gravem aulas em vídeo utilizando slides e telas explicativas e publiquem esses conteúdos e os disponibilizem aos alunos ou ainda ao público em geral, como é o caso dos cursos no formado MOOC (Massive Open Online Courses). No dia 20 de março a pró-reitora de Graduação, Eliana Amaral, e a pró-reitora de Pós Graduação, Nancy Garcia, participaram de um bate-papo sobre as adaptações nas atividades de ensino e pesquisa, transmitido ao vivo pelo Facebook.

Ainda no campo do ensino e da pesquisa, a Biblioteca Central Cesar Lattes (BCCL) criou uma rede de apoio com atendimento virtual aos estudantes, docentes e pesquisadores. Na página do Sistema de Bibliotecas da Unicamp constam várias orientações para a comunidade universitária interessada em fazer uso do atendimento. Entre os serviços e recursos informacionais está o acesso a periódicos eletrônicos, e-books e livros eletrônicos para graduação. A BCCL disponibilizou também um Plano de Contingência com recomendações gerais e de atendimento ao usuário para todo o Sistema de Bibliotecas da Unicamp. 

O Programa de Moradia Estudantil disponibilizou um Informativo contendo orientações sobre procedimentos a serem adotados pelos moradores. A publicação ressalta a natureza das atividades da Moradia Estudantil, que exige alto grau de conscientização sobre os efeitos da pandemia do novo coronavírus, pois reúne em suas dependências alunos de todas as regiões do país e do exterior.

Em alguns setores, porém, a movimentação ganhou intensidade. É o caso da área da saúde da Unicamp, que presta assistência exclusivamente pelo SUS a uma população de mais de 6,5 milhões pessoas e compreende, entre outras unidades, o único hospital de alta complexidade da região de Campinas e um dos poucos que são referência no Estado para o enfrentamento da COVID-19. “As atividades da área da saúde não podem de forma alguma ser interrompidas ou contingenciadas”, afirma o reitor. “Pelo contrário, precisam ser ampliadas e intensificadas para corresponder às necessidades deste momento crítico”. Segundo Knobel, a área da saúde da Unicamp cumprirá um papel social ainda mais relevante. “É importante que a comunidade acadêmica e a sociedade em geral reconheçam o esforço e o empenho de todas as pessoas que, de uma maneira ou outra, fazem essa engrenagem funcionar”.

Entre as medidas adotadas para enfrentar o coronavírus na região, o Hospital de Clínicas (HC) anunciou a suspensão de todas as cirurgias eletivas a partir de 23 de março por um período de 60 dias. O hospital também se prepara para abrir mais 40 leitos de UTI com todo suporte necessário para futuros pacientes de COVID-19. Cirurgias de urgência e emergência foram mantidas, enquanto as cirurgias eletivas consideradas imprescindíveis, passaram a ser avaliadas pelas equipes em acordo com a coordenação de assistência. Também foi suspensa, a partir de 19 de março, a realização de procedimentos e consultas ambulatoriais.

Já o ambulatório de oncologia e quimioterapia, bem como infusão de medicamentos biológicos e consultas pós-operatórias, estarão mantidos. Os atendimentos ambulatoriais considerados essenciais e que necessitem de atenção contínua, serão avaliados pelas equipes do setor. O Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) seguirá atendendo normalmente e todos os casos suspeitos de COVID-19 estão sendo notificados, testados e acompanhados, com as devidas orientações aos usuários.

Numa outra frente, a da pesquisa, a Unicamp também desenvolve ações no combate ao coronavírus. Uma equipe do Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (LEVE) do Instituto de Biologia (IB), em colaboração com outros docentes do IB, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e do LNBio, começou o processo de elaboração de um teste para a detecção do Covid-19. A partir da amostra do coronavírus do primeiro paciente infectado no Brasil, os pesquisadores iniciaram os procedimentos que visam dar agilidade ao diagnóstico local e, assim, contribuir para o controle da doença.

“Se tudo funcionar bem, em breve poderemos ter a primeira reação de detecção de coronavírus funcionando em Campinas”, disse o coordenador do LEVE, José Luiz Proença Módena. Nesse momento, o trabalho consiste numa assessoria para implementar a detecção do vírus localmente, dentro da Unicamp, como uma alternativa de suporte aos laboratórios de referência.

“As universidades, sobretudo as públicas, têm o dever de prosseguir com suas atividades de pesquisa, a despeito das restrições que a situação impõe a toda a sociedade”, diz o reitor Marcelo Knobel. Segundo ele, as pesquisas, representam um investimento social enorme, que não pode ser desprezado, nem minimizado.

A Unicamp também criou um núcleo de voluntariado para atuar durante a pandemia. O cadastro de voluntários pode ser feito por meio de um link no site da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH). De acordo com a professora Dora Kassisse, assessora do Gabinete do Reitor (GR), alguns voluntários já trabalham no levantamento dos alunos que precisam de equipamentos de informática para fazer disciplinas à distância, como tablets, laptops ou celulares. Questionários estão sendo criados para identificar as demandas da comunidade ou mesmo saber se há possibilidades de empréstimo de equipamentos.

A Unicamp também irá emprestar equipamentos para ensino não presencial. Uma conta bancária já foi criada para quem quiser ajudar financeiramente os que tiverem necessidade e, a partir de 24 de março, o Restaurante Universitário vai oferecer refeições para funcionários em atividades essenciais, além dos alunos já cadastrados no Serviço de Apoio ao Estudante (SAE).

O reitor Marcelo Knobel disse que é reconfortante ver como, nestes momentos difíceis, a solidariedade surge como ponto de apoio às medidas institucionais. “Esta rede de voluntariado vai ser fundamental para enfrentarmos este momento tão difícil”, pondera. “Contamos com colaboração de todos”.

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Imagens de treinamento para enfrentar o COVID-19 na área da saúde da Unicamp

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004