Professora Ana Carolina Maciel torna-se Fellow do Instituto Convergences Migrations

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A pesquisadora Ana Carolina Delfim Maciel, professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Unicamp, foi convidada para ser Internacional Fellow no Institut Convergences Migrations (IC Migrations) de Paris. Ana Carolina preside a Cátedra Sérgio Vieira de Melo na Universidade e possui uma trajetória de pesquisa ligada à produção audiovisual enquanto ferramenta da história, notadamente voltada à trajetórias de vida e reflexões sobre as implicações da memória.

Como Fellow do IC Migrations, organização que congrega oito instituições francesas de pesquisa, a professora receberá, durante três anos, financiamento e estrutura física no Instituto para a realização de suas pesquisas na área de migrações. Ela será afiliada do Departamento de Política do IC, dirigido por Michel Agier, antropólogo que é uma das grandes referências mundiais em pesquisas sobre refúgio e migração.

audiodescrição: fotografia colorida da professora Ana Carolina junto ao professor Michel Agier
Ana Carolina e o professor Michel Agier, do Institut Convergences Migrations

“Fazer parte do IC Migrations possibilitará uma interlocução fecunda, não apenas pela oportunidade de refletir e debater aspectos da minha pesquisa com o professor Agier, mas também pela convivência com colegas de várias partes do mundo, refletindo numa amplitude global, e interdisciplinar, a temática do refúgio”, pontua a professora, que também dirige a Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen) da Unicamp.

Trajetória acadêmica

Ana Carolina possui graduação, mestrado e doutorado na Unicamp, com período sanduíche no Centre de Recherches Historiques da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) em Paris. Seu pós-doutorado foi realizado na Universidade de São Paulo (USP) e na EHESS. Ao longo de sua trajetória acadêmica vem realizando, paralelamente às pesquisas teóricas, narrativas audiovisuais que resultam em documentários.

“Há mais de duas décadas que me dedico às trajetórias de vida, e consequentemente à memória, e foi assim que comecei a captar depoimentos audiovisuais de refugiados", conta. As entrevistas se voltaram inicialmente aos venezuelanos, africanos e sírios, escopo que pretende ampliar. “No projeto Retratos Falados venho gravando depoimentos com refugiados e nesse processo me deparo com a indagação de qual seria, afinal, o lugar da fala dessas vítimas que prosseguem compelidas a deixar suas casas, bairros, cidades, países, continentes, solicitando refúgio mundo afora”.

A partir da perspectiva de registrar trajetórias de indivíduos que surgiu seu interesse de trabalhar com refugiados. “Posso dizer que teve um componente muito subjetivo que me impulsionou: a trágica imagem do pequeno refugiado, Aylan Kurdi, vítima de afogamento. Mas foi essa tragédia que me levou a refletir como imagens desoladoras, por vezes amplamente divulgadas durante certo período, culminam entre o choque extremo e o esquecimento", compartilha.

Em 2019, quando a cátedra Sérgio Vieira de Melo foi criada na Universidade, Ana Carolina foi convidada pelo reitor Prof. Marcelo Knobel, para assumir a presidência. A cátedra é uma iniciativa da Agência do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), em parceria com 22 universidades no Brasil, que tem como objetivo a promoção do ensino, da pesquisa, da extensão acadêmica e de ações para a população em condição de refúgio no Brasil e na América Latina. 

Perspectivas de pesquisa no IC

audiodescrição: fotografia colorida da professora Ana Carolina
Professora projeta estudar produção e recepção de narrativas acerca de refugiados em documentários

No momento, Ana Carolina elabora seu projeto de pesquisa como Fellow no IC, que será focado em analisar a produção e a recepção de documentários sobre o tema dos refugiados. Um dos questionamentos que a norteia é a como vem sendo concebida uma narrativa sobre os refugiados em tais documentários, em sua maioria desconhecida de um público mais amplo.

“Atualmente são mais de 70.8 milhões de refugiados espalhados pelo mundo. A maioria em condições degradantes: seja nos campos de refugiados, em países de acolhida - muitas vezes em condições indignas -, alguns encarcerados ou na completa clandestinidade. Esses indivíduos têm uma vida pregressa, obrigados a deixar suas famílias e sonhos, forçados a abandonar culturas e hábitos, vivendo dispersos ou aglomerados em campos, sem liberdade de ir e vir, em provisórias tendas ou contêineres. Meu intuito com essa pesquisa é justamente trazer a luz como esse drama vem sendo retratado em documentários audiovisuais”, afirma.

Para a professora, a situação dos refugiados ainda é pouco conhecida para um público mais amplo. Pesquisas nessa área, assim, podem contribuir para um redimensionamento da situação. “É a maior crise humanitária desde o pós Segunda Guerra Mundial. Porque estamos imersos nessa 'amnésia' do tempo presente?”.

Imagem de capa
audiodescrição: fotografia colorida da professora Ana Carolina Maciel

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004