FCM é unidade destaque em parcerias no Prêmio Inventores 2020

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A FCM foi a unidade que mais licenciou tecnologias em 2019. Foram sete licenciamentos: cinco referentes ao software CranFlow, da professora Vera Lúcia Gil da Silva Lopes, e dois ligados à tecnologia de Fios de Sutura, dos docentes Joaquim Murray Bustorff e Ângela Cristina Malheiros Luzo.

“Essa conquista representa uma das mudanças mais fundamentais para o país em termos de desenvolvimento. Nós sempre tivemos no Brasil uma produção científica muito arrojada, mas que não estabelecia muito diálogo com a outra ponta. Nesse caminho, continuamos a trabalhar na pesquisa abstrata, evoluindo conceitos, mas também estamos atuando em demandas de curto e médio prazo, atendendo outras necessidades importantes”, avalia o coordenador da Comissão de Pesquisa da FCM, professor Andrei Sposito.

Fato que expôs ainda mais a importância do estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento, na visão de Sposito, foi a pandemia de COVID-19. “A ciência costuma passar despercebida da sociedade, até por ser algo muito técnico e distante da realidade das pessoas. Mas são momentos como esse que ressaltam o quanto fazer ciência é relevante. Um processo que tradicionalmente é mais lento e minucioso tem hoje diante de si o desafio de fazer algo rápido, harmônico e orquestrado à nível mundial. Daí a importância de um arcabouço científico forte”, afirma.

Os números da inovação

A Faculdade de Ciências Médicas possui hoje 108 pedidos ativos no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), sendo 72 registros de patentes e 36 programas de computador. Entre os domínios tecnológicos, Farmacêutica e Tecnologia Médica se destacam como as mais proeminentes. O tempo médio entre pedido e concessão gira em torno de 11 anos, de acordo com o departamento de Propriedade Intelectual da Inova Unicamp.

De acordo com Sposito, outra marca forte da FCM são os projetos em colaboração. Além de terem tecnologias desenvolvidas em parceria com outras unidades da própria Unicamp, Unesp, com três patentes em cotitularidade, e Unioeste, com cinco, foram as instituições de destaque nessas interações. “Destaco, inclusive, a força-tarefa contra o COVID-19 realizada no âmbito da universidade, com a criação de grupos multidisciplinares, envolvendo não só a FCM, mas muitas outras unidades da Unicamp”, completa.

“Este resultado é consequência dos investimentos que têm sido feitos para o desenvolvimento e realização de pesquisas nos últimos 25 anos. Observa-se um crescimento significativo na captação de recursos para pesquisas, implantação e expansão de laboratórios, publicações e, mais recentemente, patentes”, afirma o Diretor da FCM, professor Luiz Carlos Zeferino.

Contato com o mercado para uma formação melhor

Os benefícios da pesquisa aplicada a necessidades reais extrapolam ainda para a formação mais sólida dos alunos envolvidos nessas atividades. “Saem daqui profissionais que valorizam a ciência, que sabem identificar oportunidades e que desenvolvem um pensamento lógico para resolver problemas”, avalia Sposito.

Exemplo disso é o aluno doutorado da FCM, Bruno Bosch Volpe, que atuou junto dos professores Joaquim Murray Bustorff e Ângela Cristina Malheiros Luzo no projeto que originou a patente do fio de Sutura. A tecnologia é aplicável a tratamentos e processos de cicatrização e recuperação de tecidos, tanto em humanos quanto animais, sem fibrose.

“Eu me envolvi muito com o projeto e fui observando que o que começou no escopo de pesquisa encontrou caminhos para dar certo e ajudar muitas pessoas. Tornou-se um propósito pessoal de oferecer algo mais eficaz e mais barato ao sistema de saúde”, afirma Volpe.

Em termos práticos, a tecnologia, que aguarda processos clínicos no momento, representa um grande avanço na recuperação de pacientes. No caso da doença de Crohn, uma infecção no sistema digestivo que acomete mais de 150 mil brasileiros todos os anos,  significa o processo de cicatrização de 7 a 10 dias, diminuindo o tempo de internação do paciente e melhorando ainda a qualidade de vida pós cirúrgica.

“Para nós, é um orgulho muito grande poder contribuir com o desenvolvimento de uma tecnologia relevante e brasileira”, reforça a professora Ângela.

À medida que o projeto foi avançando, oportunidades de transformá-lo em negócio foram avançando em paralelo. Em 2015, a tecnologia foi escolhida por um grupo de alunos da graduação para participar do Desafio Unicamp, competição de modelos de negócios para as patentes da Unicamp, liderada pela Agência de Inovação da Universidade. À época, Bruno Volpe atuou como mentor acadêmico dos alunos, cooperando com o entendimento da tecnologia e suas aplicações. “No começo, eu era muito novo. Não tinha viés de negócio e nem compreensão de todo esse processo. Foi então que percebi que a pesquisa tinha sim, potencial para ser um produto de inovação brasileira”, relembra.

Decidiu então que era hora de apostar. O estudante de doutorado decidiu empreender, fundando a IBB – Inovações em Biomateriais, ao lado dos sócios Álvaro Cesar Vieira de Oliveira e Roberto Mountran de Oliveira, e sendo a empresa a responsável pelos dois licenciamentos da tecnologia Sutura no ano passado.

“Estamos confiantes no que temos trabalhado e no potencial de aplicação da tecnologia. Vemos também a importância de nos mantermos próximos à universidade para darmos continuidade ao processo de desenvolvimento”, finaliza Volpe.

Com o mesmo propósito de fazer a diferença, a professora Vera Lúcia Gil da Silva Lopes atuou no desenvolvimento da CranFlow, uma ferramenta para gerenciamento de base de dados em anomalias craniofaciais.

O Brasil é considerado uma referência mundial no tratamento de anomalias craniofaciais, com hospitais públicos de excelência desempenhando esse trabalho. Entretanto, segundo a docente, o país esbarra na dificuldade de acesso à avaliação diagnóstica e aconselhamento genético das famílias, que consiste em verificar a probabilidade de doença genética.

Desenvolvida com a colaboração da professora Isabela Lopes Monlleó, da Universidade Federal de Alagoas e as bolsistas Roberta Aquino, Elaine Lustosa-Mendes e Maria Fernanda Bittar, foram três anos dedicados à tecnologia entre desenho, desenvolvimento, implantação e fase de teste. Hoje, o software está licenciado gratuitamente para seis locais e há ainda quatro em tramitação. “Desses, cinco são hospitais de alta complexidade para tratamento de anomalias craniofaciais”, revela.

No momento, cerca de 1,6 mil famílias estão registradas no sistema. Dessas famílias, cerca de 650 puderam ser atendidas para investigação e aconselhamento genético. Com os dados e segmentos clínicos, a CranFlow poderá dar subsídios às políticas públicas nessa área. “E, no futuro, propiciar abordagens baseadas em evidências específicas da população brasileira, inclusive regionalizadas.”

“A universidade e a Faculdade de Ciências Médicas buscam retornar os recursos investidos em diferentes contextos, não só em educação, mas também em novos conhecimentos e tecnologias que, nem sempre são claros à comunidade, mas impactam positivamente nosso dia a dia”, finaliza a docente.

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Fachada do prédio da Faculdade de Ciências Médicas

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