Covid-19: em que pé está?
A pandemia da Covid-19 provocou crises – sanitária, econômica e social - sem precedentes em todo o mundo e no Brasil. O enfrentamento dessas crises levou também a uma mobilização sem precedentes da ciência e de ações e redes de apoio, particularmente nas universidades públicas. O extraordinário engajamento da comunidade acadêmica resulta também em um impressionante volume de notícias, contribuindo involuntariamente para a infodemia: “um grande aumento no volume de informações associadas a um assunto específico, que podem se multiplicar exponencialmente em pouco tempo devido a um evento específico, como a pandemia atual”, segundo folheto da Organização Mundial da Saúde. A infodemia torna difícil para o público acompanhar o desenvolvimento das pesquisas e seus resultados, das iniciativas de monitoramento da pandemia e dos projetos sociais para mitigar os efeitos da crise. Nesse contexto, torna-se insuficiente dar acesso a informações certas, no tempo certo e no formato certo, características essenciais preconizadas pelo portal da Unicamp. É preciso também fornecer ao público balanços periódicos de como caminham todos as ações e iniciativas noticiadas nos últimos três meses. A segunda reportagem da série mostra como a campanha Unicamp Solidária está ajudando famílias em situação de vulnerabilidade social a enfrentar a crise financeira gerada pelo Coronavírus.
Da redação
Os novos casos diários de infecção pelo novo coronavírus contabilizados pelas autoridades de saúde são apenas a ponta do iceberg na crise provocada pela pandemia. As perspectivas econômicas para 2020 mostram que, mesmo sendo possível superar os problemas sanitários que o país enfrenta, milhões de pessoas ainda vão sofrer com o desemprego e o empobrecimento. Um levantamento recente feito pelo Fundo Monetário Intenacional (FMI) estima que a economia brasileira pode sofrer um recuo de até 9,1% em 2020. Segundo o IBGE, a taxa de desocupação no país subiu de 11,2% para 12,6% entre janeiro e abril. No entanto, o saldo pode ser ainda maior, já que, por conta da necessidade de isolamento social, muitas pessoas não conseguem procurar emprego e ficam invisíveis nas pesquisas.
Em Campinas, a situação não é diferente. Segundo informações da Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos (SMASDH), cerca de 9 mil famílias entraram em situação de vulnerabilidade social por conta da pandemia e foram incluídas no cadastro dos beneficiados pela secretaria, que já contava com 32 mil famílias. De acordo com a secretária municipal, Eliane Jocelaine Pereira, é possível que esse número aumente no curto prazo. "Já há projeções de aumento do desemprego em razão do isolamento, das dificuldades econômicas. Nós calculamos então que cerca de mais 5 mil famílias entrem em situação de vulnerabilidade social nesses próximos meses", avalia Eliane.
Para contribuir com a realidade dessas pessoas e permitir que as inovações produzidas pela universidade potencializem o trabalho das instituições públicas, a Unicamp vem realizado a campanha Unicamp Solidária. A ação tem o objetivo de arrecadar recursos para a compra de cestas básicas que são direcionadas ao Banco de Alimentos de Campinas e distribuídas a famílias em situação de vulnerabilidade por meio de entidades assistenciais. Conta também com empresas parceiras, como o iFood, o Projeto Comemos, o Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun e a Fundação Itaú Social.
Até o momento, a campanha já arrecadou mais de R$ 1,3 milhão e superou o valor de 9,4 mil cestas básicas adquiridas. "Nós estamos felizes com os resultados, com a entrada do Itaú Social na campanha nós já passamos de R$ 1,3 milhão, isso representa cerca de 25 mil cestas, é algo ótimo. Mas, ao mesmo tempo, é preocupante se pensarmos que em Campinas temos mais de 25 mil famílias em situação de vulnerabilidade, não sabemos quanto tempo essa crise vai durar, então pode ser que a gente precise chegar nessas famílias mais de uma vez. Por isso, a gente pode dizer que a campanha está começando, ela precisa do apoio da comunidade", pontua Marco Aurélio Lima, diretor executivo da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (Depi) da Unicamp, unidade que coordena a campanha.
Diálogo com a comunidade e pandemia
Lançada oficialmente em 3 de junho, mas já em atividade desde o início de maio, a campanha Unicamp Solidária surgiu a partir da identificação de que era necessário a universidade agir em prol da população de Campinas mais vulnerável por conta da pandemia do novo coronavírus. A coordenação das ações é feita pela Depi, que possibilita a integração de diversos órgãos da Unicamp com as instituições e entidades que podem contribuir para o trabalho solidário. "Uma das missões da Depi é não falar só com a Unicamp, mas também com a comunidade, conversar com a cidade, criar mecanismos de ampliar a nossa relação com Campinas", explica Marco Aurélio.
Segundo o diretor executivo, além de contribuir com as famílias que sofrem os efeitos da crise econômica, o pensamento que rege a campanha é o de fortalecer a estrutura de assistência social existente na cidade, ampliando sua capacidade de atender mais pessoas. Para isso, a ação recebe doações de pessoas físicas e empresas, por meio da Funcamp, para a aquisição de cestas básicas encaminhadas ao Banco de Alimentos de Campinas, onde associações e entidades podem retirá-las para fazer as doações à população. A campanha também conta com o apoio de instituições parceiras, como a Fundação Itaú Social, responsável pela doação de R$ 1,2 milhão, valor que deve possibilitar a compra de 25 mil cestas básicas.
O iFood também contribui com a campanha por meio do recurso "doações" disponível em seu aplicativo. Os valores doados pelos clientes são utilizados na compra de cestas básicas entregues pela ONG Ação da Cidadania ao Banco de Alimentos. Outro parceiro é o Projeto Comemos, iniciativa criada em Israel para combater o desperdício de alimentos, que comercializa kits de alimentos de direciona parte dos lucros obtidos para a campanha. As doações para a campanha podem ser feitas pelo site da Funcamp e o pagamento pode ser feito em cartão de crédito, transferência ou boleto bancário. A prestação de contas é feita por esta página, atualizada constantemente.
Para o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, as ações solidárias motivadas pela pandemia serão necessárias por mais tempo no país e, por isso, devem ser incentivadas por mais tempo. "Tenho convicção que este movimento de solidariedade, de doação, de voluntariado, é um movimento que estava represado no Brasil e muito pouco estimulado. Neste momento de tanta dificuldade, de tantos problemas que ainda vamos enfrentar, é algo que está sendo despertado na população e na cultura brasileira e é algo que realmente veio para ficar neste momento tão difícil. Tenho certeza que isso ficará depois que a pandemia passar", afirma o reitor.
Georreferenciamento, eficiência e segurança
Outra frente de contribuição que a campanha possibilita é a elaboração e aplicação de mapas que utilizam recursos de georreferenciamento para identificar onde estão as famílias que precisam receber as cestas básicas e as entidades que podem fazer essa distribuição, de forma a traçar uma logística que facilite esse trabalho, tornando-o mais eficiente. Eliane Jocelaine avalia que o mapeamento também aumenta a segurança das famílias e das entidades, diminuindo a necessidade de se deslocarem muito durante a pandemia.
"Cestas básicas são volumosas, as pessoas precisam estar mais próximas das suas residências, para que elas não tenham dificuldade. Também é preciso considerar que a maioria dessas pessoas são mulheres, que se deslocam com seus filhos, então quanto mais próximo de suas residências elas estiverem, melhor para elas e também evita que as pessoas saiam do isolamento", pontua a secretária.
O Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun também desenvolve um sistema para facilitar a gestão desses benefícios por parte da Prefeitura de Campinas. O projeto inclui o desenvolvimento de um aplicativo que reúna as funcionalidades de cadastro de novas famílias, entidades que fazem as doações e de estabelecimentos comerciais onde as famílias podem adquirir alimentos. A instituição também planeja facilitar a conversão de doações recebidas em vouchers eletrônicos, que podem ser utilizados pelas famílias em compras realizadas em pequenos comércios locais.
Segundo Marco Aurélio Lima, são ações que têm por objetivo fortalecer o trabalho assistencial da prefeitura no período da pandemia e também no futuro. "Nós estamos abrindo nossa tecnologia para que lá na frente a prefeitura também possa fazer isso, use o georreferenciamento para facilitar os processos dela também. Nosso espírito é fortalecer nossas instituições e grupos existentes", afirma Marco Aurélio.
Solidariedade também em Limeira
Em 22 de junho a campanha também foi lançada em Limeira, cidade onde a Unicamp mantém três de suas unidades - Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), Faculdade de Tecnologia (FT) e Colégio Técnico de Limeira (Cotil). A cerimônia virtual contou com a participação de membros da Prefeitura Municipal de Limeira e de dirigentes das unidades da Unicamp na cidade, além do reitor, Marcelo Knobel, do diretor executivo da Depi, Marco Aurélio Lima, e de parceiros da campanha.
Na cidade, a campanha seguirá o mesmo modelo aplicado em Campinas de arrecadação de doações para aquisição de cestas básicas e fortalecimento das instituições públicas. No caso, as doações serão repassadas à campanha local "Limeira Solidária: todos a favor da vida", organizada pelo Fundo Social de Solidariedade de Limeira e pelo Centro de Promoção Social Municipal (Ceprosom), autarquia responsável pela assistência social na cidade.
De acordo com Maria Aucélia Damaceno, presidente da Ceprosom, o número de famílias que entraram em situação de vulnerabilidade também aumentou em Limeira. Ela afirma que a demanda aumentou em até três vezes em algumas regiões da cidade. "Essa nova parceria firmada hoje com a Unicamp é muito relevante para todos nós. Ela agrega à nossa campanha e temos certeza que novas empresas e instituições participarão da campanha Limeira Solidária e Unicamp Solidária, sobretudo diante da seriedade do trabalho e da importância da universidade em nossa sociedade", comenta Maria Aucélia.
As doações para a Unicamp Solidária em Limeira podem ser feitas da mesma forma, mas na página da Funcamp específica para a campanha na cidade. O link pode ser acessado aqui.
"Abrace o futuro, doe agora"
Além da Campanha Unicamp Solidária, todas as ações e projetos da Unicamp que precisam de doações foram reunidas em uma nova página, ajude.unicamp.br. Com o lema "Abrace o futuro, doe agora", o site facilita o acesso aos diversos canais de contribuição para a universidade, dando visibilidade às campanhas, e também dá aos colaboradores a certeza de que todas as ações são legítimas e seguras.
"A ideia foi fazer um site que concentrasse todas as ações, que desse autenticidade e visibilidade para todas as iniciativas. Assim, as pessoas sabem que suas doações vão ser aplicadas nas áreas que contribuíram. Isso dá mais confiança aos doadores", explica Marilda Bottesi, professora aposentada da universidade que coordena a organização do site.
A página também será atualizada com conteúdos em texto e vídeo mostrando como as doações estão sendo aplicadas nas diversas frentes de trabalho da Universidade e convidando a novas contribuições. A identidade visual do site foi elaborado pela Agência Sabiá, uma das empresas filhas da Unicamp. O link de todas as campanhas e de empresas e instituições parceiras também estão disponíveis no site.