O interesse por inovação norteou a carreira da pesquisadora Rosa Biaggio, ex-aluna da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e, atualmente, empreendedora a partir de tecnologia desenvolvida durante seu doutorado na universidade. Foi essa vocação que a levou a assumir importantes posições em empresas na área de Pesquisa e Desenvolvimento, durante sua trajetória profissional.
Tendo esse perfil, ficar longe da academia não parecia uma possibilidade. E não foi. Escolheu fazer doutorado em Biotecnologia no Instituto de Química da Unicamp, onde foi orientada pelo professor Paulo Imamura, e desenvolveu moléculas naturais inéditas, através de Biocatálise, que lhe rendeu um depósito de patente, feito pela Agência de Inovação Inova Unicamp. Pela colaboração na pesquisa, a patente da Unicamp tem cotitularidade com a Univap (Universidade do Vale do Paraíba).
Entenda a tecnologia
O processo desenvolvido, aplicado a produtos naturais denominados terpenos, consiste em utilizar a matéria-prima natural como o Humuleno, o Cariofileno e também a Coronarina D, empregando enzima como catalisador e chegar à criação de moléculas inéditas a partir disso. O resultado são várias moléculas epoxidadas, entre elas o Humulenoperoxidiol, o Cariofilenoperoxidiol e o Epóxido de Coronarina D. Apesar de complexos os nomes, o que mais desperta o interesse são suas aplicações, pois podem resultar em produtos cosméticos, farmacêuticos e medicinais.
Esses compostos têm como características a atividade anti-inflamatória e de contenção à proliferação de maus agentes. Dito de outro modo: no caso de um tratamento de câncer, por exemplo, é necessária uma menor quantidade de compostos para matar as células cancerígenas – o que é benéfico para o paciente em tratamento. O produto, então, pode atuar substituindo os quimioterápicos existentes hoje no mercado.
“De acordo com algumas pesquisas bibliográficas que tenho feito, penso em fazer testes para verificar também a capacidade como antiviral. Assim, a aplicação poderia se estender aos tratamentos contra HIV e hepatite C, e também o Covid-19”, completa a pesquisadora.
Processo sustentável
Além dos ganhos com o produto final, o próprio processo já traz vantagens ao que existe hoje. Diferentemente do processo de catálise química convencional – que faz uso de compostos sintéticos e que, portanto, tem mais etapas –, a tecnologia propõe um processo mais enxuto, que consome menos energia, não forma subprodutos e se prova mais economicamente viável em escala industrial.
A tecnologia já foi testada in vitro, no CPQBA (Centro de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas) da Unicamp em testes antiproliferativos para câncer de próstata, de colorretal, de ovário resistente a múltiplos fármacos e leucemia. A próxima fase é evoluir para testes in vivo, ou seja, em animais. E, na sequência, para os testes clínicos: Fases 1, 2 e 3.
“Levar uma tecnologia dessa ao mercado não é tarefa simples. São muitas fases de teste e de tempo de laboratório e pesquisa. Empresas como as farmacêuticas têm muito interesse, mas só aceitam realizar projetos de P&D e investir nas tecnologias se os testes pré-clínicos estiverem finalizados”, reforça Rosa.
O projeto que virou negócio
Além do desenvolvimento da tecnologia, Rosa percebeu que o projeto tinha potencial para ir além das bancadas de laboratório e decidiu criar, em 2014, a sua própria empresa: a Sugarzyme.
Na busca por investidores que apostem em seu negócio, Rosa também tem levado a tecnologia a desafios e competições, nas áreas cosméticas e farmacêuticas. A empresa teve apoio do programa PIPE Empreendedor, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). E já foi classificada no Ranking 100 Open Startups por três anos consecutivos, desde 2017 até 2019, organizado pelo Movimento 100 Open Startups: 2º lugar na categoria Biotech em 2018 e 9º em 2019.