Imagine um mundo onde quase metade da população esteja infectada por organismos que invadem o corpo do hospedeiro, se multiplicam, debilitam a pessoa e podem até levá-la à morte. Os parasitos intestinais são um problema de saúde pública e um desafio para as autoridades sanitárias. O exame parasitológico de fezes é o único nas rotinas dos laboratórios de análises clínicas, público e privado, que ainda é feito de forma totalmente manual, com o uso de técnicas de diagnóstico centenárias, como a sedimentação espontânea que data de 1919, e análises visuais passíveis de erro humano, sobretudo pela falta de conhecimento de todos agrupamentos parasitários e cansaço dos profissionais de microscopia.
Com uma parceria consolidada com a Unicamp há mais de uma década, a startup Immunocamp Ciência e Tecnologia Ltda., empresa coirmã do grupo BioBrasil, têm atuado no desenvolvimento de técnicas mais confortáveis, rápidas e eficazes para o processamento de fezes humanas e de animais que incluem a automatização. O TF-Test (Three Fecal Test) foi a primeira etapa do desenvolvimento. Uma técnica composta por um kit parasitológico mais discreto, sensível e prático para laboratórios e pacientes, já disponível no mercado.
O apoio a estruturação do negócio por meio do processo de incubação da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp, e a interação interdisciplinar com a academia – envolvendo diferentes áreas de atuação, bem como, medicinas humana e veterinária, computação, química, biologia e engenharia mecânica industrial – resultou em outras cinco patentes. Todas depositadas junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) com suporte da Agência de Inovação Inova Unicamp.
Um dos três licenciamentos mais recentes é um inédito exame parasitológico das fezes. A técnica usa o princípio de Flotação por Ar Dissolvido (FAD). Este procedimento já é usado amplamente em outras áreas, como a mineração, na separação de sólidos e líquidos para extração de ferro, por exemplo, e por empresas de saneamento na área de tratamento de água e esgoto.
“Nós temos um problema sério no diagnóstico de parasitos intestinais: quando a gente quer concentrar parasitos e separar as impurezas, essencial para um bom diagnóstico, utilizamos muitos elementos químicos altamente saturados. Eles acabam, de certa forma, destruindo as espécies de parasitos mais sensíveis”, explica o inventor Jancarlo Ferreira Gomes, que atualmente é credenciado como professor e orientador na pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM) e também é pesquisador do Instituto de Computação (IC) da Universidade.
O invento consiste em criar uma corrente de microbolhas em meio líquido que suspende e separa os parasitos em uma área de interesse diagnóstico. Com isso, se obtém um material mais limpo, reduzindo as impurezas e os compostos químicos agressivos que podem falsear os resultados. Os pesquisadores já conseguiram mais de 90% de aderência para o agrupamento dos helmintos e cerca de 50% de eficiência com protozoários.
Leia matéria na íntegra no site da Agência de Inovação da Unicamp.