Um novo processo de extração de bioativos das folhas da Artemisia annua foi desenvolvido nos laboratórios da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas. O método, que economiza água e trabalha com CO2 reutilizado da indústria, permite que sejam extraídos três bioativos de uma mesma quantidade da matéria-prima. A partir de dois deles, a S Cosméticos do Bem, empresa-filha da Unicamp, que participou do processo de invenção e licenciou a patente, desenvolveu três produtos dermofitocosméticos sustentáveis: uma loção repelente que diminui impactos dermatológicos como alergias e dermatites; um sérum facial rejuvenescedor com potencial cicatrizante e um sérum antiacne que diminui lesões e tem potencial de redução de cicatrizes. Além disso, produtos com potencial anticoronavírus estão em fase de testes.
Planta tradicional na medicina chinesa, a Artemisia annua possui propriedades farmacêuticas e cosméticas. Em 2015, a cientista chinesa Youyou Tu ganhou o Prêmio Nobel de Medicina por ter conseguido isolar a artemisinina, principal componente ativo da artemísia, não volátil, utilizado em medicamentos para tratamento da malária. Já nos produtos desenvolvidos pela empresa de dermofitocosméticos sustentáveis, são aproveitados os óleos essenciais, componentes voláteis e os não voláteis da artemísia.
O processo inovador, desenvolvido sob orientação da professora Maria Angela de Almeida Meireles Petenate, da FEA, aplica tecnologia supercrítica, que não emprega solventes poluentes.“O método permite que os três bioativos sejam extraídos em etapas diferentes de um mesmo processo, com variações de temperatura e pressão, utilizando a mesma massa de folhas secas e trituradas de artemísia”, explica a docente.
Durante todo o procedimento, são utilizados apenas água e CO2 – este último, obtido de unidades de captação, já reutilizado de processos industriais (como, por exemplo, da indústria sucroalcooleira). Além disso, durante todas as etapas de extração, estima-se que a emissão de CO2 seja de 2%, número considerado baixo.
Além disso, destaca Maria Angela, outro diferencial da tecnologia desenvolvida na Unicamp é que, após a extração dos compostos, ainda é possível utilizar o resíduo da artemísia para a retirada da famosa artemisinina, que pode ser usada em futuros produtos dermofitocosméticos antimaláricos e antivirais. “Antigamente, quando se falava em produto natural, se empregava uma matéria-prima para cada produto. Hoje não é mais assim e foi isso que implementamos aqui: adotamos a engenharia econômica do processo, que acopla a parte técnica e econômica para usar a matéria prima o máximo possível. Se continuarmos estudando, poderemos obter outros produtos deste resíduo”, avalia a professora. A Inova, Agência de Inovação da Unicamp, realizou o pedido de patente da tecnologia e tratou do licenciamento com a empresa.
Leia matéria na íntegra publicada no site da Agência de Inovação da Unicamp.