Em uma situação de emergência social, vista antes por exemplo em situações como o atentado às torres gêmeas em Nova York ou a catástrofe climática na Serra Fluminense em 2011, o lado voluntário e solidário de várias pessoas tende a aflorar. Em março, no início da pandemia causada pelo coronavírus, a primeira grande crise sanitária em nível global de quase toda a população do planeta, comportamentos semelhantes tomaram conta das instalações da Unicamp. O ambiente universitário, para vários membros da comunidade, acabou sendo o local escolhido para se ajudar ao próximo.
“A Unicamp sempre foi para mim uma referência na produção de conhecimento. Por isso, quando a pandemia começou resolvi voltar e ajudar na continuação dos estudos de quem estava precisando. Era fundamental que o conhecimento pudesse ser assimilado sem interrupções pelos alunos”, afirma Felipe Martins, campineiro, que cursou Educação Física na Unicamp até 2012. O lado solidário do hoje empresário, que trabalha com projetos de produção de conteúdo nas áreas ambiental e social, funcionou como um dos vários elos das ações voluntárias organizadas pela Unicamp depois que as aulas presenciais foram suspensas. A reitoria agiu rápido para preservar a saúde de todos, independentemente de os alunos ou funcionários serem parte do grupo de risco ou não.
“Colaborei bastante, na gráfica, em recuperar os computadores e organizar os tablets que foram distribuídos aos alunos que não tinham meios para acompanhar as aulas de forma online”, afirma Martins. O educador físico acabou até contaminado pelo coronavírus durante os trabalhos como voluntário. Ficou em isolamento social em casa, se recuperou, e depois passou a ajudar pessoas em outras partes do Brasil. “Além do trabalho na Unicamp estive em ações organizadas pela Cruz Vermelha em comunidades como a Rocinha, onde fomos distribuir equipamentos de proteção para as pessoas que mais precisavam”, relata o ex-aluno da Unicamp.
O trabalho durante quase um mês em um espaço amplo e arejado na gráfica da Unicamp foi árduo. No total, foram feitas a manutenção de mais de 100 computadores e notebooks. A maioria das máquinas estava sem uso na universidade. A equipe da força-tarefa também participou da organização de 300 tablets comprados com recursos das doações endereçadas à universidade. Todos os equipamentos foram atualizados e higienizados pelos voluntários.
A Unicamp, em parceria com a empresa Claro, também recebeu chips para os estudantes poderem estudar. Alguns desses equipamentos foram enviados ao interior da Amazônia para os universitários indígenas que voltaram para suas comunidades durante o isolamento social.
A equipe de voluntários também teve que catalogar todos os equipamentos emprestados durante a pandemia. Por terem entrado para o patrimônio da universidade, eles terão que ser devolvidos depois da volta das aulas tradicionais, o que ainda não tem prazo para ocorrer. No total, aproximadamente 700 estudantes foram beneficiados pela corrente de solidariedade que colocou em uso as centenas de equipamentos eletrônicos em menos de um mês.
“Além de todo o trabalho também participei da entrega dos computadores para vários dos alunos, que vieram presencialmente retirar os equipamentos”, afirma Pedro Luz, aluno do quinto ano de engenharia, que também se apresentou, de forma voluntária, para ajudar nos trabalhos. “Na verdade eu cheguei para ajudar por meio de uma notícia falsa. Recebi um link que dizia que estavam precisando de gente para ajudar na montagem de respiradores na Biomedicina. Quando cheguei lá me falaram que aquilo não era verdade, mas que precisavam de ajuda com os computadores. Na mesma hora passei a ajudar”, diz Pedro. O estudante investiu seu tempo na desmontagem de praticamente todos os computadores que chegavam sem funcionar. “Verificava a peça que faltava e arrumava para eles poderem ser emprestados”.
Segundo Pedro, o trabalho constante durou quase um mês no início da pandemia. A demanda era muito grande. Os pedidos por eletrônicos chegavam de vários institutos da própria universidade, dos alunos que ficaram na moradia estudantil e dos diretores de colégios técnicos da região que também foram beneficiados.
“Foi muito gratificante, principalmente por causa do engajamento de todos, como professores e funcionários. Todos se envolveram bastante”, afirma o futuro engenheiro, que até trocou a região central de Campinas, onde mora, por Barão Geraldo durante a pandemia, tanto para ficar mais perto da Unicamp quanto por causa do seu projeto de iniciação científica. “O surgimento das vagas de estágio, agora, começaram a voltar ao ritmo normal”, diz o estudante, que precisa ainda passar por essa etapa para se formar. “Temos que nos adaptar com aquilo que temos”, afirma Pedro, ao se referir ao impacto que a pandemia causou em seus estudos.
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