O Centro de Química Medicinal (CQMED) da Unicamp, o laboratório de genômica Mendelics e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), acabam de assinar um acordo para o aperfeiçoamento do teste de saliva para Covid-19. Ao CQMED, cabe desenvolver dois reagentes-chave do teste que são importados, sendo que a Mendelics procederá aos testes.
A ideia é unir a expertise do Centro de Química Medicinal no design e produção de enzimas específicas em escala e a logística da Mendelics. Com isso, a expectativa é ampliar a disponibilidade destes componentes essenciais para a autonomia do País na produção dos testes para Covid-19. Atualmente, um dos principais gargalos do combate ao coronavírus é a testagem em massa da população. Isto porque, a testagem ampla, rápida e acessível é fundamental para rastrear o vírus, identificar rapidamente novos casos e impedir a transmissão da doença.
"O teste denominado RT-LAMP #PARECOVID traz segurança no retorno às atividades de trabalho presenciais, em escolas e ao lazer. A produção brasileira de insumos pelo CQMED ampliará a disponibilidade do teste no Brasil, reduzirá custos e garantirá fornecimento independente da demanda mundial por testes.", afirma David Schlesinger, CEO da Mendelics.
O novo teste molecular de Covid-19 foi desenvolvido pela Mendelics em parceria com o Hospital Sírio-Libanês. É capaz de identificar a presença do SARS-CoV2 em amostra de saliva durante o período de infecção ativa do vírus. Assim como o RT-PCR, ele não detecta os anticorpos de pessoas já recuperadas de Covid-19, mas sim o próprio vírus. O protocolo é baseado em uma técnica chamada de “transcriptase reversa com amplificação isotérmica mediada por loop” ou RT-LAMP. Esta técnica já é utilizada para diagnóstico de outras doenças como Dengue, Chikungunya, Hepatite A e Zica.
O RT-LAMP #PARECOVID foi lançado em junho último pela Mendelics e tem a sensibilidade e a especificidade comparável ao RT-PCR, além de possibilitar a autocoleta não-invasiva sem a necessidade de swabs. O teste de saliva consegue manter a estabilidade da amostra por até três dias em temperatura ambiente e suprime a etapa de extração do material genético (RNA) do vírus.
A tecnologia desenvolvida para este teste é capaz de produzir resultados em poucas horas, muito mais rápido que os testes de RT-PCR disponíveis, sendo que o custo do RT-LAMP é cinco vezes menor que o RT-PCR, cujo fornecimento de insumos está fortemente limitado em todo o mundo.
A parceria
O CQMED tem expertise na caracterização de proteínas pouco conhecidas relacionadas a doenças humanas, sobretudo câncer, doenças infecciosas e neurológicas. Com a crescente demanda por testes para Covid-19, o Centro ampliou sua atuação na produção de insumos (proteínas) para atender a força-tarefa Covid-19 da Unicamp. O know-how de produção de insumos aproximou o CQMED de organizações interessadas em unir pesquisa e diagnóstico genético.
Katlin Massirer, pesquisadora do CBMEG e coordenadora do projeto na Unicamp, destaca que a Embrapii catalisou a parceria por meio do plano emergencial para projetos Covid-19, bem como workshops online que aproximaram interesses de universidades, SENAI e empresas. “Assim, o modelo Embrapii de participação de recursos entre os três pilares universidade, Embrapii e empresa, possibilitou a montagem do plano de ação e alocação de recursos para um projeto”, explica.
No projeto para o aperfeiçoamento dos reagentes, os pesquisadores da Unicamp e da Mendelics unem os esforços a fim de manter alta disponibilidade de testes Covid. O CQMED atuará no desenvolvimento de duas enzimas do teste e na execução do controle de qualidade enquanto a Mendelics irá focar nas adequações dos reagentes para aplicação nos testes RT-LAMP já em funcionamento.
O CQMED localizado na Unicamp foi fundado em 2015 como um projeto PITE-FAPESP e foi credenciado como Unidade Embrapii em julho de 2017. Possui competência na área de fármacos e química medicinal, mais especificamente na fase inicial do desenvolvimento de novas drogas. O CQMED possui uma plataforma para o desenvolvimento de moléculas inibidoras de alvos específicos relacionados a doenças humanas. Também representa o INCT de Química Medicinal, apoiado pela Capes, CNPq, Fapesp e Unicamp.
A Mendelics é o primeiro e maior laboratório brasileiro especializado no Sequenciamento de Nova Geração (NGS). Foi criada em 2012 pelos médicos David Schlesinger, Fernando Kok, André Valim e o bioinformata João Paulo Kitajima, e investida por Laércio Cosentino (presidente do conselho da Mendelics), pelo fundo Finhealth e diversos investidores. A Mendelics tem como missão tornar o diagnóstico genético rápido, preciso e acessível para todos que precisam. Com a maior estrutura laboratorial de sequenciamento da América Latina, mais de 80.000 amostras genômicas já realizadas, uma equipe de mais 140 colaboradores, com processos técnicos e analíticos pioneiros e com padrão de qualidade internacional, consolidou-se como referência em análises genéticas. A Mendelics é o único laboratório genômico latino americano a obter as acreditações do CAP (Colégio Americano de Patologistas - #8671464) e INMETRO (NBR/ISO-15189) e também é reconhecida internacionalmente e premiado pelo MIT pelo desenvolvimento do Abracadabra®, plataforma exclusiva que usa inteligência artificial para tornar as análises genéticas mais precisas e eficientes. Desde sua fundação, segue desenvolvendo produtos inovadores na área da saúde, como o Teste da Bochechinha, um exame complementar ao teste do pezinho para recém-nascidos, capaz de identificar mais de 310 doenças da primeira infância, que costumam ser graves e silenciosas, mas que já possuem tratamentos efetivos quando identificadas precocemente.
A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial foi criada em 2013 como uma organização social que tem autonomia em gerenciar fundos do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação e Ministério da Educação com o objetivo de estimular a inovação na indústria brasileira, promovendo a interação entre instituições de pesquisa tecnológica e empresas do setor industrial. O seu modelo de atuação prevê o financiamento de até 1/3 do custo total de cada projeto aprovado, com recursos não reembolsáveis (ou seja, a indústria não precisa devolver o montante aportado) e o restante é dividido entre a indústrias e as unidades EMBRAPII.