Os dados obtidos pela pesquisa "Unicamp e o Novo Coronavírus", divulgados nesta quarta-feira (30), mostram que grande parte da comunidade universitária vem se adaptando à dinâmica de trabalho remoto adotada em toda a Universidade após a suspensão das atividades presenciais, ocorrida em 12 de março, após a declaração de pandemia global do coronavírus pela Organização Mundial da Saúde. O questionário foi aplicado entre alunos, professores e funcionários de toda a Unicamp, incluindo os colégios técnicos, Cotuca e Cotil. O saldo positivo da avaliação mostra que 87% dos que participaram da pesquisa estão satisfeitos com o desempenho da Universidade neste período e acreditam que a Unicamp tem conseguido se comunicar e prestar informações à comunidade sobre a pandemia e as novas formas de trabalho.
"Essa pesquisa nos fornece bons insumos para que a administração central continue dando todo o suporte necessário aos docentes, estudantes e funcionários ao longo deste semestre", aponta Teresa Zambon Atvars, Coordenadora Geral da Universidade.
A pesquisa foi desenvolvida pelo Observatório Institucional Unicamp, órgão da Universidade formado por uma parceria entre a Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e o Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop). Na realização desta pesquisa, o Observatório contou com o apoio da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH). No total, 8.391 questionários foram respondidos e enviados no período de 25 de junho a 27 de julho de 2020, o que corresponde a um índice médio de 20,5% de participação. Os resultados foram compilados em quatro relatórios, divididos entre professores do Cotuca e Cotil, docentes de graduação e pós-graduação, estudantes de graduação e pós-graduação e funcionários. As publicações completas estão disponíveis no site do Observatório. Clique aqui para acessar.
Necessidade de adaptação fez docentes repensarem disciplinas
As informações fornecidas pelos professores mostram o esforço dos docentes em se adaptarem à necessidade de manter as atividades dos cursos de forma remota e explorarem os recursos digitais disponíveis, além de uma tendência já em curso de o corpo docente da Unicamp de diversificarem seus currículos com essas novas possibilidades. Entre os entrevistados, 70,5% afirmam que já utilizavam as ferramentas dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) para o desenvolvimento de atividades antes da pandemia, mas apenas 35,5% aproveitavam os recursos de teleconferências. Com o novo cenário, 90% passaram a explorar essas ferramentas em seu trabalho.
Com isso, 66% dos professores de graduação e 42% de pós-graduação afirmam que conseguiram manter suas disciplinas da forma como elas haviam sido planejadas no início do ano. As principais adaptações adotadas foram a substituição de atividades práticas por um maior número de trabalhos escritos e listas de exercícios enviadas aos alunos. Entre os docentes de graduação, 57% conseguiram adaptar suas disciplinas de forma que, no mínimo, 70% dos conteúdos previstos originalmente pudessem ser ministrados de forma remota. Já entre os docentes da pós-graduação, o índice foi de 43,5%.
A maior parte dos docentes também relatou ter poucas dificuldades de acesso e uso dos recursos digitais para a realização das atividades remotas. As principais dificuldades relatadas foram em relação à adaptação da dinâmica das aulas, 27,5% informaram dificuldade mediana, e quanto aos métodos de avaliação remota: 24% afirmaram sentir dificuldades em relação a isso. Entre os maiores desafios para o período apontados pelos docentes estão a impossibilidade de manter o contato físico com os estudantes e colegas, a aplicação de avaliações de forma remota e as estratégias para engajar os alunos nas atividades.
"Parte dos desafios já vêm sendo tratados no âmbito da PRG, a partir da atuação e do auxílio fornecidos pelo GGTE e (EA)2. Com os resultados da pesquisa, os esforços dos órgãos da administração central, das unidades de ensino e pesquisa e dos colégios técnicos poderão ser melhor direcionados aos desafios locais e específicos dos docentes e discentes daquela Unidade" coloca Milena Pavan Serafim, professora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e uma das docentes à frente da pesquisa e do Observatório Institucional Unicamp.
Entretanto, 53% dos docentes estão satisfeitos com seu desempenho neste período. A maior parte dos que participaram da pesquisa, 57%, afirma ter recebido apoio da Unicamp, de sua unidade e/ou programa de pós-graduação para desenvolver o trabalho remoto, tanto no acesso e uso das ferramentas digitais, quanto nas adaptações curriculares que foram necessárias.
Estudantes: atenção com o bem-estar emocional
Assim como os docentes, os estudantes que participaram da pesquisa também relataram facilidade de acesso e uso às tecnologias digitais para realização das atividades remotas. Do total, apenas 36% utilizavam recursos de teleconferências, instrumentos que passaram a ser explorados por 93% dos alunos. A experiência das aulas remotas mostram que, mesmo adaptados ao contexto do ensino remoto, muitos acreditam na importância da interação em tempo real: 68,5% preferem que as aulas sejam ministradas on-line em tempo real, com a gravação disponibilizada na sequência nas plataformas digitais.
As dificuldades relatadas pelos alunos também são semelhantes a dos docentes em relação à adaptação dos processos. Os dados mostram uma avaliação mediana da dinâmica adotada nas disciplinas e dos métodos de avaliação empregados. Grande parte aponta como principais desafios a ausência de convívio com os colegas e as dificuldades de manter essa interação, a necessidade de conciliar os estudos remotos com as atividades em casa e a motivação para acompanharem as aulas. Do total de entrevistados, 46% não se sentem mais confortáveis com as atividades remotas e 45,5% não se sentem mais disciplinados, o que mostra uma preferência pelas atividades presenciais, impossibilitadas no momento.
Apesar de relatarem essas inseguranças quanto ao seu desempenho nas atividades remotas, a maior parte dos estudantes afirma que conseguiu acompanhar, pelo menos, 70% das disciplinas oferecidas. Além disso, mais de 55% relata que recebeu o apoio necessário da Universidade nesta transição.
Em relação aos impactos do coronavírus na vida da comunidade acadêmica, os efeitos da pandemia na saúde emocional dos estudantes despertam atenção: 70% dos alunos participantes da pesquisa afirmam que se sentem mais tristes durante o período de distanciamento social, sendo que 23% relatam que precisaram de apoio psicológico para se adaptarem a essa nova condição. Para auxiliar o corpo discente neste período, a Unicamp conta com serviços importantes, como o Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante (SAPPE), assim como atividades realizadas pela DEDH, como rodas de conversa virtual, vêm sendo desenvolvidas.
“Os dados mostram que a maior parte do corpo discente tem condições de acompanhar as atividades remotas. A pesquisa torna possível que a universidade concentre seus esforços para auxiliar os cerca de 15% de estudantes que ainda encontram dificuldades, como acesso a equipamentos e local adequado para o estudo”, afirma Oswaldo Amaral, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e diretor do Cesop.
Indicadores para planejar o futuro
Criado em 2019, o Observatório Institucional Unicamp é um projeto estratégico da Universidade e tem o objetivo de levantar entre a comunidade e junto a outros membros da sociedade percepções a respeito da vivência nos campi, tendência comum em universidades do exterior. As pesquisas realizadas periodicamente fornecem importantes recursos para planejamento e proposição de políticas institucionais.
"O desenvolvimento de pesquisas institucionais que buscam mensurar e acompanhar o ambiente universitário se alinha às melhores práticas institucionais das universidades. Ter um espaço de captação, identificação e análise de dados e informações da comunidade universitária e seu entorno é de extrema importância e poderá também prover informações que subsidiem o planejamento estratégico da universidade", aponta Milena Serafim.