“Técnica inédita no país detecta tumores cerebrais em crianças”; “Pesquisadores descobrem marcadores do vírus da Zika”; “Engenheira desenvolve incinerador que reduz emissão de compostos nocivos”; “Grupo do IC cria sistema para reconhecimento facial”; “Unicamp consolida implante de prótese craniana 3D”; “Livro detalha mudanças no mundo do trabalho contemporâneo”. Essas foram algumas das centenas de manchetes veiculadas no Portal e no Jornal da Unicamp entre 2014 e 2018. Para além de circularem nas mídias, a qualidade destas e de outras tantas pesquisas desenvolvidas na Unicamp foi um dos pontos que chamou atenção da comissão externa de Avaliação Institucional da Universidade. Responsável por destacar os pontos fortes e fracos da Unicamp e apontar recomendações, a comissão evidenciou também a diversidade das áreas científicas envolvidas na atividade pesquisa, cobrindo desde a ciência básica à aplicada.
“Essa característica da nossa pesquisa é uma das caras da Unicamp, está na nossa própria história, na nossa criação, no nosso crescimento e em nossa consolidação como universidade de pesquisa”, avalia o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, Munir Salomão Skaf.
Na visão da equipe de avaliadores, composta por um comitê de profissionais de diferentes países, o prestígio da Unicamp também é reconhecido pelo impacto científico, pelas publicações em revistas internacionais e pela cooperação com autores estrangeiros. Esse atributo faz com que a Universidade possua um quadro geral de indicadores e de métricas positivos no âmbito da pesquisa, que recorrentemente também são evidenciados na boa colocação em rankings nacionais e internacionais.
“Os fatores de impacto da nossa produção são dos mais altos do país e da América Latina. A nossa produção per capita e o impacto frente ao volume é bastante elevado. E também há a cooperação internacional. A ciência é global, cooperativa. Você não faz ciência isoladamente, é uma atividade em que há um ganho enorme quando há colaboradores e parceiros de vários locais do mundo”, observa o pró-reitor.
Multidisciplinaridade
A colaboração em termos de multidisciplinaridade foi também um dos pontos fortes na área de pesquisa salientados pela comissão. Segundo Munir Skaff, esse aspecto é fundamental para a compreensão e para a solução de problemas que são complexos e que não se limitam à especificidade das áreas. “Os problemas que a gente tenta estudar na natureza e na sociedade não sabem o que é Física, Química Matemática, Biologia, Humanidades. Não existe essa separação. Os problemas são complexos e dependem abordagem que envolvem múltiplos conhecimentos e as especialidades precisam se falar”, diz. Diversidade das pesquisas, para o professor, é o que traz a riqueza em torno com conhecimento e o avanço.
Queda em orçamento preocupa
Para o pró-reitor de Pesquisa, o ponto mais preocupante é a queda no orçamento. Cortes em bolsas de pós-graduação, aprofundados a partir de 2019, e queda da arrecadação do Imposto sobre Circulação Mercadores e prestação de Serviços (ICMS), que compõe a principal fonte de recursos das universidades paulistas, trazem desafios para a manutenção da Universidade enquanto liderança em pesquisa.
“Nós temos que criar alternativas, buscar meios de compensar ou de mitigar esses efeitos de tal sorte que não soframos tanto assim em termos da nossa inserção no mundo da ciência e na formação de pessoas”, avalia. Compartilhamento de equipamentos entre pesquisadores e diversificação das fontes de receitas, com disputa de editais de órgão de fomento estrangeiros, por exemplo, são estratégias que o pró-reitor coloca como alternativas.
Interação com indústria e inovação
A interação com a indústria e com setores produtivos foi ressaltada como mais um ponto forte. E, além disso, destaca-se o fato da Universidade ser bastante voltada ao desenvolvimento tecnológico. Para Munir Skaff, a Agência de Inovação da Unicamp, a Inova, cumpre um papel destacado nesse aspecto.
Estimular a inovação e a ampliar o impacto do ensino, da pesquisa e da extensão em favor do desenvolvimento socioeconômico sustentado faz parte da missão da Inova. Criada em 2003, um ano antes da inovação tornar-se uma política de Estado, através da Lei da Inovação, a Inova tornou-se uma referência no país. A experiência da Inova e sua atuação foi salientada pela comissão externa de avaliação institucional.
Conforme aponta o diretor executivo da Agência, Newton Frateschi, a boa avaliação deu-se pelas as inovações provenientes das pesquisas; pela proteção dos resultados através de ações de propriedade intelectual; pelo processo de transferência através de projetos de P&D e licenciamento e pelas ações do fomento e difusão da cultura da inovação na Universidade. Para ele, o modo de fazer pesquisa multidisciplinar também incide diretamente sobre a possibilidade de produzir algo inovador.
“A atividade de inovação em geral existe tanto na profundidade do conhecimento, mas também na interface dos domínios. Geralmente a pessoa acaba inovando quando ela parte de conhecimentos que saem entre domínios e não em um só. A inovação exige multidisciplinaridade. Implica conhecimento entre algumas áreas do saber”, avalia.
O comitê externo, ainda, destacou a centralidade da ciência, tecnologia e inovação na Unicamp e a interligação e o seu papel na criação de um ambiente socioeconômico baseado no conhecimento e, dessa forma, sustentável. O trabalho da Inova em torno da propriedade intelectual, do licenciamento e do empreendedorismo, bem com grande número de empresas filhas - em 2020 chegou-se ao número de mil - também mostram o impacto das ações na sociedade.
Royalties integram receitas da Universidade
Em termos de receitas, foi observado que a Unicamp é uma das poucas universidades no país que já tem uma parte do seu orçamento composta por royalties advindos de licenciamento de propriedade intelectual e patentes. Perto do orçamento total, essas receitas ainda são baixas, mas há uma tendência ao crescimento. Newton destaca que esse tipo de diversificação dos recursos é uma estratégia importante, especialmente em tempos de crise econômica como o que estamos atravessando agora. No ano de 2018, foram aproximadamente R$1,7 milhão obtidos através dos royalties.
“Do ponto de vista do ganho do licenciamento em recursos, eles nos ajudam a trazer de volta o dinheiro. É uma forma do Estado se apropriar um pouco daquilo que ele produz, volta aquele recurso para se ter um círculo de virtuoso que aumenta a nossa capacidade de desenvolver mais produtos e também de transferir mais”, diz o diretor.
Outro eixo destacado pela avaliação relativa ao quinquênio 2014-2018 é o aumento do número de patentes concedidas, além de maior eficiência em ações de pesquisa e desenvolvimento na Unicamp. Para o diretor da Inova, essa é uma questão positiva, mas ele explica que as ações de inovação dizem respeito a ações mais abrangentes que as patentes. Envolvem todas as atividades em torno Parque Científico e Tecnológico, o fomento da inovação e empreendedorismo e a capacitação, com os programa Inova Jovem e Desafio Unicamp, por exemplo, e a orientação aos pesquisadores sobre que rumo tomar quando desenvolvem uma tecnologia.
“Precisamos pensar no processo como um todo. Será que é melhor licenciar para uma empresa grande? Será que é melhor criar uma nova empresa, uma spin off como as 55 que temos hoje? Será que é melhor criar uma patente? Em muitas universidades há só a preocupação de patentes, de ter um portfólio de patentes. Para nós não, a patente é um meio e não um fim”, explica. A recém aprovada Política de Inovação da Unicamp, para Newton, irá possibilitar uma visão mais clara sobre as ações neste âmbito na Universidade, aperfeiçoando ainda mais o trabalho da Inova.
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