Programa de estudos de controle de doenças emergentes começa a ser articulado na Unicamp

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No combate à pandemia do novo coronavírus, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento articularam-se na Unicamp em uma força-tarefa. Esse grupo vem atuando em demandas imediatas, como na testagem em massa, e em pesquisas em torno do entendimento do vírus SARS-CoV-2 e da Covid-19. Com o objetivo de tornar contínuo esse tipo de trabalho colaborativo, ampliando-o para outras doenças emergentes, foi editada pela Universidade a Portaria 98, que trata de perenizar a força-tarefa.

Um Grupo de Trabalho (GT) foi constituído com o fim de articular a proposta e as estratégias de continuidade do trabalho da força-tarefa no contexto de outras doenças emergentes. O pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, professor Munir Salomão Skaf, observa que uma das motivações é o fato de não existir, no Brasil, um órgão central e multidisciplinar que oriente práticas e planejamento em torno destas doenças. No contexto da pandemia do novo coronavírus, aponta, ficou evidente o quanto ações desse tipo fazem falta. 

Segundo o professor, a rápida organização de uma força-tarefa na Unicamp e a mobilização efetiva em torno de diversos problemas relacionados à Covid-19 demonstram que um trabalho cooperativo e multidisciplinar pode contribuir a longo prazo também para outros problemas. A ideia é que a força-tarefa se transforme em um programa ou centro que cumpra também um papel preventivo e de orientação em torno das doenças infecciosas que causam impactos sociais e econômicos.  

audiodescrição: fotografia colorida do professor Munir Skaf
“Temos a necessidade de transformar essa experiência num programa perene", avalia o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, Munir Skaf

“Temos a necessidade de transformar essa experiência num programa perene, que possa responder a problemas de forma mais efetiva e rápida, fazendo também ações de prevenção. Existe uma percepção da sociedade como um todo da necessidade de ter uma estrutura mais perene e robusta que possa atuar de maneira multidisciplinar, tanto do ponto de vista epidemiológico como de testagem, de ensaios clínicos, de pesquisas transnacionais que busquem por curas e controle”, enfatiza. 

A experiência de pesquisadores da Unicamp no combate de outras epidemias, como a do zika vírus e da dengue, também apontam que a Universidade tem muito a contribuir para o enfrentamento às doenças. A ideia, assim, é que exista um grupo contínuo, preparado para lidar com essas situações, e que não seja organizado apenas na eclosão dos problemas. “A Unicamp tem tudo na mão para criar o primeiro centro ou programa de estudos de controle de doenças emergentes e a ideia é trilhar nesse caminho”, pontua o pró-reitor.

O professor José Antônio Rocha Gontijo, assessor do Gabinete do Reitor e também integrante do GT, destaca que o trabalho eficaz da força-tarefa, ao ter continuidade, representará um grande ganho no pós pandemia.  “A ideia é essa: usar esse grande esforço que foi juntar pessoas que estavam voluntariamente trabalhando e auferindo benefícios não só do ponto de vista social, de solidariedade, mas também do ponto de vista de pesquisa”, afirma. 

É preciso preparar-se para novos problemas

Todo o trabalho que vem sendo realizado no combate à pandemia, segundo o coordenador da força-tarefa e professor do Instituto de Biologia (IB), Marcelo Mori, representou um ganho de experiência que pode ser aplicado para a resolução de outros problemas. “Não é só porque a organização funciona, mas também porque precisamos estar prontos para novas pandemias, novas epidemias, novas doenças emergentes e doenças que aumentam em prevalência e que não temos uma preparação para lidar com elas de forma preventiva”, observa.

audiodescrição: fotografia colorida do professor marcelo mori
Preparar-se para diagnósticos, prevenção e controle de novas doenças, assim como instruir o Poder Público integram os objetivos de perenizar a força-tarefa, aponta o professor Marcelo Mori

Não ter um centro de controle de doenças, como existe em países da Europa e nos Estados Unidos, lembra o docente, acaba fazendo com que os pesquisadores tenham que lidar com os problemas na medida em que ocorrem. “O que isso implica é que as doenças chegam aqui e temos que correr atrás de métodos diagnóstico, de tratamento, prevenção, de vacina. Isso aconteceu com o zika, com a dengue e com outras doenças. O que a gente pretende é montar uma estrutura aos moldes da força-tarefa para fazer prevenção, antecipação de doenças e tentar fazer com que quando a doença realmente emerja, que tenhamos ferramentas para diagnosticar, tratar, prevenir de forma eficiente e instruir o Poder Público nas políticas públicas para o seu controle”. 

Respondendo perguntas em comum

O trabalho cooperativo e multidisciplinar é apontado por membros da força-tarefa como um grande diferencial. O sucesso nas ações do grupo, que envolve profissionais de áreas como Biologia, Medicina, Engenharias e Ciências Humanas, é uma motivação para que o esforço de um modelo de pesquisa multidisciplinar continue.

Para o coordenador da força-tarefa, o grupo, que atua realização das pesquisas e na resolução de problemas imediatos, também tem êxito por organizar-se em outras frentes essenciais ao seu funcionamento, como as de captação de recursos e de comunicação. Conforme o professor, cada grupo se dedica a um ponto crucial para dar resposta às principais perguntas em torno do problema da doença, e todos eles contribuem de forma semelhante para que os objetivos sejam alcançados. “Isso é o que foi alcançado na força-tarefa e o que pode contribuir para outros problemas científicos”, avalia.

A importância da integração em torno de problemas em comum é compartilhada por outros membros da força-tarefa, como o professor do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), Sávio Cavalcante, e o professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Andrei Sposito.  

Na avaliação do professor da FCM, a Covid-19 agregou um conjunto de pesquisadores, que muitas vezes antes não tinham ideia do quanto podiam se complementar, na busca por respostas em torno da mesma questão. “Talvez o que a Covid-19 nos ensinou é que a melhor maneira de criar um polo de trabalho de colaboração de alta produtividade seja a centralização na pergunta, no problema. Agora nosso desafio é conseguir atrair interesse múltiplo para outras perguntas e outros problemas que vão acometer um grupo de pessoas ou uma parcela da sociedade”, afirma. 

Já para o docente do IFCH, a colaboração coletiva e interdisciplinar é um legado para a Unicamp, que pode ser aplicada a outros processos e outros problemas. A pandemia, segundo Sávio, também mostrou a importância de entender o contexto onde ela ocorre, identificando e atuando junto aos setores mais vulneráveis e mobilizando setores do Poder Público para ações conjuntas. “Do ponto de vista da ação que foi feita na força-tarefa, eu destacaria a necessidade de articular uma rede de interlocutores que precisa envolver necessariamente as comunidades atendidas, as organizações que elas já possuem e o Poder Público, em seus variados âmbitos. Isso é um desafio”, ressalta.

audiodescrição: fotografia colorida de quatro pessoas posando para a foto de jalecos e equipamento de proteção; eles estão em ação de testagem na vila soma, em sumaré
Um dos desafios da força-tarefa, avalia professor Sávio Cavalcante, é mobilizar ações conjuntas com o Poder Público; na foto, ação de testagem realizada em Sumaré, na Vila Soma

O professor ainda indica que a ideia de articular uma rede que esteja pronta para agir de maneira mais célere também passa por fortalecer os espaços de atuação de ciência, recorrentemente atacada por setores negacionistas ou pela politização de informações. “Não há só negacionismo, mas o uso político de dados e situações. Com a articulação entre áreas distintas a gente começa até a ter uma atuação mais efetiva de como fazer frente a essas investidas contra a ciência e contra a universidade pública”, avalia. 

Grupo de Trabalho

O GT irá se reunir pela primeira vez nesta quinta-feira, 10 de dezembro. Integram o grupo: Munir Salomão Skaf (PRP/IQ); Marcelo Alves da Silva Mori (IB); Alessandro dos Santos Farias (IB); José Luiz Proença Modena (IB); André Schwambach Vieira (IB); Paulo Arruda (IB); Andrei Carvalho Sposito (FCM); Monica Jacques de Moraes (FCM); Sávio Machado Cavalcante (IFCH) e José Antonio Rocha Gontijo (GR/FCM).

Confira a portaria que designou o GT (Portaria GR-098) em: http://www.pg.unicamp.br/portarias.php

Leia também: Unicamp recebe 400 mil dólares para consolidar estrutura de estudo e controle de doenças emergentes

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audiodescrição: montagem de fotografias coloridas de profissionais da Unicamp em ações de testagem da covid, em hospitais e laboratórios

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004