A iniciativa internacional, que já reúne mais de 280 instituições de ensino superior pelo mundo, é parte do esforço global liderado pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Clima (UNFCCC) para enfrentar a grave crise socioambiental da atualidade. A carta alerta para a rápida destruição da vida na Terra por ação da própria humanidade, declara emergência climática e ambiental e pontua: 2020 é a data limite para iniciar o processo de mudança e evitar o pior.“A carta contém princípios e valores fundamentais nos quais a Unicamp acredita. Ela também traz preocupações legítimas, que precisam ser disseminadas em nossas universidades e sociedade”, justifica o reitor Marcelo Knobel. “É nosso papel como participantes ativos no sistema de educação, ciência e tecnologia, atuar no sentido de alertar a população e realizar ações para mudar a tendência de iminente desastre global”, completa.
A declaração, assinada até o momento apenas por seis universidades brasileiras, reconhece a urgência de uma mudança social drástica para combater as mudanças climáticas. Promover essa transformação, por outro lado, não é simples, “envolve em alguns pontos estudos (por exemplo, para o corte das emissões de CO2) e um pacto local forte para sua eficácia. Mas a universidade é o ambiente onde a compreensão da realidade da emergência climática acontece de forma mais imediata. E isso deve operar como uma potência para ideias que garantam o avanço da preservação ambiental com a garantia do acesso aos direitos fundamentais das gerações do presente e do futuro, em particular, das populações mais vulneráveis”, afirma Néri de Barros Almeida, da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da Unicamp (DeDH).
Marco Aurelio Pinheiro Lima, da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (DEPI), ressalta que as mudanças climáticas devido à presença humana têm base científica sólida e que as universidades têm um papel decisivo. “É preciso criar a cultura do desenvolvimento sustentável e integrar o patrimônio ambiental ao desenvolvimento urbano e econômico. O melhor caminho é pela educação e assinar a Carta de Emergência Climática é fazer parte desse pacto global”, justifica.
Ações práticas
Antes mesmo de aderir à Carta de Emergência Climática, a Unicamp já conta com um órgão dedicado à sustentabilidade ambiental, o Grupo Gestor Universidade Sustentável, GGSUS, parte da DEPI. “O GGUS coordena várias câmaras técnicas compostas por professores, funcionários e alunos, que buscam ganhos de eficiência e sustentabilidade na gestão de energia, de recursos hídricos, de resíduos, de fauna e flora, de educação ambiental e de campus inteligente”, explica o coordenador Luiz Carlos Pereira da Silva. Entre as iniciativas está o Projeto Campus Sustentável, parceria firmada entre Unicamp e Grupo CPFL. A proposta é estimular o uso da geração distribuída para prédios públicos e reduzir as despesas com energia elétrica.
Um dos resultados do projeto é a usina fotovoltaica no campus Barão Geraldo, responsável pela geração de 1% da eletricidade consumida no local, segundo Lima, da DEPI. Inaugurada em abril de 2019, a usina que produz energia solar é usada ainda como laboratório para alunos e professores da universidade.
No UI Greenmetrics, ranking internacional criado em 2010 para reconhecer universidades que se esforçam para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa no combate às mudanças climáticas, a Unicamp ocupa a terceira posição no Brasil e a 100º no mundo. “Vamos trabalhar cada dia mais para colocar a sustentabilidade na agenda da universidade”, afirma Knobel sobre o resultado da última edição do ranking.
Uma das ações planejadas na Unicamp é a instalação do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), ainda em estágio inicial. Focado em preservação e conservação do meio ambiente, o hub vai se concentrar em soluções como coleta, tratamento e reciclagem de resíduos sólidos; uso racional da água; energia limpa; veículos autônomos; economia circular e compartilhada, garantir a emissão líquida zero de gases causadores do efeito estufa; novas soluções para a habitação adaptadas à cidade do futuro.
“Diante das decisões drásticas a serem tomadas no enfrentamento aos problemas ambientais, a perspectiva dos direitos humanos orienta para escolhas comprometidas com a dignidade humana. Campi sustentáveis atuam nesse caminho como laboratórios de pesquisa e inspiração para a cidadania. A cultura dos direitos tem um papel importante a desempenhar na esperada passagem do padrão produtivo em vigor para um outro intransigentemente respeitoso com todas as formas de vida”, afirma Néri de Barros Almeida, diretora da DeDH.