Susana Durão: Que profissionais de segurança queremos?

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João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, negro, morreu após espancamento de seguranças de um supermercado Carrefour em Porto Alegre. Um vigilante e um policial. A fiscal da loja assistiu e não travou. Todos foram detidos. Protestos de caráter antirracista ecoaram no país. Que profissionais de segurança queremos?

Egon Bittner definiu o trabalho policial como a capacidade de criar soluções provisórias para problemas sociais perenes. A segurança não serve apenas para combater o crime. Prova disso tem sido a preocupação da Polícia Militar em integrar na formação conteúdos de policiamento comunitário, gestão por metas e direitos humanos. Todavia, na prática, as abordagens ostensivas figuram como o “verdadeiro trabalho” de polícia. Os procedimentos padrão são orientados para ataque, defesa e contra-ataque. Só que a maior rotina dos policiais passa por intervir em brigas familiares, conflitos entre vizinhos, condução para a delegacia de pessoas por infrações e pequenos delitos.

Na segurança privada, o modelo de treino é o do vigilante bancário, que oficializou a atividade em 1983. Mas hoje o panorama da segurança patrimonial, a maior fatia do mercado de segurança brasileiro, é bem complexo e variado. Vigilantes guardam portarias, orientam pessoas em hospitais, shoppings, lojas, mercados, universidades, no metrô.

Do que precisamos hoje na segurança, pública e privada? De policiais, vigilantes, mas também de porteiros, controladores de acesso, vigias e guardas orientados pelo princípio da prevenção. Vamos substituir o axioma “se eu não atirar primeiro, ele atira em mim” por outro: “Saber prevenir é estar prevenido”. O risco bate à porta, mas pode ser prevenido.

Todos os seguranças devem estar preparados para atuar sem violência e com uso progressivo e proporcional da força. Mas também precisam ser treinados para a mediação de conflitos. Os operacionais necessitam de apoio administrativo, organização, comunicação, transparência e integração de saberes para prevenir o crime. Mas é igualmente necessário responsabilizar quem forma e treina, pois quem ensina tem obrigação de medir os resultados de suas ações.

A Secretaria de Vivência nos Campi da Unicamp foi criada em 2017 com esse objetivo. Para garantir uma boa experiência a quem frequenta a universidade, é preciso saber prevenir. Ser preventivo implica integrar saberes acadêmicos, administrativos e operacionais para um mesmo fim: uma segurança não violenta e sem reação armada.

Mudemos as culturas da segurança e ajudemos policiais e vigilantes a assumir a pluralidade de seus saberes e identidades. Somos todos responsáveis pela segurança que queremos: quem é segurado, quem forma, quem contrata, quem vende os serviços, as instituições e suas políticas.

Explicar o racismo e a ação letal é muito complexo e requer análise do contexto histórico, cultural e econômico. As universidades podem ajudar a retirar a segurança da caixa preta e poupar a vida de pessoas como João Alberto Silveira Freitas.

Acesse o conteúdo original no site da Folha de São Paulo

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Parentes e amigos no funeral de João Alberto Silveira Freitas, assassinado por seguranças do Carrefour em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 19 de novembro | Foto: Diego Vara/Reuters

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004