Os estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp Leonardo Botene e Mateus Paulichen venceram dois concursos da área, com um projeto de edifício vertical baseado em princípios de sustentabilidade. Elaborado durante uma disciplina de graduação, o projeto, chamado In Vitro, contempla preocupação com as mudanças climáticas e propõe a inovação, com utilização de madeira laminada cruzada na estrutura. Os concursos vencidos foram o Ir e Vir, edição 2020, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), voltado para projetos que levassem em conta os desafios impostos pela pandemia, e o concurso da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura, que na última edição considerou a preocupação com o futuro das cidades.
O edifício foi projetado para um terreno na Avenida Brigadeiro Faria Lima, importante centro econômico da cidade de São Paulo. Conforme os estudantes, o prédio é destinado a uso misto, com residências e escritórios, ideia que parte da necessidade de se ter menos deslocamento nas cidades. Além disso, uma fazenda vertical permeia todo o edifício. A proposta do cultivo urbano surgiu da preocupação com a produção de alimentos e com os impactos associados ao transporte, o que se fortaleceu no projeto devido ao contexto da pandemia. “Produzir alimento na área urbana é sustentável no sentido de não ter que transportar o alimento e de apoiar o comércio local”, elucida Leonardo Botene, que indica também a importância de analisar todo o ciclo da utilização de um material para ter um projeto coerente com o que se propõe.
Ao ter a madeira laminada cruzada como material para a estrutura, opção mais ecológica, Leonardo destaca que, por ser um material ainda incipiente no Brasil, é importante estimular a produção local para minimizar os efeitos do transporte. “Por isso o incentivo à procura de produções locais também é importante, para que a gente consiga não só propor um material sustentável, mas também que a utilização dele não inviabilize o que ele propõe. Queremos incentivar isso agora para que no futuro possamos ter a viabilidade”, afirma.
Por se tratar de um edifício vertical, obras que são mais permanentes nas cidades, os estudantes também apontam que estudar os possíveis impactos da edificação foi central. “Edifícios verticais são difíceis de construir e difíceis derrubar. Nesse contexto de ser uma obra que vai permanecer na cidade durante muito tempo e dentro do contexto da inovação, que surgiu pelo uso de um material pouco utilizado no Brasil, projetamos um edifício pensando questões do futuro trazendo não somente essa técnica inovadora de construção, mas também uma discussão importante sobre novos modos de morar”, explica Mateus Paulichen.
Para o estudante, a possibilidade de explorar técnicas ainda pouco utilizadas durante as disciplinas da graduação incentiva a inovação. “A Unicamp, com um viés tecnológico e de inovação, nos coloca numa posição de pioneirismo em vários aspectos da nossa formação e isso é muito importante”.
Disciplina contou com professor visitante
A professora Gabriela Celani, responsável pela disciplina de verticalidades, durante a qual o projeto foi desenvolvido, explica que a metodologia das aulas contemplou um programa teórico e o desenvolvimento de projetos. Por serem comuns os concursos na área de arquitetura, a parte final da disciplina envolveu a apresentação dos projetos a um júri. Os avaliadores foram convidados pelo o arquiteto Savio Jobim, que também ministrou a disciplina junto à professora, através do Programa Professor Especialista Visitante. O programa propõe trazer para a Unicamp profissionais de notório conhecimento em sua área de atuação.
Savio Jobim é arquiteto no escritório internacional Triptyque Architecture e é um dos profissionais responsáveis pelo primeiro projeto de edifício de madeira no Brasil. Além disso, Gabriela pontua que o arquiteto agregou muito conhecimento de legislação aos estudantes. Para a docente, as trocas de experiências oportunizadas pelo programa proporcionaram uma importante interlocução. “Traz uma visão da realidade, do que é possível fazer quando eles se formarem. Esse programa foi criado para isso, para permitir que tenhamos uma complementação da formação dos alunos com pessoas que têm uma visão do que acontece fora da universidade”, diz. Ela também destaca que participaram da disciplina estudantes do Programa de Estágio Docente (PED) Filipe Campos e Verley Côco Jr. e do Programa de Apoio Didático (PAD) Rafael Kenzo, propiciando anda mais trocas de conhecimentos.
Em relação à proposta de uso da madeira como estrutura, a professora comenta que começou a ser introduzida para os estudantes em 2019 e ter um arquiteto que trabalha com esse material nas aulas agregou ainda mais conhecimento. Ela destaca os benefícios do uso deste material. “Começamos a introduzir o sistema construtivo com madeira desde 2019 porque é uma nova tecnologia muito contemporânea. Com a madeira engenheirada se consegue fazer edifícios muito altos com ela como estrutura principal. Não podemos continuar exaurindo os recursos naturais como a gente vinha exaurindo, principalmente com aço e concreto. A madeira surge como alternativa como material renovável e além de tudo ela sequestra carbono”, avalia.
Confira a apresentação do projeto In Vitro aqui.