Universidade pública: compromisso com a sociedade

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Assumimos a reitoria da Unicamp em abril de 2017 com o lema “Universidade pública: compromisso com a sociedade”. A proposta que apresentamos se balizava em três grandes princípios: responsabilidade financeira e orçamentária, transparência e compromisso social. O compromisso social se desdobrava em ações internas, mas também se expressava no compromisso externo, envolvendo a inclusão de alunos de escolas públicas, das comunidades indígenas e dos afrodescendentes.

Em abril de 2017, quando assumimos, a universidade gastava 17% a mais do que recebia. Este déficit vinha crescendo desde 2012, sendo coberto com recursos de uma reserva estratégica, que se reduzia a cada ano. Para atingir o equilíbrio orçamentário, tomamos diversas medidas: cortamos cargos gratificados, demitimos comissionados, restringimos novas contratações, fizemos revisões de contratos, contingenciamos investimentos e aumentamos a informatização dos processos. Demos total transparência às finanças, criando o Portal da Transparência e fazendo com que todas as medidas fossem aprovadas pelo Conselho Universitário. Como resultado, terminamos 2020 com um orçamento equilibrado.

Além da questão financeira, enfrentamos diversas adversidades. Em 2019 fomos surpreendidos pela criação de uma Comissão parlamentar de Inquérito (CPI) pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para apurar possíveis irregularidades nas gestões das três universidades públicas paulistas. Ao final do processo, a CPI não encontrou qualquer tipo de irregularidade.

Em 2020 enfrentamos a pandemia de Covid-19, sendo a primeira universidade brasileira a decretar a suspensão de atividades presenciais. Mostramos uma enorme capacidade adaptativa, com a continuidade de atividades essenciais presenciais (incluindo a área de saúde, que atende uma população de mais de 6,5 milhões de pessoas), e o estabelecimento de teletrabalho em atividades administrativas e acadêmicas. Na área de pesquisa, foi formada a Força Tarefa Covid-19, com mais de 70 grupos de pesquisa atuando no combate à pandemia. Na área de ensino, o resultado chega a ser surpreendente: formamos mais alunos de graduação em 2020 do que 2019.

Apesar das dificuldades, conseguimos avançar em diversas frentes. Implantamos novas formas de acesso à graduação, incluindo as cotas etnicorraciais, o vestibular indígena, o ingresso pelo Enem e, de forma pioneira, o ingresso de medalhistas de olimpíadas científicas. Mantendo o nosso programa de ação afirmativa e inclusão social (Paais) e o programa de formação interdisciplinar superior (Profis), conseguimos ampliar as formas de acesso, ampliar a diversidade e possibilitar o ingresso de classes sociais menos favorecidas. Também aumentamos os recursos para bolsas e auxílios de permanência, de R$ 28 milhões para R$ 40 milhões.

Importante destacar outras realizações que aproximam a universidade da sociedade, entre elas a criação do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, em parceria com diversas instituições da região; a criação da Diretoria Executiva de Direitos Humanos; do Fundo Patrimonial Lumina; do Instituto de Estudos Avançados (IdEA); a atuação destacada da área de saúde, antes e durante a pandemia, com atendimento exclusivamente pelo SUS; e a ampliação das pesquisas no combate à Covid-19.

Em resumo, equacionar o déficit orçamentário não se contrapôs ao desenvolvimento institucional. A responsabilidade, a transparência e o compromisso social são princípios que se complementam e qualificam a gestão —e esperamos que futuras gestões sejam por eles norteados. São estes os princípios que garantem a existência da universidade autônoma com liberdade de cátedra, criativa e inovadora, para continuar produzindo ciência de qualidade para lastrear o desenvolvimento do país.

Acesse o conteúdo original no site da Folha de São Paulo

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Universidade Estadual de Campinas | Foto: Antoninho Perri

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004