Livros proibidos pela censura, ensaios literários, personagens femininas silenciadas na literatura brasileira e utopias. Esses são os temas dos 4 episódios da série “Leitura de fôlego”, do Oxigênio, um podcast de jornalismo e divulgação científica, produzido por alunos do Labjor-Unicamp e coordenado por Simone Pallone.
Com cerca de 30 minutos cada, os episódios da série são baseados em entrevistas de 4 professores do Instituto de Estudos da Linguagem, IEL-Unicamp: Márcia Azevedo de Abreu, Alexandre Soares Carneiro, Lúcia Granja e Carlos Eduardo Ornelas Berriel. As falas dos pesquisadores são entremeadas por narrações, leituras de trechos de livros e trilhas sonoras.
Os episódios podem ser acessados pelo site do Oxigênio, pelo site da Rádio e TV Unicamp, pelo canal no Youtube da TV Unicamp ou por agregadores como Google Podcasts e Spotify. Na descrição dos programas no site do Oxigênio, também ficam disponíveis as transcrições integrais de todos os episódios da série, para que pessoas surdas ou com alguma deficiência auditiva possam ter acesso ao conteúdo.
A série “Leitura de fôlego” foi idealizada e produzida por Laís Souza Toledo Pereira. A edição dos roteiros e a supervisão são de Simone Pallone. Os trabalhos técnicos foram feitos por Gustavo Campos e Octávio Augusto Fonseca, da Rádio Unicamp. E Helena Ansani Nogueira ajudou na divulgação dos episódios.
Os episódios
No primeiro episódio “Livro licencioso = Leitura proibida”, a professora e pesquisadora Márcia Azevedo de Abreu falou sobre os romances licenciosos: livros que misturam cenas de sexo com discussões filosóficas sobre religião, moral ou questões da natureza humana. A Márcia explicou como a censura atuava no Brasil dos séculos XVIII e XIX e também como acontecia a circulação clandestina de livros proibidos nessa época. A pesquisadora ainda contou a curiosa história de um livro licencioso que, de modo inexplicável até agora, foi um dos primeiros romances publicados oficialmente no Brasil.
No segundo episódio “O ensaio em cena ou o espetáculo da dúvida”, o professor e pesquisador Alexandre Soares Carneiro falou sobre o ensaio, um tipo de texto que pode assumir diferentes formatos e que dá liberdade para seus escritores revelarem o processo irregular de seus pensamentos, suas dúvidas e até seus defeitos, tudo isso em um tom parecido com uma conversa. O Alexandre apresentou o livro Ensaios, de Michel de Montaigne, francês do século XVI que inaugurou o uso da palavra “ensaio” para se referir a esse tipo de texto e que escreveu sobre os mais diversos temas: desde o pedantismo, os índios canibais até os polegares. O Alexandre ainda falou sobre o ensaísmo no Brasil (que é mais importante do que parece) e deu dicas de ensaios e ensaístas.
No terceiro episódio “Herdeiras de Capitu? Personagens femininas silenciadas”, a professora e pesquisadora Lúcia Granja falou sobre alguns livros da literatura brasileira em que um narrador homem tenta omitir a voz de uma personagem feminina da trama. As vozes das mulheres, porém, conseguem escapar e se inserir nas obras de diferentes maneiras. A Lúcia centrou a sua análise no romance Dom Casmurro, do Machado de Assis, mas também falou sobre como esse modelo de narrativa reaparece em São Bernardo, de Graciliano Ramos, Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, Um copo de cólera, de Raduan Nassar e Hosana na sarjeta, de Marcelo Mirisola.
No quarto episódio “Utopia – o sonho que antecede o pesadelo?”, o professor e pesquisador Carlos Eduardo Ornelas Berriel apresentou as utopias enquanto um tipo de texto contraditório. Indo além da noção corriqueira de “utopia” como um lugar perfeito ou uma situação inalcançável, o pesquisador contou que as utopias, com um riso cínico, seriam ambíguas, pois lamentam a perda de uma realidade que está se tornando passado por causa de uma profunda transformação social. O Berriel também falou sobre os problemas da perfeição e sobre a distopia, um tipo de narrativa que descreve uma sociedade “perfeitamente imperfeita”. O professor ainda comentou sobre um episódio da série distópica Black Mirror e falou sobre como as distopias podem nos ajudar a compreender o período em que vivemos.