As obras do maior investimento na área de saúde da Unicamp nos últimos 30 anos estão na fase final de construção. O Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço (IOU) – inteiramente construído com recursos doados pelo Ministério Público do Trabalho, fruto da indenização por dano moral coletivo da ação civil pública no caso Shell/Basf de Paulínia – será inaugurado ainda este ano e prestará atendimento especializado à população, promovendo reestruturação e expansão da Divisão de Otorrinolaringologia, Cabeça e Pescoço do Hospital de Clínicas da Unicamp, que há mais de cinco décadas atende à população. A proposta do Instituto é atuar de forma integrada com os agentes de saúde da rede estadual. Coordenado pelo professor titular da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Dr. Agrício Crespo, o projeto é único no meio acadêmico e será destinado à formação de especialistas e à educação continuada, além do desenvolvimento de pesquisas e difusão de novos conhecimentos.
Em visita às obras, o reitor Antonio José de Almeida Meirelles e a coordenadora geral da Unicamp, Maria Luiza Moretti, conheceram as instalações e conversaram com potenciais investidores, em encontro promovido pela presidente do grupo de Líderes Empresariais (Lide) de Campinas, Silvia Quirós. Durante a visita, foram cumpridos rigorosamente todos os protocolos de prevenção à Covid-19, com distanciamento e uso de máscaras.
“Para que a Universidade faça aquilo que ela precisa fazer, que é servir à sociedade, precisamos de ações colaborativas como esta”, disse o reitor. “Temos exemplos em várias áreas da Unicamp de experiências que se irradiam pelo País, resultante da formação que damos às pessoas. Precisamos de colaboração para que este projeto se irradie”, pontuou o reitor, que também agradeceu pelo empenho do Ministério Público, na pessoa da desembargadora Maria Inês Corrêa de Cerqueira César Targa, que também participou do encontro.
“O Instituto nasce com responsabilidade ambiental, social e de uma governança criativa. Contamos com o engajamento do empresariado”, disse o professor Agrício Crespo. “Nossa responsabilidade é imensa”, reforçou o médico. De acordo com Crespo, o IOU é também inovador em sua forma de gestão e manutenção. Todas as verbas deverão ser externas e não serão oriundas do orçamento da Unicamp. “Temos o propósito de conectar ciência à saúde”, diz Crespo.
O hospital de referência nacional prestará atendimento à população do Sistema Único de Saúde (SUS), realizará diagnóstico, tratamento e reabilitação do câncer de cabeça e pescoço, da surdez, doenças do equilíbrio, distúrbios da voz e deglutição, das vias respiratórias superiores, tratamento de crianças traqueostomizadas e câncer de cabeça e pescoço, e fará exames exclusivos na rede pública. Sua capacidade anual de atendimento será de 119.340 consultas médicas, 4.320 cirurgias de portes variados e 88.668 exames de apoio diagnóstico.
Inovação na Saúde
Em terreno de 11 mil metros quadrados, localizado ao lado do HC, as instalações do Instituto possuem 7 mil metros quadrados que abrigam 30 consultórios médicos, dez salas de procedimentos especializados, quatro salas de cirurgia, 18 estações de treinamento, três consultórios odontológicos, três auditórios, 15 quartos de internação, tomografia computadorizada e laboratórios de genética, de diagnósticos e reabilitação da surdez e do equilíbrio, de distúrbios do sono e de cirurgia virtual. A equipe médica mutidisciplinar é formada pelo corpo clínico e acadêmico da Universidade.
“Estamos fazendo história e quebrando paradigmas”, disse o diretor-geral da Fundação da Área da Saúde de Campinas (Fascamp), Dr. Gerson Laurito. “Vamos buscar alternativas que possam viabilizar a manutenção. O núcleo básico é o atendimento ao SUS, mas as verbas do Sistema não cobrem os custos reais. Pretendemos buscar recursos que não sejam públicos. Será uma gestão mista, a exemplo de várias instituições públicas”, diz Laurito. “Precisamos da colaboração da sociedade para fazer com que o instituto funcione. O momento da saúde é extremamente importante”, conclui o diretor da Fascamp, que faz a gestão de instituições como o AME de Amparo e o Hospital Regional de Piracicaba.
No primeiro encontro de empresários promovido pela presidente do Lide Campinas, Silvia Quirós, para apresentar o IOU, realizado em março, as empresas EMS Farmacêutica e Biomega Medicina Diagnóstica se comprometeram a apoiar o instituto com verbas de doação. “A Biomega vai montar o laboratório de análises clínicas”, disse Silvia. “O Lide é uma plataforma de networking, com oito unidades no Brasil e 16 no mundo, cujo intuito é gerar relacionamentos que fortaleçam o público e o privado. Somos catalisadores de encontros que viabilizam projetos incríveis como este.”
Maior acordo indenizatório
Segundo a desembargadora Maria Inês Corrêa de Cerqueira César Targa, responsável pela destinação da verba da ação civil pública a projetos ligados à Saúde, o caso Shell/Basf resultou no maior acordo indenizatório da história do País, assinado pela Justiça do Trabalho em 2013. A ação civil pública foi proposta pelo Ministério Público em 2007. A multinacional anglo-holandesa Shell – associada à alemã Basf, em Paulínia - pagou R$ 200 milhões por dano moral coletivo, reconhecendo os efeitos da contaminação do solo e dos lençóis freáticos provocados pela atividade industrial. Como forma de reparar os danos causados à sociedade, o dinheiro foi destinado para entidades de pesquisa e medicina.
“Eu me emociono muito de ver o Instituto pronto. É um orgulho para toda a comunidade que é séria e que acredita que pode fazer coisa melhor. Tudo que eu puder fazer por esta entidade, eu realmente farei”, disse a desembargadora na última sexta-feira (18/06), na visita às obras do IOU. Ela lembrou do período em que a ação tramitou, quando muitos compareciam às audiências com sinais claros dos efeitos químicos. “Acompanhei a morte de cerca de 60 pessoas.” A indenização foi efetivada a cerca de 1.100 funcionários e terceirizados.