Implementação da 5G no Brasil abrange impactos tecnológicos, legais, econômicos e sociais

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A quinta geração de comunicação móvel, conhecida como 5G, vem sendo estudada no mundo para substituir a 4G nos próximos dez anos. Além de prometer maior velocidade de internet, a 5G visa acelerar o processo de conexão entre máquinas e equipamentos, impulsionando a chamada “internet das coisas”. No Brasil, a implementação da rede deve acontecer por meio de um leilão, após a votação do edital, prevista para ocorrer em agosto. Para debater diversos âmbitos da 5G, pesquisadores da Unicamp organizam o webinário “5G: Desafios e Possibilidades”, que ocorre nos dias 9 e 10 de agosto.

Em implementação já em 65 países, a 5G oferece maior velocidade de download e uma conexão mais estável e menor latência, ou seja, com um menor tempo de resposta entre um comando e sua execução. Se até a geração anterior (4G) a maior transformação aconteceu no aumento da conectividade entre as pessoas, a 5G deve acelerar o processo da indústria 4.0, conceito que envolve a automatização, inteligência artificial e internet das coisas. Os aspectos econômicos, técnicos, legais, sociológicos e os impactos para o comportamento humano são algumas das abordagens previstas para o webnário. A transmissão será aberta, através dos canais no Youtube do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e do Doutor Li (professor Li Li Min da Faculdade de Ciências Médicas).

O webinário tem a organização da doutoranda do Departamento de Política Científica e Tecnológica do IG, Marina Martinelli. A pesquisadora, cuja tese está focada no jogo de estratégias no leilão brasileiro da 5G, explica alguns pontos-chave da disputa das empresas que devem concorrer ao leilão.

audiodescrição: fotografia colorida da pesquisadora marina martinelli
Doutoranda Marina Martinelli estuda aspectos do leilão 5G no Brasil

Maior amplitude e cobertura

O primeiro ponto abordado por Marina é a amplitude da 5G, que envolve o uso individual, com maior velocidade na conexão e mais pessoas conectadas à internet, mas também o uso industrial, em setores como o agronegócio. “Além da modelagem de dados, vai ser possível fazer estimativas de safras, acompanhamento da plantação e dos animais, colheita e pulverização automatizada, eficiência no controle de pragas. Além disso, sensores de uso de água vão permitir maior controle sobre os gastos”, exemplifica. Outras áreas, como a medicina e transporte, também devem ser catalisadas.

A doutoranda também explica que o leilão não irá priorizar a arrecadação, ou seja, as empresas vencedoras terão que direcionar investimentos em infraestrutura e conectividade em áreas que ainda são um “deserto digital”. Em algumas, por exemplo, ainda não há 3G. “Um dos requisitos do leilão é que as empresas vitoriosas levem a internet 4G para as cidades de mais de 600 habitantes. No Brasil, há uma desigualdade social enorme e há locais que ainda nem têm 3G ou 4G. Então um dos requisitos do leilão é que as empresas levem conexão para estas cidades”, observa.

Ações de sustentabilidade como vantagem competitiva
Marina também analisa aspectos das disputas entre empresas que são detentoras da tecnologia para disputar o leilão, como a Huawei, Ericsson e Nokia. Segundo a pesquisadora, as empresas estão na fase de construir vantagens competitivas para o leilão. “Enxergo o leilão como uma situação. Há, no entanto, um processo por trás dessa situação: o antes, o durante e o depois. As empresas estão querendo angariar vantagem competitiva e quanto mais recursos tecnológicos, sustentáveis tiverem, mais liderança no mercado. O leilão só vai expor as estratégias que estão sendo definidas antes”.

Uma das estratégias envolve a sustentabilidade, aspecto que a doutoranda analisa criticamente. Ela aponta que a 5G trabalha com uma transformação em direção à sustentabilidade e as empresas têm investido em ações nesse sentido. No entanto, observa, essa movimentação como uma “maquiagem” relacionada à disputa. “Para angariar vantagem competitiva, as empresas estão jogando em todos os sentidos. Eu tendo a ver isso de um aspecto crítico, mais para angariar vantagem competitiva do que realmente uma preocupação com uma transformação em direção à sustentabilidade. Nesse sentido, há alguns pontos críticos em relação à 5G, um deles é que é tudo uma maquiagem para ganhar o leilão”.

Modelos de leilão
O edital do leilão brasileiro deverá ser votado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no dia 18 de agosto. Quando o texto for aprovado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tem 12 dias para publicar as regras do processo. Este será o maior leilão de frequência da história da Agência, e as empresas interessadas irão disputar quatro faixas de frequência. Duas delas serão utilizadas para ampliar a 4G e futuramente distribuir a 5G, e outras duas serão diretamente voltadas à distribuição da 5G para o consumidor final e para a banda larga lixa. Após a publicação das regras pela Anatel, as empresas de telefonia podem começar a dar os lances para as faixas.

O modelo de leilão não será arrecadatório, ou seja, as empresas não repassam verba ao Estado, mas devem investir em infraestrutura de telecomunicações. Para Marina, é importante as regras do leilão sejam voltadas também à geração de emprego e renda, por exemplo. Caso contrário, o consumidor final poderá pagar um alto preço, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos. “Temos um mau exemplo que é o leilão americano, o leilão no país foi um fracasso. O consumidor final foi o mais prejudicado e teve que pagar muito por isso. Pessoalmente, acredito que o leilão precisa envolver outras variáveis, e não só a arrecadação financeira, mas também geração de emprego e renda, o que movimenta a economia do país”.

Programação do webinário contempla diversos aspectos da 5G
Além dos aspectos relativos ao leilão, à tecnologia da rede, às áreas que serão mais catalisadas pela rede, a programação do webinário irá explorar a questão da segurança de dados e aspectos psicossociais da implementação da 5G. Confira a programação completa: 

9 de agosto
10h – Transformação digital e 5G, Ruy de Quadros (Unicamp)
10h20 – Leilão brasileiro de 5G, Marina Martinelli (Unicamp)
10h40 – Participação de atores de inovação na 5G, Luis Gustavo (SENAI – Departamento Nacional)
14h – 5G, indústria 4.0 e desafios para o Brasil e a China, Célio Hiratuka (Unicamp)
14h20 – Desenvolvimento econômico chinês e 5G, Vitor Alessandrini (ESPM)
10 de agosto
10h – Elementos técnicos da 5G, Rafael Kunst (UNISINOS)
10h20 – Carros elétricos e 5G, Flávia Consoni (UNISINOS)
14h – Psicanálise e 5G, Sueli Adestro (Unicamp)
14h20 – Monitoramento de dados e segurança digital, Alcides Peron (USP)
14h40 – Sociologia e 5G, Tom Dwyer (Unicamp)

audiodescrição: cartaz colorido do evento sobre o 5g

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audiodescrição: arte colorida com elementos que remetem ao 5g

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004