Como reitores de universidades de pesquisa, sabemos da necessidade do convívio acadêmico presencial de alunos e professores e da importância de oferecer o ensino em um ambiente de pesquisa. A pandemia nos obrigou a restringir essa possibilidade aos nossos estudantes, notadamente aos de graduação. As aulas teóricas foram oferecidas remotamente, mas as práticas (laboratoriais, de campo, visitas e viagens técnicas) foram prejudicadas, apesar do esforço do corpo docente.
Estamos convencidos de que a formação dos futuros profissionais não se restringe às atividades em salas de aula e laboratórios. Há a necessidade de oferecer outras atividades técnico-científicas em conjunto com ações culturais, esportivas e sociais, que só podem ser devidamente usufruídas quando os estudantes estão nos campi.
Tanto alunos quanto professores e servidores estão exaustos em função das demandas decorrentes das atividades remotas. Particularmente, os alunos com maior vulnerabilidade social, que necessitam do apoio institucional, são os mais prejudicados pelo afastamento dos campi.
É nosso dever mostrar à sociedade as especificidades das universidades de pesquisa, nas quais os alunos, em um mesmo dia, podem ter aulas com turmas distintas e, muitas vezes, em edifícios e unidades diferentes. Nessas condições, os cuidados sanitários precisam ser criteriosos. Tivemos exemplos negativos no exterior que não precisamos repetir.
Ao tomarmos a decisão pelo retorno presencial em maior escala, ainda que as universidades nunca tenham parado, este se fará com base na ciência e no respeito à vida, pautado em quatro pilares fundamentais: vacinação, biossegurança, proteção social e monitoramento da pandemia.
As evidências mostram que a vacinação reduz em cerca de 90% o risco de casos graves e fatais. A vacinação completa, entendida como pessoas que receberam a segunda dose ou dose única há, pelo menos, 14 dias, é condição e exigência para as atividades presenciais.
As universidades, respeitando as particularidades dos campi e unidades, ampliarão suas atividades presenciais, com todas as precauções, em particular o distanciamento, o uso de máscaras e a higienização das mãos, seguindo rigorosamente as recomendações sanitárias. Condições para o ensino híbrido de qualidade, que se fará necessário, serão prioridades.
As universidades manterão a detecção do Sars-CoV-2 para monitoramento dos casos, seguindo-se os melhores padrões de testagem, bem como sistemas de orientação e assistência por meios remotos. Estaremos atentos ao comportamento de novas variantes do vírus. Instrumentos de assistência e suporte serão reforçados para os alunos com necessidades socioeconômicas.
As universidades vêm cumprindo sua missão de atender às necessidades e aos anseios da sociedade. A ciência produzida em nossas instituições, em tempo recorde, ofereceu soluções para combate à crise sanitária; mantivemos o fluxo das atividades de ensino, incluindo a pós-graduação stricto sensu; e preservamos o número de graduados e pós-graduados, com todas as dificuldades advindas da falta de acesso aos campi.
Continuaremos cumprindo nossa tarefa. Não hesitaremos em recuar e restringir o acesso se a situação epidemiológica exigir, sempre respeitando a ciência e a vida.
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Matéria original publicada no jornal Folha de São Paulo no dia 9/9/2021, na coluna Tendências/Debates.