“Que sejam abertos os caminhos e que todos os presentes tenham luz”. Esses foram os votos que marcaram a reabertura dos campi da Unicamp. Eles foram entoados nas canções "Èsù Elegbára" e "Siô Ogum da Entrada", interpretadas por Otis Selemane Remane, músico e aluno de pós-graduação do Instituto de Artes (IA). Realizado na Praça da Paz, no campus de Barão Geraldo, e transmitido ao vivo pelo canal da TV Unicamp no YouTube (confira a seguir), o evento "Por quais rios temos navegado? Travessias para o convívio na Unicamp" reuniu servidores, docentes e estudantes em um momento de trocas de experiências sobre o período de trabalho remoto. Ele foi conduzido pela professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e diretora-executiva de Direitos Humanos da Unicamp, Silvia Santiago. Todos os presentes passaram por testes para a detecção do coronavírus, usaram máscaras e mantiveram o distanciamento durante a programação.
Na abertura do evento, membros da comunidade universitária, representando suas diversas categorias, foram convidados a responder à pergunta que norteou os diálogos da tarde: por quais rios você tem navegado? As respostas foram apresentadas em um vídeo e mostram que esse foi um período de medos e incertezas, mas também de esperança. Confira algumas das vivências compartilhadas:
Lucas Zeoly - doutorando em Química
"No começo achei que meu barco fosse virar. Creio que, assim como eu, todos os alunos de pós-graduação passaram pelos mesmos sentimentos. De que não tinha uma luz no fim do túnel e que essas águas nunca ficariam mais fáceis de navegar."
Malu Arruda - pesquisadora Gepedisc
"Acho que o sentimento que mais aflorou em mim, e que ainda aflora, é a saudade. Saudade de ver tudo isso aqui cheio, de poder estar com gente, saudade das pessoas."
William Reiznautt - servidor IC
"Desde que foram definidas as atividades remotas, eu e meus colegas de seção sempre fizemos o nosso melhor. Isso foi importante para manter todas as atividades que eram realizadas, apoiar e auxiliar as aulas que continuaram remotamente."
Renato Ferracini - pesquisador LUME Teatro
"Há dois anos essa sala não vê ninguém. Ela já viu tantos suores, tantas criações, tantos espetáculos, tanto público. E há dois anos ela não navega, está parada em um lago sem correnteza."
Os convidados que participaram presencialmente representaram as diversas categorias que ajudam a construir a Universidade, desde servidores das unidades de saúde até estudantes de graduação e pós-graduação. Ao compartilharem suas histórias, eles destacaram áreas em que a atuação da Unicamp tem sido essencial para o combate à pandemia da Covid-19 e propuseram reflexões importantes para o futuro.
Arlindo Baré, aluno indígena de Engenharia Elétrica, destacou os desafios vivenciados por estudantes e professores na adaptação para o ensino remoto e o compromisso de não deixar que a pandemia comprometesse o trabalho de inclusão promovido pela Universidade. "Todas as experiências vividas nos tempos de pandemia nos levam a uma reflexão importante: como ‘pluriversalizar’ a universidade, considerando novos corpos, para se tornar um reflexo da nossa sociedade? Pois o limite do nosso território é a nossa consciência", refletiu Arlindo.
Psicóloga ligada à Diretoria Geral da Administração (DGA), Lina Nakata relatou as inseguranças vividas por aqueles que mantiveram o trabalho presencial durante o período. Segundo ela, o conhecimento acumulado pelos pesquisadores da Unicamp e a atenção prestada pelos profissionais da saúde foram essenciais para que os funcionários adquirissem segurança ao desempenhar suas tarefas nos campi: "Isso nos deu muita segurança para estarmos aqui hoje. Nós atravessamos esse período conforme o conhecimento foi chegando, e os protocolos se aperfeiçoando. Isso foi nos dando segurança para trabalhar".
Um ano e meio de aprendizados e generosidade
A Unicamp foi a primeira universidade pública do país a interromper suas atividades presenciais em razão da pandemia da Covid-19. A decisão foi tomada em 13 de março de 2020, logo após a declaração de pandemia global pela Organização Mundial da Saúde. Presente no evento, o ex-Reitor Marcelo Knobel relatou o desafio de decretar a medida em um período em que a pandemia ainda começava no Brasil.
Segundo Knobel, o fato de a Unicamp ter saído na frente com a decisão serviu para que outras instituições pudessem também interromper suas atividades, contribuindo para um movimento de estímulo às medidas de combate à doença que se tornaram comuns. "Hoje, olhando essa discussão e vendo tudo o que aconteceu, tenho a convicção de que, graças àquela decisão, salvamos dezenas ou centenas de vidas de pessoas próximas a nós", refletiu o professor.
Quem também compartilhou sua experiência foi a Coordenadora-Geral da Unicamp, Profa. Maria Luiza Moretti. Médica infectologista, ela contou que foi a epidemia de meningite, que atingiu o Brasil nos anos 1970, época em que estava na faculdade de Medicina, que a fez escolher a infectologia como área de especialização. Além de ressaltar o quanto a Unicamp tem contribuído para a saúde pública na região de Campinas, ela lembrou a importância da ciência para o bem estar das pessoas.
"A vacinação sempre me fez acreditar que a humanidade chegou onde está por várias razões. Nossa longevidade tem relação com o controle das doenças infecciosas. Há vacinas, antimicrobianos, conhecimento sobre as doenças, e isso foi crucial para a evolução e a longevidade dos seres humanos", destacou.
Ao fim da cerimônia, o Reitor da Unicamp, Prof. Antonio José de Almeida Meirelles, chamou a atenção para o espírito de generosidade que vem marcando a atuação da Universidade em suas diversas frentes, desde a busca por insumos para o atendimento médico nas unidades de saúde, até o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias. Para ele, os desafios enfrentados até aqui servem de lição para um futuro de mais conhecimento e solidariedade.
"Nós fomos capazes de unir nosso compromisso com ciência, tecnologia, conhecimento e cultura a um espírito que é próprio das universidades e, particularmente, da Unicamp: um espírito público, democrático e humanista. Com esse compromisso e espírito, que trazemos para essa cerimônia, comungando a dor pelos que se foram, reafirmamos também que ciência e conhecimento são nossas melhores ferramentas para enfrentar desafios", pontuou o reitor.