Em março de 2020, a Secretaria de Vivência nos Campi (SVC), responsável pela segurança universitária, mantinha uma agenda de ações coletivas. No ano anterior havia sido elaborado um conjunto de projetos para ocupar o espaço público, revitalizar a experiência coletiva e proporcionar a apropriação dos mais diversos ambientes universitários. No entanto, a pandemia mundial chegou até nós e mudou tudo. Novas tarefas se fizeram necessária, e, no lugar de promover o convívio, os profissionais da segurança foram obrigados a redefinir sua atividade para lidar com o “novo normal”. Medidas preventivas contra a pandemia se tornaram o carro chefe da SVC no apoio à vida coletiva no campus, em particular à área da saúde.
De modo a contribuir para a segurança sanitária, as atividades da SVC foram replanejadas, com a implantação de rondas intensificadas, controle de acesso e barreiras destinadas a orientar os usuários sobre distanciamento social e uso de máscara. Foi estabelecido um protocolo para registro de ocorrências relacionadas à prevenção contra Covid-19 e foram criadas duas novas categorias de ocorrências: Covid-19 – Aglomerações e Covid-19 – Máscaras. O volume de ocorrências cresceu significativamente: entre 25/03/2020 e 16/06/2021 foram registradas 1.615 aglomerações (com 13.239 pessoas orientadas) e 8.706 ocorrências por falta de uso de máscara (com16.906 pessoas orientadas).
Esse é apenas um exemplo da nova realidade da segurança universitária. Nossa proposta é elaborar uma série de indicadores para melhorar o planejamento e o trabalho cotidiano. Pensando nisso, iniciamos um trabalho com a Coordenadoria de Georreferenciamento da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (DEPI).
Os profissionais da Coordenadoria de Georreferenciamento transformaram em mapas as informações contidas nas bases de indicadores das ocorrências registradas pela SVC. A inteligência geográfica trouxe uma nova percepção dos serviços executados por essa Secretaria. Hoje sabemos da importância que teve a segurança na mitigação da propagação do vírus Covid-19 no campus de Campinas. Indicadores comprovam a centralidade do trabalho diário e permanente desse setor, o qual esteve sempre ativo nos períodos mais duros da pandemia.
Para a constituição, pela Coordenadoria de Georreferenciamento, da base de dados geográfica de tais eventos em forma de mapa, a SVC disponibilizou uma planilha com informações padronizadas de todas as ocorrências. A planilha traz os seguintes dados: tipo de ocorrência (aglomeração ou ausência de máscara), número de pessoas orientadas, pessoas que acataram as orientações, data, horário e local. A Coordenadoria de Georreferenciamento, através da plataforma ArcGIS, efetuou a transformação da planilha em uma base de dados geográfica, atualizada periodicamente. Com ela, foi possível criar um web map com a localização das ocorrências. Criou-se também um dashboard, contendo não só o web map, como também indicadores e gráficos, todos ligados à base de dados. O dashboard está disponível no Atlas da Unicamp ou diretamente neste endereço.
O mapa, junto com os indicadores e gráficos, permite visualizar informações importantes de maneira rápida e precisa. Por exemplo, podemos visualizar a Praça da Paz e seu entorno de forma detalhada, utilizando as ferramentas de filtro por data e por faixa de horário, como vemos na figura 1. Nesse exemplo, é possível identificar que, durante o mês de julho de 2020, somente neste local ocorreram 131 ocorrências e 422 pessoas foram orientadas, considerando o período entre 17 e 22 horas. As aglomerações corresponderam, nesse caso, a 67,71% e a ausência de máscaras a 32,29% das ocorrências. Além disso, o mapa revela que 85,26% das pessoas acataram as orientações da equipe de vigilância da SVC nessa área.
O Georreferenciamento também está sendo aplicado no mapeamento de todos os postos de trabalho da segurança, tanto os postos de vigilância ocupados pela empresa contratada como os pontos de segurança dos agentes da própria Unicamp. Informações como plano de rondas, área de cobertura, pontos de parada estratégica e pontos de descanso permitem uma visão sistêmica, com geração de dados e cruzamento de informações, o que ajuda a nortear o planejamento de ações de prevenção.
Caracterizada por ações e relações multiescalares, a Unicamp também deve ser representada espacialmente em suas características físicas e humanas, em escalas de maior e menor detalhamento (regionais, nacionais ou globais). A Coordenadoria de Georreferenciamento da DEPI mantém um sistema de informações geográficas (SIG) e produz informações territoriais (mapas, web maps, aplicativos, dashboards, etc.) que representam os aspectos físicos, ambientais (córregos, nascentes, vegetação, pedologia, bacias hidrográficas, áreas de proteção permanente etc.) e infraestruturais (edificações, estacionamentos, postes, redes etc.) da universidade, além dos seus aspectos humanos (sociais, demográficos, culturais, econômicos etc.). Cada um desses temas é representado por uma base de dados geográfica (camada), formada por informações geométricas (indicadas no o mapa por pontos, linhas ou polígonos) e conectadas com as informações tabulares (atributos quantitativos e qualitativos) do objeto mapeado.
O uso das geotecnologias e da inteligência geográfica poderá, assim, embasar tecnicamente uma série de tomadas de decisão pelos gestores e planejadores da universidade. Através do olhar holístico sobre diversos fenômenos socioespaciais, em várias escalas e níveis de representação, as geotecnologias vêm se tornando um diferencial para compreender melhor a dinâmica territorial dos campi e seus entornos. No que diz respeito à segurança comunitária e patrimonial da universidade, essa ferramenta ajuda a criar, junto com as comunidades interna e externa, formas compartilhadas e transparentes de gestão e planejamento do território.
Abordamos aqui apenas de dois exemplos do potencial de parcerias que existem na Unicamp. A Coordenadoria de Georreferenciamento da DEPI (que conta com quatro funcionários, além de bolsistas) e a equipe SVC (com seus funcionários administrativos, seis supervisores e três dezenas de agentes de segurança) se juntam para profissionalizar e aprimorar os serviços dirigidos ao público, pensando na comunidade e no bem-estar de todos. O “novo normal” pode ter esvaziado os campi, mas nos permitiu testar novas aprendizagens tecnológicas e administrativas de ponta.
Por fim, salientemos que a parceria entre a Coordenadoria de Georreferenciamento (DEPI) e a Secretaria de Vivência nos Campi (SVC) abre novas possibilidades para a gestão, o planejamento e os fluxos de trabalho. Ela permite pensar o espaço da universidade como um recorte geográfico, entendido como um conjunto indissociável de objetos e ações, e como um lugar de agências plurais e vivas.
Autores do texto:
Susana Durão (professora de Antropologia e Coordenadora da Secretaria de Vivência nos Campi-SVC)
Vanderlei Braga (bacharel, mestre e doutor em Geografia pela Unicamp / Geógrafo e Coordenador de Georreferenciamento na DEPI-Unicamp)
Lina Amaral Nakata (Estatística e Psicóloga – Diretora Geral da Administração-DGA)
Renato Lopes Campagnoli – (bacharel em Geografia pela Unicamp – profissional PAEPE)
Marcelo de Campos Garcia Albieri – (bacharel em Geografia pela Unicamp – profissional PAEPE)