A Academia Real de Ciências da Suécia divulgou no dia 6 de outubro os ganhadores do prêmio Nobel de Química de 2021. Os agraciados foram os professores Benjamin List, do Instituto Max Planck de Mulheim, e David MacMillan, da Universidade de Princeton. A premiação levou em consideração o trabalho dos pesquisadores na área de organocatálise assimétrica. Benjamin List mantém colaboração científica com a Unicamp, através de parceria de seu Instituto com o Laboratório de Síntese de Produtos Naturais e Fármacos do Instituto de Química (IQ), coordenado pelo professor Fernando Antonio Santos Coelho.
A organocatálise é uma metodologia que usa moléculas orgânicas como catalisadores, que são substâncias que aceleram e aperfeiçoam reações químicas. Conforme o professor Fernando Coelho, as substâncias utilizadas como catalisadores têm, em geral, um metal em sua base. Quando utilizadas nos processos em que as reações dão origem a fármacos e outros produtos destinados a consumo, é preciso assegurar que o produto final não contenha contaminação pelo metal. Utilizar moléculas orgânicas como catalisadores elimina esse problema.
A organocatálise também contribui para uma química mais sustentável, já que as substâncias podem ser reutilizadas. “Além de evitar contaminação por metais, é possível reciclar e reutilizar o catalisador. Por isso a organocatálise tem um impacto muito favorável em dois aspectos: primeiro, não há contaminação da molécula no medicamento. Segundo, ao fazer o reciclo dela, contribui para a química sustentável, que é uma química que, entre outras coisas, gera baixa ou nenhuma quantidade de resíduos que possam impactar o meio ambiente”, elucida o professor Fernando.
Outra contribuição da organocatálise se refere ao fato de tais moléculas - os organocatalisadores - assegurarem um produto final de pureza elevada. Isso porque elas são enantiomericamente puras. “Se você faz uma reação usando o organocatalisador, ao invés de gerar dois possíveis isômeros, ela gera um só, e com uma pureza elevada. Isso é muito bom para medicamentos, porque não há contaminações e se consegue um produto puro”, explica o docente.
Colaboração com a Unicamp
A colaboração científica entre Benjamin List e a Unicamp teve início em 2015. O vínculo se estabeleceu com base na metodologia desenvolvida pelo pesquisador. “Nossa contribuição está centrada em estudos de reações com substratos que podem ter usos medicinais”, diz Fernando Coelho.
A partir de catalisadores desenvolvidos por Benjamin e de reações desenvolvidas no Laboratório coordenado por Fernando, foi possível chegar à síntese de moléculas que são inibidoras da proteína tubulina, com potencial antitumoral.
Como parte da parceria, o então doutorando do IQ, José Tiago Menezes Correia, passou um período em 2015 no Instituto Max Planck (Max-Planck Institut for Kohlenforschung) sob a supervisão do professor Benjamin List. Sua estada foi financiada por uma Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O trabalho desenvolvido por José Thiago na Alemanha tornou-se um capítulo da sua tese de Doutorado, intitulada Estratégias organocatalíticas diastereo e enantiosseletivas para a síntese e funcionalização de N-heterociclos, defendida no IQ em julho de 2017. Em novembro deste ano, outro pós-graduando do IQ, Thiago Sabino da Silva, desenvolverá atividades de pesquisa no laboratório alemão.
A colaboração entre o Laboratório de Síntese de Produtos Naturais e Fármacos e Benjamin List já gerou uma publicação conjunta, de 2017.