Unicamp Afro 2021: Batuque de Umbigada encerra programação

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Após uma série de atividades dedicadas à história e às culturas africanas e afro-brasileiras, o Unicamp Afro 2021 chegou ao fim nesta quarta-feira (30) com a apresentação do grupo Batuque de Umbigada Guaiá, de Capivari. Ao som de tambores, o grupo apresentou canções e danças que remontam às tradições trazidas ao Brasil por negros escravizados. A atividade foi realizada no Espaço Cultural Casa do Lago e foi transmitida pela TV Unicamp. 

"Quando concebemos o Unicamp Afro 2021 pensamos em trazer a questão da reverência à história, buscar nossos heróis, que são nossos ancestrais. Isso ajuda a reconstruir a história envolvida no movimento negro, nos movimentos civis, e presente aqui na Universidade em questões como a inclusão de pessoas social e racialmente excluídas dela", relata Luciana Gonzaga, docente do Instituto de Química (IQ) e presidente da Comissão Assessora de Diversidade Étnica e Racial (Cader) da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) da Unicamp. 

As atividades realizadas durante todo o mês de novembro tiveram como foco episódios e personagens importantes da história das lutas contra o racismo e pela igualdade, recuperando um passado mais distante, como a contribuição de Luís Gama, até as repercussões da Conferência de Durban, promovida pelas Nações Unidas em 2001 para discutir o racismo, a xenofobia e outras formas de intolerância. Houve também discussões sobre o conceito de racismo estrutural, as cotas étnico-raciais e o papel de pessoas brancas na luta antirracista. 

"Não se trata apenas de retomar a história, mas de recuperar nossa ancestralidade e aquilo que nos une enquanto povo negro brasileiro", destaca Sílvia Santiago, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e diretora-executiva de Direitos Humanos da Unicamp. Para ela, a temática desta edição do Unicamp Afro é também essencial para a formação dos jovens que passam pela Universidade, já que muitos podem desconhecer essa história. "As conquistas do povo negro são difíceis, lentas e fruto de muito trabalho e dedicação. Não podemos deixar que essa história se perca, pois ela nos fortalece", afirma. 

"Para nós, o futuro é ancestral"

O Batuque de Umbigada é uma manifestação cultural de origem bantu trazida ao Brasil por negros escravizados. Na língua kimbundo, seu nome é Caiumba, que significa "encontro celebrativo ancestral". Os cantos e danças celebram a vida e a fertilidade da mulher contida na simbologia do umbigo. "O umbigo é nossa primeira boca. É por meio do cordão umbilical que se mantém a vida do feto no ventre da mãe", explica Lorena Faria, pesquisadora e membro do grupo Batuque de Umbigada Guaiá, que trouxe a tradição para o encerramento do Unicamp Afro. Nessa dança, homens e mulheres tocam seus umbigos, o que simboliza a geração da vida. "Por isso, o umbigo para nós é sagrado", ressalta. 

No interior de São Paulo, a tradição tem força nas cidades de Piracicaba, Tietê e em Capivari, local de origem do grupo. Ele se formou em torno da liderança da Mestra Anicide Toledo, primeira mulher cantora e compositora do batuque, hoje com 88 anos. A coordenação do grupo é de Marta Joana da Silva. Natural do Paraná, desde 1973 ela é ligada ao batuque. "Não sou nascida em Capivari, mas isso não quer dizer que eu não tenha o batuque no sangue. Sou uma mulher preta, descendente de escravizados. O batuque entrou dentro de mim", compartilha Marta. 

O grupo mantém viva a tradição do Batuque de Umbigada em festas e eventos. Além das músicas e danças, eles também levam histórias e conceitos importantes sobre a ancestralidade negra. Em Capivari, eles se reúnem no Quintal da Dona Marta, espaço cultural que promove a cultura e a educação de novas gerações. Marta reforça que todas as vidas negras têm suas histórias e que a experiência de contá-las a outras pessoas é essencial para sua sobrevivência: "Por que existe a ideia de que batuque é macumba? Porque as pessoas não conhecem a história. É para isso que temos o espaço do Quintal da Dona Marta, para contar nossa história. Cada vida aqui tem uma história para contar, histórias de seu passado, de sua vida e de sua família". 

Abertura oficial do Unicamp Afro aconteceu em 10/11 

A cerimônia de abertura da Unicamp Afro 2021, realizada na quarta-feira (10/11) no auditório do Instituto da Computação (IC), foi uma das mais simbólicas entre todas as edições. Tendo como tema “Reverência para pensar o presente e o futuro”, o evento contou com a presença da engenheira de computação e vereadora de Campinas Paolla Miguel (PT). Negra e em seu primeiro mandato, Paolla foi vítima de ataque racista na Câmara de Vereadores durante sessão da noite de segunda-feira (8 /11), quando defendia, na tribuna, o Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra. A vereadora registrou um Boletim de Ocorrência pelos ataques que sofreu da parte de pessoas contrárias à criação do Conselho. Manifestações de apoio, com representantes de várias entidades sociais, foram realizadas na frente da Câmara de Vereadores de Campinas.

Todas as autoridades presentes na mesa de abertura do Unicamp Afro 2021 declararam apoio e solidariedade à vereadora, entre elas o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, a coordenadora geral, Maria Luiza Moretti, o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, e o promotor do Ministério Público do Trabalho, Rosivaldo da Cunha Oliveira.

Em seu discurso, Paolla parabenizou a Unicamp pela realização do evento e agradeceu as manifestações de solidariedade. Ela, que é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania no Legislativo Municipal, destacou a importância do programa de cotas da Universidade. Para a parlamentar, tal programa tem possibilitado o ingresso de jovens da periferia em uma das melhores instituições do país, onde recebem ensino gratuito e de qualidade. “A Unicamp é exemplo para a região, exemplo que precisamos expandir para todo o Brasil”, disse. Antonio Meirelles. O reitor  informou à vereadora sobre as manifestações de solidariedade a ela, e de repúdio ao ataque, encaminhadas pelos integrantes da Câmara de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPE) e Câmara de Administração (CAD) nas reuniões ocorridas na última terça-feira (9/11).

Para o reitor, a Unicamp tem um papel fundamental na promoção de justiça social, equidade racial e de gênero. “A Unicamp não tem se furtado à sua responsabilidade nesse tema. Além de promover eventos como o Unicamp Afro, desenvolvemos e fomentamos políticas efetivas pela igualdade. A Universidade repudia, em seu meio e como parte da sociedade, qualquer ato de violência como o sofrido pela vereadora Paolla”, ressaltou.

Para a coordenadora-geral, Maria Luiza, com esse evento a Unicamp convida sua comunidade e a sociedade como um todo ao debate sobre um tema de extrema relevância. Luiza destacou, ainda, a importância do empoderamento das mulheres. “Nós, mulheres, sabemos o quanto a sociedade é desigual, mas temos que observar que a mulher negra tem sido ainda mais atacada, entre todos os atos de discriminação”. Dirigindo-se a vereadora, Luiza disse “Mantenha sua força, sua luta, e saiba que juntas venceremos e alcançaremos uma sociedade que respeite a todas e todos”.

Troféu Raça Negra

Em seu discurso, o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, convidou a vereadora Paolla Miguel a receber o Troféu Raça Negra, honraria oferecida pela instituição a personalidades negras que propiciaram exemplos de determinação, trabalho e perseverança na construção de uma sociedade melhor. Vicente convidou o reitor da Unicamp e a coordenadora-geral para a cerimônia de entrega, a ser realizada na cidade de São Paulo. “O que aconteceu com a Paolla, infelizmente, é o Brasil real. Tem muito trabalho a ser feito para mudar essa realidade, e essa mudança tem acontecido pela educação. O que a Unicamp tem feito, nos últimos cinco anos, em favor da inclusão, do respeito e das oportunidades, é mais do que foi feito em 500 anos no Brasil”, apontou.

Participaram ainda da abertura do evento Fernando Antonio Santos Coelho, pró-reitor de Extensão e Cultura, Silvia Maria Santiago, diretora executiva de Direitos Humanos, Luciana Gonzaga Oliveira, presidente da Comissão Assessora de Diversidade Étnico-racial (Cader), Vitor Gonçalves da Silva, estudante de pós-graduação da Unicamp e integrante da Cader, Ademir Silva, representante da OAB-Campinas, e Moacir Benedito Pereira, representante da Associação Atlética Ponte Preta.

O Unicamp Afro 2021 é uma realização da Diretoria Executiva dos Direitos Humanos (DeDH), por meio da Comissão Assessora de Diversidade Étnico-Racial (Cader). Durante todo o mês de novembro, haverá uma série de atividades no formato remoto e presencial. 

Veja mais sobre a programação

Assista ao debate sobre o livro "Racismo Estrutural: uma perspectiva histórico-crítica" que aconteceu na segunda-feira (29).  

Assista ao debate sobre "20 anos da Conferência de Durban e suas repercussões na atualidade", que aconteceu no dia 18 de novembro.  

Para a programação completa, acompanhe a página da DeDH.

Assista o sarau “Preparando o território das atividades”, apresentado e mediado pela professora do Instituto de Artes da Unicamp Gina Aguilar, que aconteceu na terça-feira (9). 

Leia mais: 

Unicamp lança o primeiro Arquivo Brasileiro da Cultura Hip-hop

Assista ao lançamento do I Arquivo Brasileiro da Cultura Hip Hop:

Confira algumas imagens da abertura oficial e encerramento do Unicamp Afro 2021

Abertura oficial do Unicamp Afro 2021
Reitor Antonio José de Almeida Meirelles durante abertura oficial Unicamp Afro 2021
Coordenadora-geral da Universidade Maria Luiza Moretti durante abertura oficial Unicamp Afro 2021
Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, durante abertura oficial Unicamp Afro 2021
Diretora executiva de Direitos Humanos Silvia Santiago durante abertura oficial do Unicamp Afro 2021
Luciana Gonzaga de Oliveira, presidente da Comissão Assessora de Diversidade Étnico-Racial (Cader), durante a abertura oficial Unicamp Afro 2021
Promotor do Ministério Público do Trabalho, Rosivaldo da Cunha Oliveira, durante abertura oficial do Unicamp Afro 2021
Vereadora de Campinas Paolla Miguel durante a abertura do Unicamp Afro 2021
Pró-reitor de Extensão e Cultura Fernando Coelho durante abertura do Unicamp Afro 2021
Vitor Gonçalves da Silva, estudante de pós-graduação da Unicamp, durante abertura oficial Unicamp Afro 2021
Ademir Silva, representante da OAB-Campinas, durante abertura do Unicamp Afro 2021
Promotor do Ministério Público do Trabalho, Rosivaldo da Cunha Oliveira, durante abertura oficial do Unicamp Afro 2021
Batuque de Umbigada encerra programação
Batuque de Umbigada encerra programação
Batuque de Umbigada encerra programação
Batuque de Umbigada encerra programação
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Batuque de Umbigada encerra programação
Imagem de capa
Durante todo mês de novembro haverá debates, lives e saraus com o tema "Reverência à história para pensar presente e futuro"

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004