A fim de estimular a adesão às medidas de prevenção contra a Covid-19, a Unicamp vem realizando intervenções no campus baseadas nas ciências comportamentais. A iniciativa utiliza peças de comunicação para promover hábitos e escolhas saudáveis, orientando sobre o uso correto de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento social. Os locais que já exibem as intervenções são o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), o Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) e a Praça da Paz.
O projeto, parte da cooperação internacional Behavioural Change Initiative (BCI), baseia-se no entendimento de que as escolhas que tomamos não são estritamente racionais e podem ser influenciadas por mudanças sutis no contexto. Isso permite o desenho de alternativas para estimular escolhas saudáveis. No caso, para promover as medidas de prevenção em relação à transmissão da Covid-19, foram desenvolvidos cartazes e outras peças de comunicação com base nos protocolos sanitários definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para chegar ao desenho das peças de comunicação, foi realizado, inicialmente, um diagnóstico dos principais comportamentos a serem trabalhados. Estes comportamentos estão relacionados a alguns vieses identificados pelas ciências comportamentais. Dentre eles está o “viés do presente”, isto é, a tendência de os seres humanos optarem pelo prazer momentâneo no lugar da prevenção de um risco futuro. Já o “enquadramento” se refere ao fato de que as escolhas dependem da maneira como as alternativas são apresentadas aos indivíduos. A “heurística do afeto”, por sua vez, leva em consideração que esse é uma variável importante na tomada de decisões. Outros dois vieses foram identificados como relevantes: o "viés do otimismo", a partir do qual tendemos a minimizar o risco de eventos perigosos ocorrerem conosco e o "viés do comportamento de manada", isto é, a inclinação do indivíduo a se comportar conforme a maioria.
O projeto nasceu de parceria entre o Laboratório de Estudos do Setor Público (LESP), da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, e a empresa portuguesa CLOO Behavioral Insights Unit. As professoras Juliana Arruda Leite e Milena Pavan Serafim são as responsáveis pela cooperação técnica por parte da Unicamp. “Para nós do BCI foi muito importante contar com o total envolvimento dos órgãos parceiros no desenvolvimento do projeto. Destacamos o aprendizado mútuo gerado com esse trabalho. Em breve, iremos apresentar os resultados com relação às mudanças comportamentais, mas sem dúvida já estamos colhendo frutos”, diz Juliana.
A professora Milena frisa o caráter inédito do projeto e a interação com os órgãos e unidades para sua implementação. “É certamente um projeto inédito, tanto do ponto de vista teórico-conceitual quanto do envolvimento das unidades administrativas da Unicamp, e do apoio dos servidores. Conseguimos compreender o comportamento daqueles que utilizam os serviços na Unicamp e elaborar peças de intervenção que os incentivem a cumprir as medidas de compliance sanitário para proteção contra a Covid-19”, afirma.
Para o Lead Behavioral Advisor da CLOO, Henry Nasser, “o BCI tem sido uma ótima oportunidade de geração de conhecimento prático sobre o papel do comportamento humano na adesão aos protocolos sanitários em ambientes abertos e fechados”.
Intervenções no Cecom
No Cecom, as intervenções incluem cartazes com frases que evocam o ganho em seguir o comportamento adequado. “Se você veio acompanhar alguém, você também precisa manter a distância. Assim você garante a sua segurança, a dela e a de todas as pessoas”, ou “Neste local, o protocolo é ‘mantenha a distância e salve uma vida’. Suas ações garantem a nossa segurança!”. Essas frases, diz Juliana, enquadram a questão a partir da perspectiva do ganho para o indivíduo, buscando maior adesão da parte dele.
A fim de evitar o contato direto entre os funcionários e os cidadãos durante o atendimento no guichê, cartazes foram colados nos acrílicos de isolamento do balcão e no chão com a seguinte mensagem: “Fique distante! Eu consigo te ouvir.” Para fomentar o distanciamento adequado nos bancos, avisos foram dispostos nos próprios assentos, em locais próximos a eles e na porta de entrada.
A assessora da Coordenadoria Geral da Universidade e ex-coordenadora do Cecom, Patricia Leme, destaca a importância do projeto no contexto da pandemia. “Em meio a um turbilhão de pensamentos para cumprir ações voltadas ao diagnóstico, assistência e vigilância epidemiológica da Covid-19 nos campi universitários, chegamos em dezembro de 2020 com um grupo disposto a contribuir com o aumento do compliance sanitário em comportamentos preventivos, como o uso de máscara, o distanciamento social e a higiene das mãos com álcool gel. Aprendi que entre receber a orientação e cumpri-la existe um caminho que pode ser percorrido através da Ciência Comportamental”.
Intervenções no Caism
No Caism, uma faixa adesiva foi colocada no chão, logo após as catracas de entrada, com a frase: “Eu me comprometo a Usar a máscara + manter distância". Sua finalidade é estabelecer “pré-compromissos” com os visitantes. Ao cruzar aquela linha, aponta Juliana, os indivíduos são estimulados a se comprometercom a orientação indicada. Figuras ilustrativas de pés e mãos, colocadas nas proximidades dos dispensers de álcool são acompanhadas da seguinte mensagem: “Suas mãos cheirosas e limpas!”, evidenciando os ganhos da utilização do higienizante.
Cartazes também foram dispostos em todo o ambiente. Um deles traz um recado vindo diretamente dos funcionários do Caism: “A equipe deste hospital agradece o seu apoio no combate à pandemia! Continue mantendo a distância, usando máscara e álcool em gel”. Aqui, evoca-se a reciprocidade.
Para a Coordenadora da Divisão de Enfermagem do Caism, o projeto permite pensar em novas intervenções. Ela destaca a importância da iniciativa. “O processo de parceria com a equipe do BCI foi bastante produtivo, e trouxe visões diferentes da maneira de tratar um assunto muito importante na área da saúde, que é a questão da mudança de comportamento. Alguns estudos são conduzidos na área da saúde com o emprego de teorias do comportamento, principalmente em relação à higienização das mãos e à adesão aos bundles para prevenção de infecção hospitalar. No entanto, a adesão é menor e, consequentemente, a mudança de comportamento fica aquém daquela que observamos com a metodologia apresentada pela equipe do BCI”.
Intervenções na Praça da Paz
Por meio de parceria com a Secretaria de Vivência nos Campi (SVC), o projeto foi implementado também na Praça da Paz, tendo em vista que, mesmo no período sem circulação da comunidade interna da Unicamp, o local foi utilizado pela comunidade externa. Pinturas foram feitas no chão buscando estabelecer “pré-compromissos”. Uma delas orienta: “Ao passar desta linha eu me comprometo comprometo a usar a máscara, manter a distância de uma cadeira e usar álcool em gel”.
Outras peças representam a distância de 1,5 m, permitindo visualizar o espaço a ser respeitado. Faixas e cartazes estimulam pedestres e ciclistas a também adotarem o distanciamento, evitando o cruzamento de fluxos no local. Recados da equipe de saúde da Unicamp sinalizam a importância desses profissionais e estimulam a reciprocidade com o seu trabalho. Banners e placas também foram instalados, recordando a necessidade do uso de máscaras no ambiente.
“O Projeto de intervenção na Praça da Paz corroborou na comunicação com a comunidade universitária. Os banners, placas e pinturas estrategicamente colocados em pontos de maior circulação de pedestres contribuíram para a conscientização dos transeuntes quanto às normas sanitárias para a prevenção da Covid-19, como o distanciamento e o uso de máscaras”, avalia o coordenador do SVC, Anderson Manoel Batinga de Araujo.
Confira mais algumas peças de comunicação baseadas em insights comportamentais espalhadas pelo campus: