Há alguns anos, o entendimento do papel social das universidades tem passado necessariamente por questões de gênero. Nesse contexto, surge a Rede Mulheres Acadêmicas da Unicamp. Formada por docentes, pesquisadoras e funcionárias, seu objetivo é propor estratégias que contribuam com a definição de ações institucionais para a equidade de gênero na universidade, neutralizando barreiras e obstáculos enfrentados pelas mulheres na vida acadêmica e na carreira universitária.
Como acontece na maioria dos espaços coletivos, a Rede de Mulheres Acadêmicas da Unicamp nasceu informalmente. O grupo cresceu de maneira orgânica, as pautas surgiram, e foi inevitável a proposta de uma organização em rede.
A Rede de Mulheres Acadêmicas da Unicamp se organiza em sete subgrupos de trabalho, segundo temas como análise quantitativa e qualitativa da representatividade de gênero na Unicamp, diversidade, equidade, inclusão e interseccionalidade no ensino superior. A Rede também conta com um Conselho Executivo com representantes de variadas áreas do conhecimento.
Em sua atuação, a Rede tem como foco algumas frentes: produção de dados e análises, desenvolvimento de ações de divulgação, sensibilização, conscientização e mobilização da comunidade sobre questões de inequidade de gênero e raça nas carreiras, formulação de propostas de mudança no ambiente organizacional e criação de uma comunidade de práticas sobre bem-estar e liderança femininas no ambiente acadêmico.
A proposta é estabelecer um diálogo entre a comunidade acadêmica da Unicamp e as instâncias oficiais e gestão da universidade visando ao aprimoramento da equidade de gênero na Unicamp. Espera-se que a Rede de Mulheres Acadêmicas da Unicamp contribua para aumentar a presença de mulheres em posições de liderança nos órgãos da administração central, que desenvolva disciplinas sobre equidade de gênero e interseccionalidade, e organize eventos abertos sobre o tema, entre outras ações.
No último dia 9 de dezembro, a Rede e a Comissão de Gênero e Sexualidade da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da Unicamp organizaram um debate sobre políticas institucionais de equidade de gênero na vida acadêmica.
Assista:
A Rede surge, especificamente, no contexto da pandemia de Covid-19, quando a discussão sobre a questão atingiu novos patamares na sociedade, e nas universidades em especial. O tema é uma das frentes da Rede ("Gênero e impacto da pandemia na carreira acadêmica na Unicamp"). A literatura já aponta, por exemplo, que mulheres acadêmicas, sobrecarregadas com questões domésticas impostas pela pandemia, tiveram queda de produção científica. Em outros casos, observa-se a dificuldade, já retratada na literatura, de as mulheres migrarem seus temas de pesquisa para um assunto de fronteira como o novo coronavírus. Esses desafios terão efeito prolongado, devendo afetar a carreira acadêmica das mulheres em concursos e progressões por muitos anos.
A busca de diversidade e equilíbrio de gênero é um objetivo prioritário global da Unesco, sendo considerada um princípio fundamental para o desenvolvimento humano, profissional e acadêmico em instituições de ensino superior. A mobilização das universidades em torno dessa pauta prioritária é um fenômeno global, que se intensificou em 2015 com a definição dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU. Os ODS colocaram, entre outros aspectos, a equidade de gênero como uma meta central dos 193 Estados-membros da organização até 2030.
Vale lembrar que a Rede de Mulheres Acadêmicas da Unicamp não está sozinha e, tampouco, isolada. Surge pouco depois de outro coletivo, a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, que agrega milhares de participantes de todo o país. Dialoga também com movimentos que têm ganhado força na academia, como o Parents in Science, grupo formado por cientistas mães (e pais) de todo o país, que, neste ano, ganhou um núcleo regional na Unicamp. Na Unicamp, a Rede tem o apoio da Comissão de Gênero e Sexualidade da Diretoria Executiva de Direitos Humanos.
As universidades, claro, são centrais no desenvolvimento sustentável de qualquer país. A causa de gênero é de todos e, por isso, a Rede Mulheres Acadêmicas da Unicamp nunca foi tão necessária.