O Hemocentro da Unicamp precisa de doações de todos os tipos de sangue. Nas últimas semanas, o estoque de bolsas chegou a um nível crítico. Doações realizadas nos últimos dias começaram a aliviar a situação, mas a direção do serviço de coleta do órgão frisa a importância de que se mantenham contínuas. O Hemocentro é responsável por atender 95% do Sistema Único de Saúde (SUS) da região metropolitana de Campinas.
A doação de sangue é um ato voluntário e ajuda a salvar vidas. Pelo menos três pessoas são beneficiadas com cada bolsa de sangue. A baixa nos estoques vem preocupando bancos de sangue em todo o Brasil. No Hemocentro da Unicamp, que atende a 63 municípios da região, a queda das doações chegou a 80%. O risco do impacto nos atendimentos acendeu o alerta na equipe do Hemocentro, que iniciou ações para estimular a solidariedade.
“Estávamos com uma coleta inferior a mil bolsas por semana e se mantendo em queda, sendo que há uma distribuição de cerca de 1,1 mil bolsas semanais. O Hemocentro atende entre 200 a 300 pessoas por dia. No entanto, houve dias com doações muito abaixo do esperado. Na segunda-feira passada, por exemplo, foram só 60”, conta o diretor do Serviço de Coleta do Hemocentro da Unicamp, Vagner de Castro.
Com ações de divulgação sobre o nível crítico dos estoques, houve um aumento significativo das doações a partir de sexta-feira, 28 de janeiro. O desafio, para o diretor, é que a onda de solidariedade se mantenha, já que os dados de campanhas anteriores indicam que o pico das doações geralmente é efêmero. “Ainda não está bom, mas já deu uma aliviada. A normalização vai depender do que ocorrer nos próximos dias. Sangue não é um produto que se obtém em farmácia, não existe produto sintético que substitua todas as funções do sangue. Por isso, precisamos de doadores”.
A educadora física Rosana Mancini Vieira Balero, de 31 anos, foi uma das pessoas que compareceram ao Hemocentro nos últimos dias. “Tive o exemplo do meu pai em casa, que sempre foi doador. Fiquei sabendo que os estoques estavam baixos e por isso me inscrevi. Estou achando bem tranquilo. É um ato que leva pouco tempo e que pode fazer a diferença na vida de outras pessoas”, conta. Ela também lembra que, ao doar sangue, todos podem fazer o cadastro para serem doadores de medula óssea.
Queda nas doações
A queda nas doações no período de verão já era esperada, já que mais pessoas se encontram de férias. No entanto, para Vagner, o contexto de pandemia, somado à situação do país, tem trazido mais impactos negativos. “Não temos um diagnóstico preciso do porquê isso está ocorrendo agora, mas imaginamos que seja devido à situação sociopolítica e econômica. As pessoas estão preocupadas em sobreviver, em manter seus empregos, e sobra pouco espaço para o altruísmo”, observa.
Quanto às preocupações decorrentes da pandemia, ele ressalta que o Hemocentro é rigoroso nos protocolos sanitários de precaução contra a Covid-19. Ao chegar no local, há um espaço ao ar livre para a espera do atendimento. Na entrada do Hemocentro e em todas as etapas da coleta de sangue, há higienização das mãos. Também é realizada a assepsia das cadeiras entre cada doação e o controle do uso correto de máscaras é rigoroso.
Para evitar aglomerações, as doações também podem ser realizadas mediante agendamento. Ele pode ser feito no site https://agendamento.hemocentro.unicamp.br
Doações precisam ser contínuas
A demanda por sangue é contínua. Necessitam de transfusão de sangue vítimas de acidentes, pacientes cirúrgicos ou de quimioterapia e portadores doenças que afetam a produção adequada de elementos do sangue, como anemia falciforme e cirrose hepática, entre outras. Por isso, é necessário que as doações sejam frequentes.
Segundo dados do Hemocentro, a doação de sangue avançou muito na região de Campinas, mas ainda precisa melhorar. Atualmente, entre 50 a 60% são doadores regulares. Na década de 1990, eram menos de 5%.
Abordar pessoas em hospitais é uma tática ainda utilizada no Brasil. No entanto, explica Vagner, não é o ideal, já que geralmente são momentos delicados para paciente, familiares e amigos.
“Nós evitamos abordar pessoas no hospital, pois é um momento inoportuno, quando há um problema de saúde e preocupação com a vida. Então se todos puderem dedicar aquele tempinho para fazer a doação de sangue, teremos a segurança de que o sangue vai estar disponível e que você não terá que se preocupar quando tiver um problema de saúde”, diz.
Luiz Galvez, de 51 anos, é um dos doadores frequentes do Hemocentro. Ele realiza a doação de plaquetas, por meio do processo chamado aférese. “Eu doo plaquetas todo o mês. A principal motivação é saber que estou ajudando várias pessoas”, relata. Os principais beneficiados são pacientes com doenças que prejudicam a coagulação sanguínea, como a leucemia. Para esse processo, a doação pode ser realizada a cada 15 dias.
Como doar
Para doar sangue, é preciso comparecer no ponto de coleta com um documento de identificação com foto. Inicialmente, é feito um cadastro. Após uma pré-triagem, em que são verificados sinais como pressão arterial, temperatura e peso, é feito o teste de anemia. Em seguida, é realizada uma entrevista em que o profissional analisa os dados da triagem e outras informações do doador. Se aprovado, é feita a doação de sangue, que dura em média 10 minutos. Por fim, é feito o voto de exclusão e oferecido um lanche para o doador.
Os requisitos básicos para a doação são:
- ter entre 18 e 69 anos de idade; são aceitos candidatos à doação de sangue com 16 e 17 anos desde que tenham o consentimento formal e presencial do responsável legal; maiores de 60 anos não podem realizar doação pela primeira vez;
- pesar 50 kg no mínimo;
- estar descansado;
- não estar de jejum; evitar alimentos gordurosos e, após o almoço, esperar três horas;
- não fumar duas horas antes e duas horas depois da doação.
Não é possível doar em casos de histórico de doenças como a hepatite, sífilis e malária, se houver exposição a doenças sexualmente transmissíveis, em caso de gravidez e outras situações que podem ser conferidas aqui.
Em caso de síndromes gripais, deve-se esperar 10 dias após o fim dos sintomas. Já em relação à vacina da Covid-19, no caso da Coronavac é possível realizar a doação após dois dias. Para outras vacinas, é preciso esperar sete dias. Casos de uso de medicamentos e tratamentos são analisados individualmente.
Para homens, deve-se respeitar o intervalo de 60 dias entre doações, com um máximo de quatro doações em um ano. Para mulheres, o intervalo é de 90 dias, com um máximo de três doações por ano.
A doação não traz prejuízo para quem está doando e nem para quem irá receber a transfusão. “É preciso lembrar que cada um de nós é um potencial paciente. Todos correm o risco de precisar de sangue em um momento inesperado. Se você está bem e pode fazer a doação, o sangue vai estar disponível na hora em que precisar. Solidariedade e empatia ajudam muito no sentido de estarmos preparados para quando for necessário”, aponta Vagner.
Pontos de doação
Os locais e horários para doação são:
Hemocentro Unicamp – Rua Carlos Chagas 480, Cidade Universitária, Barão Geraldo
Segunda a sábado, das 7h30 às 15h
Hospital Municipal Mário Gatti – Av. Prefeito Faria Lima, 200, Parque Itália, Campinas
Segunda a sábado, das 7h30 às 13h
Hospital Estadual de Sumaré – Av da Amizade, 2400, Jardim Bela Vista, Sumaré
Segunda a sábado (exceto feriados), das 7h30 às 12h
Hemonúcleo de Piracicaba – Av.Independência, 953, Bairro Alto, Piracicaba
Segunda a sexta, das 7h30 às 13h
Além dos locais de coleta fixos, o Hemocentro também tem um serviço de coleta móvel. São dois ônibus que percorrem Campinas e região. A agenda de coletas pode ser conferida aqui.