Os cursos de graduação da Unicamp passarão a destinar parte da carga horária à extensão universitária. Os estudantes deverão cumprir, no mínimo, 10% da sua carga horária total em atividades integradas à comunidade externa à Universidade, tais como prestação de serviços assistenciais, assessoria, elaboração de projetos e pareceres técnicos, organização de eventos científicos, entre outras. As atividades de extensão serão obrigatórias para os ingressantes a partir de 2023, mas os estudantes que ingressaram em anos anteriores poderão participar das iniciativas.
"Curricularizar a extensão significa inserir, na formação dos estudantes, mecanismos que permitam uma interação mais intensa com a comunidade externa à universidade", define o professor Fernando Coelho, pró-reitor de Extensão e Cultura. O processo de curricularização favorece, segundo ele, um ambiente de aprendizagem mútua: "A sociedade se beneficia dos conhecimentos adquiridos pelos alunos em sala de aula, e os estudantes podem se beneficiar com o que aprendem junto à sociedade".
As adequações necessárias nas grades curriculares dos cursos de graduação devem ocorrer ao longo deste ano. As Pró-Reitorias de Extensão e Cultura (ProEC) e de Graduação (PRG) irão oferecer aos coordenadores de cursos e docentes atividades de formação específicas, como reuniões, cursos e rodas de conversas. O VIII Seminário de Inovações Curriculares, no final de 2021, foi dedicado ao tema, mostrando experiências de sucesso de outras universidades. As pró-reitorias também lançaram um edital de apoio a projetos que integrem o ensino de graduação à extensão.
Segundo o professor Ivan Toro, pró-reitor de Graduação, a inclusão de atividades de extensão nos currículos não implicará aumento da carga horária total dos cursos. A proposta é reorganizar as atividades já oferecidas aos estudantes, com a validação de iniciativas que já ocorrem em algumas unidades e reformulação de outras que podem incorporar o caráter extensionista.
Além de promover o intercâmbio com a comunidade externa, o processo de curricularização também deve facilitar a integração entre diferentes unidades da Unicamp. "É uma oportunidade para sairmos dos muros da Universidade, e também para integrarmos, por exemplo, Medicina e Física, Biologia e Matemática. Elaboraremos projetos em que os alunos não necessariamente permaneçam nas áreas em que atuam, mas que os levem a espaços sociais que sejam importantes, em que eles possam conhecer novas realidades", reflete Ivan Toro.
Mudanças em todas as universidades
A inclusão da extensão universitária nos currículos de graduação obedece à Resolução nº 7,de 18 de dezembro de 2018, do Conselho Nacional da Educação. Ela estabelece os princípios da extensão universitária e seus objetivos, deixando claro seu caráter interdisciplinar e integrado ao ensino e à pesquisa, de forma a promover a formação cidadã dos estudantes e mudanças significativas no ambiente em que eles venham a atuar, assim como no espaço acadêmico.
Ainda de acordo com o texto, esse processo deve ocorrer em todas as instituições de Ensino Superior do país até janeiro de 2023. "Desde os anos 1980, houve tentativas de se colocar em prática o projeto de integrar a extensão universitária ao ensino. Na própria Constituição de 1988 constam diretrizes para isso. A iniciativa foi amadurecendo ao longo dos anos e, em 2018, foi lançada a resolução que estabeleceu as diretrizes para a extensão no Ensino Superior", contextualiza Ivan Toro.
Na Unicamp, a elaboração de projetos extensionistas e sua inclusão em disciplinas dos cursos devem ocorrer ao longo de 2022. A ideia é que o ano seja uma espécie de período experimental, em que a PRG e a ProEC poderão acompanhar os cursos e unidades de ensino, identificando as demandas por apoio na elaboração de projetos e nas adaptações curriculares, e promovendo a troca de experiências entre docentes e coordenadores.
Em 2023, um mínimo de 10% de atividades de extensão nas grades curriculares passa a ser obrigatório a estudantes que ingressarem nos cursos de graduação. Serão consideradas como extensão universitária atividades em que alunos estiverem em contato com a comunidade externa, aplicando seus conhecimentos na solução de problemas, envolvendo-se em todas as etapas de execução. Podem ser serviços assistenciais, assessorias e pareceres técnicos, elaboração de projetos junto a empresas e comunidades, organização de eventos científicos e atividades afins.
Em todas elas, será necessária a participação de um docente da Unicamp, mesmo nos casos em que a iniciativa parta de agentes externos à Universidade, como ações junto a ONGs, por exemplo. Os docentes serão responsáveis por formalizar a integração entre ensino e extensão e validar as horas de trabalho dos alunos a serem computadas pela Diretoria Acadêmica (DAC). Estágios também poderão ser validados como atividades de extensão, desde que as horas ultrapassem o mínimo já exigido pelas disciplinas de estágio obrigatório.
Fernando Coelho acredita que as experiências serão enriquecedoras não apenas para os estudantes, mas também para os docentes e pesquisadores da Universidade. "Em médio prazo, teremos um incremento significativo em nossas pesquisas. Grande parte das atividades extensionistas poderão ser convertidas em projetos de pesquisa. Isso é interessante, porque são atividades que discutem a realidade do país", reflete.
O pró-reitor considera que esses esforços levarão a um aprimoramento de toda a Universidade: "A ideia de curricularização caminha no sentido de aumentar o grau de democratização das universidades. Há conhecimentos nas duas partes envolvidas, ambas dialogam e identificam problemas que podem ser resolvidos aplicando os conhecimentos da universidade e da comunidade. Quando esse processo termina, estudantes e comunidade não são mais os mesmos".